Manifestações Culturais e Religiosas em Pernambuco no Século XXI: Preservação, Inovação e Resistência Digital
Resumo
Este artigo apresenta uma análise cronológica e descritiva das manifestações culturais e religiosas populares em Pernambuco no século XXI. Aborda desde a valorização institucional de tradições como o frevo e o maracatu nas primeiras décadas, passando pelo impacto das redes sociais e da cultura digital na difusão e resistência dessas expressões, até os desafios enfrentados durante a pandemia da Covid-19. O texto destaca ainda a retomada cultural no pós-pandemia, com o fortalecimento das juventudes, da descolonização dos saberes e da preservação da memória ancestral. Ao longo do século, a cultura popular em Pernambuco tem se reafirmado como instrumento de identidade, resistência e transformação social frente às pressões da mercantilização, intolerância religiosa e exclusão cultural.
Introdução
O século XXI trouxe novos desafios e possibilidades para as manifestações culturais e religiosas em Pernambuco. O avanço das tecnologias digitais, a globalização, as mudanças nas políticas culturais e os novos movimentos sociais influenciaram diretamente a forma como a cultura popular é vivida, representada e transmitida. Nesse cenário, as tradições populares — muitas vezes ameaçadas pela mercantilização ou esquecimento — passaram a utilizar ferramentas contemporâneas para garantir sua preservação, afirmação identitária e reinvenção simbólica. Este texto propõe uma leitura cronológica e descritiva da evolução das expressões culturais e religiosas populares em Pernambuco nas primeiras décadas do século XXI.
Desenvolvimento Cronológico e Descritivo
1. Início do Século (2000–2010): Políticas de Valorização e Cultura como Patrimônio Vivo
Com a criação do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI) e dos registros de bens culturais como Patrimônio Cultural do Brasil, várias manifestações populares passaram a ser reconhecidas oficialmente. Em Pernambuco, o frevo foi registrado como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 2007, e mestres de maracatu, cavalo-marinho, reisado e afoxés passaram a ser contemplados pelo Registro dos Mestres da Cultura Popular.
O início do século também foi marcado por uma forte atuação de ONGs, coletivos culturais e universidades na valorização da cultura popular, promovendo oficinas, festivais e documentação audiovisual. A presença da cultura afro-brasileira ganhou visibilidade com a inserção de estudos étnico-raciais nas escolas (Lei 10.639/2003), possibilitando maior reconhecimento da religiosidade e das tradições de matriz africana.
2. Segunda Década (2010–2020): Cultura Digital, Redes Sociais e Resistência Comunitária
Com a disseminação da internet e das redes sociais, muitos grupos culturais começaram a se comunicar diretamente com o público, divulgando ensaios, cortejos, rituais e entrevistas em plataformas como YouTube, Facebook e Instagram. Essa presença digital permitiu que tradições antes restritas ao espaço físico alcançassem novos públicos e pesquisadores de todo o mundo.
Os terreiros de Xangô e candomblé também passaram a dialogar com o espaço digital, promovendo debates sobre ancestralidade, racismo religioso e espiritualidade em tempos de intolerância. A religião afro-brasileira, muitas vezes alvo de desinformação, encontrou nas redes uma forma de educação e resistência.
Por outro lado, a crescente mercantilização de festas populares, como o carnaval e os festejos juninos, acendeu debates sobre a autenticidade, o protagonismo das comunidades tradicionais e a descaracterização das práticas populares. A criação de editais públicos e leis de incentivo cultural tornou-se fundamental para a sobrevivência dos grupos mais vulneráveis.
3. Pandemia e Reconfiguração Cultural (2020–2022): Silêncio e Reinvenção
A pandemia da Covid-19 foi um dos maiores desafios enfrentados pelas expressões culturais e religiosas no século XXI. As proibições de aglomeração interromperam os cortejos, festas religiosas e apresentações de grupos tradicionais. Muitos mestres e mestras da cultura popular faleceram nesse período, sem que houvesse despedidas coletivas, o que gerou um luto simbólico profundo.
Em resposta, diversos grupos e coletivos se adaptaram ao ambiente digital, promovendo lives, oficinas virtuais, festivais online e documentários sobre suas histórias e saberes. Essa reconfiguração trouxe à tona a importância da memória oral, da gravação de relatos e da formação de arquivos digitais comunitários.
A espiritualidade também se adaptou. Os rituais religiosos passaram a ser realizados de forma mais íntima, mas com transmissões online de cantos sagrados e discussões sobre fé e ancestralidade, fortalecendo redes de solidariedade e resistência espiritual.
4. Pós-Pandemia e Caminhos Atuais (2023–presente): Patrimônio Vivo, Juventudes e Descolonização
A retomada das atividades presenciais após a pandemia foi marcada por reencontros emocionados, reconstrução de redes e fortalecimento de vínculos identitários. O conceito de “patrimônio vivo” ganhou novo sentido, com destaque para a formação de jovens mestres, oficinas intergeracionais e projetos que visam a transmissão de saberes orais e rituais.
As novas gerações, muitas delas indígenas, negras e periféricas, têm se apropriado dos meios digitais para reivindicar protagonismo, narrar suas histórias e promover eventos com foco na descolonização dos saberes. A cultura popular deixou de ser apenas objeto de estudo para se tornar projeto político de resistência cultural.
Terreiros, blocos afro, grupos de coco e maracatu têm fortalecido parcerias com universidades, escolas públicas e movimentos sociais, construindo espaços educativos baseados no respeito à diversidade e à memória ancestral.
Ao mesmo tempo, surgem novos desafios: a intolerância religiosa, o avanço de discursos conservadores, a gentrificação de bairros tradicionais e a ameaça de cortes de verbas para a cultura. Ainda assim, os movimentos culturais populares de Pernambuco continuam firmes na defesa da dignidade, da espiritualidade e da ancestralidade como fundamentos de um futuro mais justo e plural.
Conclusão
No século XXI, as manifestações culturais e religiosas populares em Pernambuco assumem papel estratégico na luta por memória, identidade e transformação social. Frente às novas tecnologias, ao avanço da intolerância e às ameaças da globalização cultural excludente, os povos de tradição têm se reinventado com sabedoria, coragem e criatividade.
A cultura popular deixou de ser vista apenas como folclore para ser compreendida como modo de vida, forma de pensamento, filosofia ancestral e ferramenta de emancipação coletiva. Grupos de maracatu, mestres de cavalo-marinho, terreiros de Xangô, mulheres do coco, juventudes periféricas e artistas populares seguem ecoando as vozes da terra, do sagrado e da coletividade.
A partir das lições do passado e dos desafios do presente, as manifestações culturais e religiosas de Pernambuco continuam pulsando como instrumentos de liberdade, justiça e beleza, lançando suas raízes no futuro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARROS, Edson. Pernambuco: cultura e tradição no século XXI. Recife: Cepe Editora, 2022.
CARVALHO, Suely. Patrimônio vivo: políticas culturais e transmissão de saberes. São Paulo: Cortez, 2019.
COSTA, Ana Lúcia. Entre o terreiro e o Instagram: religiões afro-brasileiras e mídias sociais. Recife: Editora UFPE, 2021.
FRANÇA, Marcelo. Carnaval e mercado: cultura popular e indústria cultural em Pernambuco. Olinda: Edições Libertas, 2018.
SILVA, Jurema. Digitalização da cultura popular: desafios e resistências. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2023.
Autor: Nhenety KX
Utilizando a ferramenta Gemini ( Google ), inteligência artificial para análise da temática e Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho, em 14 de abril de 2025 e a capa dia 3 de maio de 2025.

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