terça-feira, 23 de julho de 2024

A ETIMOLOGIA DE MENERURU, CEMACURE, KENBARERE E WARIDZAM E CRUMNIMNI


Pt.:


 Com a descoberta da relação próximal do Kariri com o Carib do Suriname (Galibi), é finalmente possível dizer com total certeza o que significa o nome do Deus maior dos Kariri que foram anotados por Serafim Leite, Meneruru, o primeiro humano criado por ele, Cemacure, e os dois gêmeos lendários, Kenbarere e Waridzam, e por último, o filho do primeiro homem, Crumnimni, pai de todos os brancos.



MENERURU


 Comecemos com o Meneruru, que ainda possui evidência clara de seu registro no vocabulário Dzubukuá menne ‘ira’, que foi usado pelos cristãos como ira, mas o significado não era exclusivamente hostil, note que no Carib, mene significa ‘mal’, mas também ‘enorme’, não ‘mal enorme’, mas sim duas palavras separadas, o que talvez indique que mene primeiro indicasse ‘grandeza’, antes de passar para significados mais negativos. O que corrobora o uso de ‘enorme’ ao invés de ‘mal’ ou ‘ira’ é a segunda raiz no nome dessa divindade, ruru, que é cognato do Carib tururu ‘massividade, massa caótica’, indicando que, na crença Kariri, Sonsé ou Meneruru era a massa caótica formadora do universo, a pré-existência que deu luz à existência. Portanto:


mene-ruru ‘enorme massa caótica’ > Meneruru ‘Deus que subsiste no ar’ como disse Serafim Leite



CEMACURE


 Cemacure possui um cognato que explica a criação da humanidade, mesmo que o conto hoje não esteja entre nós, esse composto nos indica o que ele poderia ter sido. No Carib existe a palavra samaku, uma espécie de pote de barro que tem mais de um metro de altura, juntando isso com o sufixo -re adjetivizador (de onde derivou o -ri/-li da construção di-...-ri/-li), temos cemacu-re ‘aquele que é cemacu’, indicando que o ser humano não só veio do barro, mas veio da complexidade da técnica do artesão de barro, cujo cronologicamente, o corpo de cemacu teria se quebrado após os Kariri tentarem resgatar seus filhos no céu, dando origem ao humano moderno, que tecnicamente seriam os hemacubuiddhâ ‘cemacus quebrados’ em Dzubukuá.



KENBARERE E WARIDZAM


 Kenbarere muito provavelmente representa um composto entre ke ‘falar’ (de onde surge quedde ‘falar’ no Dzubukuá, sabe-se também que -de ‘dizem que’ é um morfema separável através do Kipeá) + bare ‘forte’ (cognato do Galibi porito, que é normalmente reduzido, como em parì-pe < porito pe) + -re ‘adjetivizador’ (de onde derivou -ri/-li), portanto:


 kẽ-bare-re ‘aquele que fala com força’


 Waridzam muito provavelmente deriva de um cognato do Galibi warijàto ‘cuidar, tomar conta’. Portanto:


waridza ‘aquele que cuida’


 Essas etimologias falam fortemente sobre qualquer conto que poderia derivar desses dois gêmeos, visto que um, tinha ‘fala forte’, pode se entender que ele era mais brusco e direto nos seus comentários, o que fazia com que seu irmão, Waridzam, tivesse que cuidar dele e livrá-lo de qualquer problema que ele se metesse.



CRUMNIMNI


 O filho de Cemacure e sua esposa, cujo nunca é nomeada diretamente, apenas comparada com a Eva cristã, é Crumninim, cujo como argumento desde de minha publicação da listagem de divindades e espíritos da crença Kariri, muito provavelmente não era o único filho do primeiro homem e da primeira mulher, visto Crumninim tinha o propósito de explicar a origem dos europeus, muito provavelmente haviam ancestrais que explicavam a origem não só dos Kariri, mas também de possíveis clãs e outros povos da região ou clãs espirituais. Crumninim muito provavelmente carrega o prefixo kru-/cro- ‘prefixo classificador de rios e qualquer tipo de líquido’, que deriva de um antiguíssimo kuru ‘líquido, água, rio’, visto ainda no município de Paracuru no Ceará e seu rio, o Rio Curu, que é sinônimo do Tupi Pará, que é usado tanto para rios quanto para o mar, portanto:


Cru ‘rio, mar’ + -nĩ ‘nominalizador agentivo’ (cognato do Galibi -nen) + -ni ‘sufixo de adjetivização possessiva’ (cognato do Galibi -ne)


cru-nim-ni ‘marujo, marinheiro’


Fontes:


COURTZ, Hendrik, A Carib grammar and dictionary, 2008




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



Nenhum comentário: