quinta-feira, 25 de julho de 2024

FINALMENTE COMPROVANDO AS CONSOANTES FINAIS DO NATÚ


 Até o presente momento, a única evidência firme das codas do Natú era a palavra zitók ‘estrangeiro’, cujo tók seria uma antiga dupla negação tó-kó ‘não-não’ que foi reduzida para tó-k, essa era a única forma de hipotetizar sobre as codas do Peagaxinã.


 Mas após uma análise do vocabulário Kipeá, vasculhando os termos que são confirmadamente Terejê, cheguei em ki-bu ‘osso do pescoço’, que já analisei no passado como ki ‘osso’ + bu ‘pescoço’. O problema aqui é que bu só pode vir de um vocábulo de uma língua Jê Cerratense, que herdou *mbut, não do Proto-Kariri, que herdou ne ‘pescoço’.


 Como já afirmei no passado também, o Kipeá é a língua que sabemos que interagiu fortemente com o Natú, então a partir daí já é possível extrapolar de onde veio o vocábulo. Porém, a palavra do Jê Central e posteriormente do Proto-Akuwẽ era *butu ou *budu, com a coda de mbut (-t) sendo herdada com uma vogal repetida:


*mbu-t > *mbu-t-u > *bu-t-u ~ *bu-d-u


 Vemos que em algumas palavras, como wanhere, a coda também passava pelo mesmo processo de extensão no Natú (ñe-r-e), mas ela não parece ter sido preservada aqui no bu do Kipeá, minha teoria é de que os Kipeá estavam aproximando sua fala à fala Natú, que na época, provavelmente já demonstrava tendência de redução silábica por conta da sílaba tônica da língua, portanto veríamos algo como *but ‘pescoço’ já presente na fala do Natú Antigo, ao invés do esperado *butu ou *budu.


 Agora temos duas evidências da redução silábica do Natú, e prova de que tal processo é muito mais antigo que o registro da língua no século XX:


*dzi-tó-kó > zi-tó-k ‘estrangeiro’

*budu > but ‘pescoço’.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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