Nos últimos três anos, eu discuti sobre o processo de alçamento vocálico da língua Natú, que é onde a vogal /a/ virou /e/ ou /æ/, como ocorreu no Kipeá de forma bastante produtiva. Mais uma vez, vemos que o Natú demonstra essa mudança em suas próprias palavras, não só nos empréstimos legados ao Kariri.
Pea mudou de um antigo *peha, que antes disso, veio de um pahə, cognato do Xavante pahö (para aqueles que não lembram, ə tem o mesmo som que o a átono ou â com circunflexo), isso demonstra que nesse ambiente, perante a vogal schwa, a vogal /a/ é alçada para /e/, possivelmente por intermédio de um antigo /æ/ (som que Mamiani descreve como intermeio do á e do é aberto).
Mas perceba que esse efeito depende bastante do ambiente, a palavra gaxi, derivada de um cognato do Xavante 'atsi (< *katsi) 'andar', não sofreu essa mudança, mesmo estando perto de uma vogal /i/, uma vogal alta. Talvez seja o caso de não estarmos vendo a pronúncia refletida de forma precisa na escrita, sendo que Peagaxinan pode estar representando um /pe.ægæʃi'næ̃/. Novamente volto naquele argumento de que nós nordestinos temos total ciência do que é esse efeito nas vogais, pois o praticamos todos os dias em nossa fala do português.
Quando dizemos dormir, assimilamos a vogal /o/ para /u/, virando assim durmir, essa prática de assimilação se chama harmonia vocálica, coisa que argumento que o Natú praticava em seus vocábulos.
Autor da matéria: Ari Llusan
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