quarta-feira, 25 de setembro de 2024

A TONICIDADE DO DZUBUKUÁ EM COMPARAÇÃO COM O KIPEÁ


Em 2008, Queiroz descreveu que os acentos do Dzubukuá, seja o agudo ou grave, eram usados uniforme e unicamente para representar a sílaba tônica, no entanto venho aqui argumentar o contrário, visto que possuímos dados do Kipeá que contradizem alguns argumentos do autor citado.


 Veja que em Queiroz (2008, p. 91), o autor argumenta que hamodì, escrito com o acento grave, estaria marcando a sílaba tônica em -dì, no entanto, Mamiani registra o cognato dessa palavra como homodi (MAMIANI, 1877, p. 92), sem acento na sílaba final, um indício do autor da gramática e catecismo Kipeá de que a sílaba tônica é paroxítona, contradizendo o argumento de Queiroz e nos dando pistas sobre as funções práticas dos acentos que Nantes utilizou. Ao que parece, Bernardo de Nantes e seus colegas tinham conhecimento da ortografia politônica do Grego Antigo e estavam usando ela a todo vapor no Dzubukuá, indicando que na visão deles, o Dzubukuá era uma língua que fazia distinção tônica, sendo possível que esta fosse uma língua tonal.


 Tal conceito é familiar para os falantes de português brasileiro, visto que fazemos distinção entre *sabe* (SÁ-bì) e *saber* (sà-BÉ), onde a sílaba mais forte, ou tônica, modifica o sentido aplicado na palavra, tal sendo um sistema de dois tons, alto e baixo. O autor Queiroz sustenta o argumento de que o terceiro diacrítico de modificação da pronúncia da vogal seria o circunflexo [^], que de acordo com o argumento de Queiroz (2008, p. 65), representaria voz tremulante (creaky voice), cujo pode-se argumentar ter base em reduções de antigas codas do Proto-Kariri, um exemplo dado foi:


ñâ 'morrer'


 Cujo provavelmente vem de um Proto-Kariri *ñyk 'ser colocado para dormir', cognato ou descendente do Wayana *nyk-ma 'colocar para dormir' (Courtz, 2008, p. 326), indicando que perda de antigas codas e posterior monossilabização do morfema resultam em traços da antiga consoante permeando na vogal:


*nyk-ma > *nyk > *ñyk > *ñak > *ña̤ 'morrer'


Fontes:


Queiroz, Aspectos da fonologia Dzubukuá, 2008, p. 65, 91

Courtz, A Carib grammar and dictionary, p. 326

Mamiani, Arte de Grammatica da lingua brazilica da nação Kiriri, 1877, p. 92




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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