segunda-feira, 14 de abril de 2025

AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DA CAPITANIA DE PERNAMBUCO SÉCULO XVIII









Manifestações Culturais e Religiosas na Capitania de Pernambuco no Século XVIII: Sincretismo, Devoção Popular e Expressões Africanas



Introdução



O século XVIII representou um período de consolidação das estruturas coloniais na Capitania de Pernambuco, com intensificação da economia açucareira, reorganização das vilas e maior controle da Coroa portuguesa sobre as atividades culturais e religiosas. Ainda assim, esse século também foi palco de transformações simbólicas marcadas pelo sincretismo entre elementos católicos, africanos e indígenas. A religiosidade do povo se enraizou nos espaços públicos e domésticos, por meio de festas, procissões, autos, cultos e expressões orais. Novas irmandades foram fundadas, a cultura africana se afirmou nas senzalas e nas ruas, e o cordel popular começou a ganhar forma como instrumento de resistência e memória. Este texto apresenta um panorama cronológico e descritivo das principais manifestações culturais e religiosas do século XVIII em Pernambuco, destacando suas origens e permanências.


Desenvolvimento Cronológico e Descritivo


1. Crescimento das Irmandades Religiosas e Devoção Barroca


Durante o século XVIII, sob a influência do estilo barroco, a religiosidade popular ganhou intensidade por meio da arte sacra, do teatro religioso e das irmandades leigas. Entre as mais importantes, destacam-se a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, a de São Benedito e a de Santa Efigênia — ligadas à população negra. As festas dessas irmandades envolviam música, danças, missas, fogos, oferendas e teatro popular, criando uma religiosidade afro-católica marcada pela resistência. Os templos construídos pelas irmandades tornaram-se centros de vida comunitária, onde a fé cristã era celebrada de forma integrada às culturas de origem bantu, iorubá e mina.


2. Festas Cíclicas e Calendário Popular


O calendário litúrgico católico organizava as festas ao longo do ano, com destaque para as celebrações do Ciclo Natalino (com presépios e pastoris), da Semana Santa (com procissões dramáticas) e do Ciclo Junino (São João, São Pedro e Santo Antônio). Nas zonas rurais, as cavalgadas de fé, ladainhas ao entardecer, terços nas casas e rezas cantadas integravam a devoção diária. No ciclo junino, surgiram elementos como as quadrilhas, os desafios orais e o uso de fogueiras, balões e danças de roda. Essas festas fortaleciam laços sociais e transmitiam valores comunitários, além de abrir espaço para a incorporação de elementos indígenas e africanos.


3. Afirmando a Cultura Africana nas Senzalas e Irmandades


Nas senzalas, as práticas religiosas africanas eram mantidas sob disfarces cristãos. O culto aos orixás era transposto para os santos católicos — Xangô por São Jerônimo, Iemanjá por Nossa Senhora das Candeias, e assim por diante. Ritmos como o coco, o maracatu e o tambor de mina ganharam forma, utilizando instrumentos tradicionais (atabaques, agogôs, xequerês). O Maracatu Nação, em especial, emergiu como forma de cortejo e performance das antigas coroações de reis negros, com suas rainhas, estandartes e baianas de honra. No Recife e em Olinda, essas manifestações tomaram as ruas com vestes simbólicas, música percussiva e gestos de ancestralidade.


4. Cordel, Oralidade e Educação Popular


No ambiente sertanejo e nas feiras, começaram a circular os primeiros folhetos de cordel, influenciados pela tradição ibérica dos romances de cavalaria e das narrativas de santos e milagres. Escritos em versos rimados e metrificados, os cordéis do século XVIII preservavam causos, ensinamentos morais e episódios religiosos. A oralidade foi a principal forma de transmissão dessas histórias, que eram declamadas ao som de rabecas ou violas em espaços públicos. O cordel se consolidou como instrumento de instrução informal e resistência cultural, articulando valores cristãos com a realidade nordestina.


5. Congadas, Reisados e Folias de Reis


Entre as manifestações culturais afro-brasileiras que se expandiram no século XVIII estão as Congadas e os Reisados, rituais que celebravam a ancestralidade africana sob a forma de dramatizações da visita dos Reis Magos ao Menino Jesus. As Congadas, com forte presença em Pernambuco, envolviam cortejos dançantes, vestes coloridas, música de tambores e chocalhos, e personagens como o rei do Congo e seus vassalos. Já o Reisado, com maior presença no interior, mesclava elementos do teatro religioso com a cultura sertaneja, trazendo encenações dramáticas e cômicas, caretas, batalhas coreografadas e loas.


Considerações Finais


O século XVIII em Pernambuco foi um período de expressiva efervescência cultural e religiosa. Em meio ao domínio colonial e à repressão oficial, o povo criou formas autênticas de celebrar sua fé, sua história e sua resistência. A presença africana tornou-se mais evidente nas ruas, nos templos, nas festas e nas práticas cotidianas, contribuindo para a formação de uma identidade cultural sincrética e profundamente enraizada no sagrado.


As festas, irmandades, danças e cordéis não eram apenas entretenimento ou liturgia: eram formas de afirmação simbólica, de pertencimento e de contestação silenciosa ao regime escravocrata. A religiosidade barroca se encontrava com os tambores africanos e os cânticos indígenas, originando uma espiritualidade plural que permanece viva na cultura popular nordestina. Compreender essas manifestações é essencial para preservar a memória ancestral e valorizar a riqueza simbólica das tradições que atravessam os séculos.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 



ALENCASTRO, Luiz Felipe de. História da vida privada no Brasil: Império – A corte e a modernidade nacional. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.


BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia: rito nagô. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1978.


CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global Editora, 2001.


CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: UNESP, 1999.


MELLO, Evaldo Cabral de. O negócio do Brasil: Portugal, os Países Baixos e o Nordeste, 1641–1669. São Paulo: Editora 34, 1998.


PEREIRA, Leonardo Affonso de M. Carnaval e Cultura no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.


SODRÉ, Muniz. A narração do fato: notas para uma teoria do jornalismo. Petrópolis: Vozes, 2009.



Autor: Nhenety KX



Utilizando a ferramenta Gemini ( Google ), inteligência artificial para análise da temática e Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho, em 14 de abril de 2025 e a capa do artigo dia 3 de maio de 2025.






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