Pt.:
Com as descobertas recentes sobre os padrões fonéticos entre o Wakonã, Xokó e Natú, creio que fique mais fácil revisitar e reconstruir de forma precisa as palavras de introdução no Natú:
Olá, bom dia = de hay wê pa
Derivado do Wakonã derraivêpá ‘bom dia’
Obs.: A construção utiliza de de … pa para construir uma frase imperativa (técnicamente o tom que se passa é do optativo, isso é, desejo), portanto ‘oxalá tenhas um bom dia’.
Hay wê significa ‘bom dia’, note que a ordem indica que os adjetivos (hay ‘bom’) devem vir primeiro e o modificado (wê ‘manhã’) deve seguir o modificador.
A preposição de é cognato do Xerente te ‘marcador de tempo não-passado de segunda e terceira pessoa’, indicando que o Terejê preservou esse sistema, cujo será reconstruído assim:
wa ‘primeira pessoa passado e não-passado’
mô ‘segunda e terceira pessoa do passado’
de ‘segunda e terceira pessoa do não-passado’
Sendo o complexo verbal canônico:
Sujeito agente → Pronomes de tempo → realis/irrealis → Direção → Sujeito paciente → Interrogativo
Ex.: wa/ka/ta → wa/mô/de → cu/do/cê → kra/zu/rôt/kap → a-/wa-/o-/i- → pa
Portanto uma frase com todos esses elementos seria:
wa wa cu zu tê pa ‘eu saio?’
É claro, essa é a frase completa sem ignorar qualquer aspecto do complexo verbal, toda língua falada no mundo, no entanto, busca reduzir o caminho para que a mensagem alcance o ouvinte. Logo de começo é possível eliminar os pronomes de agente da cláusula, que pelo contexto são fáceis de deduzir, e no caso da primeira pessoa é identico, resultando na repetição redundante (wa wa). Também é possível reduzir no presente o realis cu, que não é obrigatório. Portanto:
wa zu tê pa ‘eu saio?’ (wa ‘eu’ + zu ‘sair, movimento centrífugo (de dentro para fora)’ + tê ‘ir’ + pa ‘interrogativo’)
Assim, efetivamente encurtando a frase na prática. A pergunta fica é claro, para quem leu os pronomes de tempo mô e de, que possuem o significado simultâneo de segunda pessoa (tu, você, vós, vocês) e terceira pessoa (ele, ela, eles, elas), para isso, o pronome de agente que vem antes dele pode surgir para desambiguar, mas é claro, a maioria das línguas do mundo tendem a possuir mesmo que um mínimo sistema de inferência, que faz com que os falantes deduzam o contexto da fala sem dar grandes detalhes.
Pense por exemplo, uma mãe chegando em casa depois de ter deixado o almoço pronto para o filho, o filho chega da escola e come a comida, a mãe chega um pouco depois e pergunta:
- comeu ?
E o filho responde
- comi.
Note que no português do Brasil, a conjugação de segunda pessoa (comeste) colapsou e foi substituída pela terceira pessoa (comeu), mas ainda assim, sabemos que a mãe quis dizer ‘tu comeu ?’ e não ‘ele(a) comeu ?’, exatamente por que sabemos o contexto através da inferência, portanto mô e de, funcionam da exata forma, o contexto distingui a segunda e a terceira pessoa.
mô do krâ pa ? ‘comeu ?’
wa do krâ ‘comi.’
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
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