sábado, 5 de outubro de 2024

CORREÇÃO DAS ETIMOLOGIAS DAS PALAVRAS ACOBU


 A palavra casapó 'faca' é do Timbira, de um termo que se origina no Jê Setentrional *kəc 'machado, faca' (NIKULIN, 2020, p. 510), através de uma vogal eco (é o nome dado para o efeito fonético das línguas Jê, onde a vogal principal se repete no final da sílaba, portanto kəc = kəcə (mais ou menos kâtxâ)), com a última palavra sendo *po 'achatado, largo' (NIKULIN, 2020, p. 478), assim *kəc-po > casa-pó 'faca-largo' = 'faca, espada'.


 A palavra azuti 'gado' é derivada de *aĵə-ti 'veado mateiro' (NIKULIN, 2020, p. 507), no sentido em que as línguas indígenas do Brasil evoluem as palavras veado e anta para representarem os animais trazidos pelos europeus.


Catu-coyacá, cujo Nimuendaju estava confuso se era um termo referente aos indígenas ou aos brancos pode ser analisado como um composto Timbira, derivado de um Jê Setentrional de kə 'pele, casca' + *jaka 'branco', portanto kə-jaka 'pele-branca' (NIKULIN, 2020, p. 511), Catu no entanto é nativo do Gamela, sendo, como expliquei antes ca 'existir, aparecer, surgir' + -tu 'agentivo' = ca-tu 'aquele que surgiu'.


Não só isso reafirma, como também reforça o argumento da influência Macro-Jê na fala do povo Gamela, se tornando mais evidente quanto mais ao sul a língua se encontrava, como no caso dos Coroatá de Bertrotopama.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



UM ESTUDO ONOMÁSTICO DOS GAMELA E ANÁLISE DA DIVISÃO LINGUÍSTICA DESTA NAÇÃO


 De acordo com o registro de Nimuendajú, os Gamella de Codó preservaram a palavra que serve de nome para seu último líder, Bertrotopama, que cometeu suicídio ao ver, de uma janela, seu povo sendo injustamente capturado pelas tropas do governo maranhense da época. Estes Gamelas, ou Acobu, são distintos dos Gamela de Viana, pois a palavra do seu líder está apocopada ao extremo em comparação à estrutura CV do Curinsi (Gamela de Viana), possuindo encontros consonantais não vistos no vocabulário deste mesmo documento, que veio de uma anciã do povo Curinsi.


 Pode-se explicar que os Gamela de Codó foram extremamente influenciados pelos Timbira, o município de Codó é vizinho direto do atual município Timbiras ao norte, indicando que os dois povos estavam em contato mais direto do que entre os Gamela de Codó e os Curinsi, assim a palavra Bertrotopama foi truncada foneticamente pois a fonotática local permitia tal processo.


 A palavra Bertrotopama se desconstrói como ber-tro-to-pa-ma, pois as línguas Lokono-Guajiro são morfemicamente monossilábicas.


ber = berwa 'predar, caçar sem fazer barulho' (Bennett, 1989, p. 7)

troto = torodo 'deitar' (lay down, Goeje, 1928, p. 43)

pa = fa 'futuro' (Goeje, 1928, p. 21)

ma = 'potencializador, aquele que pode...' (Goeje, 1928, p. 32)


Bertrotopama 'que poderá predar silenciosamente e matar (lay down)'


A língua de Bertrotopama é caracterizada pela assimilação aos aspectos ds línguas Timbira da região, isso a torna uma língua distinta do Curinsi, o único ramo dessa família presente e perto do município de Codó e no rio Itapecuru eram os Coroatás, os mesmo que viriam a nomear o município de Croatá no Ceará, na região de Ibiapaba, sendo uma das duas divisões dos Gamelas que vieram para o Estado do Ceará, a outra sendo os Poti, que se assentaram no rio Poti.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



A ORIGEM DO QUIECOTTO É ARAWAK


O verbo quiedse 'amarrar', anotada no Dzubukuá não demonstra relação direta com as línguas Caribe ou Terejê, com isso, decidi buscar em outras fontes, e cabei me deparando com a palavra ikíssi-hi 'calendário de corda amarrada', anotado no documento de De Goeje (1928, p. 93), a palavra é derivada de i- 'prefixo nominalizador' + ki 'pessoa/coisa em questão' + si 'ir' > i-ki-si 'coisa em questão que vai, certo tempo, calendário de nós' (GOEJE, 1928, p. 24, 26, 39). Com isso, sabemos agora que a tradição dos quiecotto Dzubukuá veio durante nossa etnogênese, quando os povos que viriam a formar a nação Dzubukuá compartilharam seus conhecimentos entre si, sendo os nós de contagem um deles.


Fontes:


Goeje, The Arawak language of Guiana, 1928




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



quarta-feira, 2 de outubro de 2024

AS LÍNGUAS ACOBU


 A língua Acobu, também conhecida como Curinsi é uma de várias de um grupo linguístico que existiu do Maranhão ao leste do Piauí, especulo aqui que este grupo, assim como os Tremembé de Tutóia até os de Almofala, formassem um contínuo dialetal, argumento aqui que essas línguas eram do mesmo grupo que derivou o Guati e o Aruá.

 

 A partir daqui, iniciarei uma análise lexical das palavras restantes desse grupo linguístico, relembro que o Lokono é uma língua morfemicamente monossilábica, portanto a maioria das palavras se constroem com unidades minúsculas, assim, as construções a seguir são:

 

1) catú 'humano, pessoa', decomposto como ka 'estar presente, aparecer' + -tu 'sufixo agentivo' = ca-tu 'aqueles que surgiram, aqueles que estão presentes' (GOEJE, 1928, p. 24, 43)

 

2) purú 'pênis', decomposto como fu(lli) (< *pu-lli) 'brotar, germinar' + -ru 'sufixo nominalizador' = pu-ru 'coisa de germinar' (GOEJE, 1928, p. 22, 38)


3) cutubé 'cabaça', decomposto como khoto 'comer, comida' + be 'cheio' = cutu-be 'cabaça' (GOEJE, 1928, p. 16, 30)


4) coceáto 'pote de barro', derivado de kakatta 'misturar com as mãos', decomposto como kaka 'mistura' + ta 'verbalizador' = coquea-to 'pote de baro' (GOEJE, 1928, p. 25)


5) casapó 'faca', empréstimo antigo do português espada, compare o Lokono ka-siparra < (siparra (sipada < spada < espada) (GOEJE, 1928, p. 26)


6) sebu 'vulva', derivado de i-si 'genitália' + bu 'em, dentro' = se-bu 'vulva' (GOEJE, 1928, p. 17, 215)

 

7) ceoipé 'árvore', decomposto como ku 'poder, força' + ifi 'grande' (< *ipi) = ceo-ipé 'árvore' (GOEJE, 1928, p. 22, 27)


tomabéto 'grosso(a)', decomposto como to- 'terceira pessoa feminina e inanimada' + ma 'tudo, todos' + be 'cheio' + to 'agentivo' = to-ma-be-to 'aquele que está totalmente cheio, grosso, grande'


 Essas palavras indicam forte relação com o Arawak, dando ênfase nos nomes, percebi que Acobu deriva de uma composição que significa 'entre, no meio de' (ako 'em', GOEJE, 1928, p. 27; bu 'em, sobre, ao lado de, com', GOEJE, 1928, p. 17), talvez implicando que estes se consideravam parte de uma confederação.


Fontes:


Goeje, The Arawak language of Guiana, 1928




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



ORIGEM DE ÑETTO 'AGRADECER, GRATIDÃO' DO DZUBUKUÁ


A palavra Dzubukuá para gratidão, como descrita por Nantes em seu Katecismo Indico, é a palavra ñetto 'considerar', ele usa de forma conjugada:


hi-ñetto 'eu agradeço'


 A palavra é composta de ñe 'respeito' + -to 'providenciar com', assim ñe-tto 'providenciar com respeito, respeitar, considerar, agradecer'


Fonte:


Courtz, A Carib grammar and dictionary, 2008, p. 324

Queiroz, um estudo gramatical da língua Dzubukuá, família Kariri, 2012, p.  135



Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



ETIMOLOGIA DE ENUÑE 'GUARDAR'


A palavra é composta da nossa palavra antiga para olho: enu + ñe 'ver, obedecer', portanto enu-ñe 'vigiar, guardar'



Autor da matéria: Suã Ari Llusan 


ETIMOLOGIA FINAL DE CAYA


Corrigindo minha última proposta etimológica, a partir dos estudos que venho fazendo sobre a interação de povos Aruaques com nossa nação, percebi que Caya não bate com nenhum morfema ou composição Macro-Jê ou Caribe, no entanto, bate perfeitamente com uma composição de morfemas monossilábicos da língua Lokono, sendo estes morfemas:


kha 'tempo, estação, era'

iya 'sombra, imagem'


Assim, temos kha-iya > caya 'tempo das sombras, tempo escuro', portanto 'noite'


Fonte:


Goeje, The Arawak language of Guiana, 1928




Autor da matéria: Suã Ari Llusan