quarta-feira, 16 de abril de 2025

O MUNDO MÍTICO E FILOSÓFICO DO TAOISMO CHINÊS





Filosofia, Hierarquia Celeste e Resistência Histórica



Resumo



Este artigo propõe uma análise descritiva e cronológica do universo mítico e filosófico do Taoismo chinês, desde suas origens ancestrais até seu desenvolvimento como religião e filosofia influente na China imperial e contemporânea. Aborda-se a estrutura do panteão celeste taoista, a cosmologia mítica, a formação filosófica dos principais textos canônicos e sua relação com a sociedade chinesa. O estudo também percorre a chegada de outras religiões à China, seu impacto sobre o Taoismo, e sua persistência e reinvenção nos dias atuais. A abordagem revela o Taoismo como um sistema de pensamento e prática espiritual de profundo enraizamento cultural e resistência histórica.


Palavras-chave: Taoismo; Mitologia Chinesa; Cosmologia; Filosofia Chinesa; Religiões na China; Hierarquia Celeste.


Introdução


O Taoismo (Daoismo), uma das três grandes tradições espirituais da China, constitui um complexo sistema de mitologia, religião e filosofia que atravessa milênios de história. Sua origem mistura elementos do xamanismo antigo com reflexões cosmológicas e filosóficas que buscaram harmonizar o ser humano com a ordem natural do universo, o Tao. Este artigo se propõe a traçar uma linha evolutiva do Taoismo desde suas raízes míticas até sua condição contemporânea, ressaltando a estrutura de suas divindades, os princípios filosóficos fundadores e os desafios enfrentados com a chegada de outras religiões à China.


Hierarquias Celestes, Sabedoria Ancestral e Resistência ao Tempo


1. Mundo Cosmológico Mítico do Taoismo


O universo no Taoismo nasce do Tao (Dao) — o “Caminho” ou “Princípio Supremo” — que é eterno, impessoal, anterior à criação e gerador de todas as coisas. O Tao deu origem ao Um, o Um gerou o Dois (Yin e Yang), o Dois gerou o Três (Céu, Terra e Homem), e o Três gerou os Dez Mil Seres.


Hierarquia Celeste e Divindades:


A cosmologia taoista é estruturada numa complexa hierarquia de seres imortais, divindades, deuses, espíritos e ancestrais, formando uma burocracia celestial semelhante à do Império Chinês. Principais entidades:


Tao (Dao) – o princípio supremo, sem forma, origem de tudo.


Sanqing (Três Puros) – Trindade suprema: 


Yuanshi Tianzun (Senhor Celestial do Início Original) – criador do universo.


Lingbao Tianzun (Senhor Celestial do Tesouro Espiritual).


Daode Tianzun ou Laozi divinizado – mestre da sabedoria e do Dao.


Oito Imortais (Ba Xian) – seres que alcançaram a imortalidade por meio do Dao.


Reis Celestiais (Tianwang) e divindades locais (montanhas, rios, estrelas).


Jade Imperador (Yuhuang Dadi) – autoridade suprema da burocracia celestial, desenvolvido mais tarde sob influência confucionista.


2. Cronologia Mítica e Histórica do Taoismo (a.C.)


3000–2000 a.C. – Elementos xamanísticos e cultos animistas antigos (culto aos ancestrais e aos espíritos da natureza).


século XI–III a.C. (Dinastia Zhou) – Formação da cosmologia clássica chinesa. Surgem os conceitos de Qi (energia vital), Yin-Yang, Cinco Elementos (Wuxing).


século VI a.C. – É atribuída a Laozi (Lao-Tsé) a redação do Dao De Jing, base filosófica do Taoismo. Contemporâneo de Confúcio.


século IV–III a.C. – Zhuangzi (Chuang-Tsé) aprofunda o misticismo e o relativismo no Taoismo.


221 a.C. (Império Qin) – Primeira unificação da China. Qin Shi Huang reprime práticas religiosas livres, mas o Taoismo popular sobrevive.


3. Filosofia Taoista (a.C. e d.C.) e a Sociedade


Princípios Filosóficos:


Wu Wei – não-ação ou ação natural, em harmonia com o fluxo do Dao.


Ziran – espontaneidade e autenticidade.


Qi – energia vital que permeia tudo.


Yin-Yang – equilíbrio dinâmico de opostos.


Imortalidade – através de alquimia interna e prática espiritual.


Conexão com a Sociedade:


O Taoismo influenciava a medicina, a agricultura, a astronomia, a arquitetura dos templos, os rituais funerários e a vida cotidiana.


Os sábios taoistas eram consultados por imperadores, e muitos se tornaram mestres espirituais de cortes imperiais.


4. Desenvolvimento Histórico e Transformações Religiosas


Dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.)


Taoismo ganha status religioso e institucional com o surgimento do Taoismo Religioso (Daojiao).


Fundação das primeiras seitas organizadas como os Caminhos dos Mestres Celestiais (Tianshi Dao) por Zhang Daoling.


Dinastias posteriores:


Dinastia Tang (618–907): Taoismo se torna religião oficial. Laozi é cultuado como ancestral imperial.


Dinastia Song (960–1279): Sincretismo com Confucionismo e Budismo. Alquimia interna e práticas meditativas são sistematizadas.


5. Outras Religiões na China – Chegada e Influência (a.C. – d.C.)


O Taoismo, embora profundamente enraizado na cultura e espiritualidade chinesas, teve sua trajetória influenciada pela chegada e disseminação de outras religiões, tanto de origem local quanto estrangeira, ao longo dos séculos.


No século III a.C., o Confucionismo emergiu como uma filosofia política e ética com grande influência na organização social e na moral pública. Fundado por Confúcio, esse sistema de pensamento logo se consolidou como base da estrutura administrativa do Império Chinês, sendo muitas vezes promovido em detrimento de outras correntes, como o Taoismo, embora ambas coexistissem em muitos aspectos da vida cultural chinesa.


No século I d.C., o Budismo chegou à China através da Rota da Seda, vindo da Índia. Sua entrada provocou profundas transformações no panorama religioso chinês. Inicialmente recebido com desconfiança, o Budismo gradualmente se integrou à cultura chinesa, influenciando o Taoismo, com o qual compartilhou práticas meditativas e conceitos metafísicos. Surgiram formas sincréticas como o Budismo Chan (posteriormente conhecido como Zen no Japão), que dialogaram diretamente com o pensamento taoista.


No século VII d.C., o Islamismo foi introduzido na China por meio dos contatos comerciais com mercadores árabes e persas, especialmente durante a Dinastia Tang. Embora tenha permanecido como uma religião de minorias étnicas (como os Hui), sua presença foi tolerada em diversas regiões, especialmente nas cidades portuárias.


Já no século XVI d.C., o Cristianismo fez sua entrada mais significativa por meio das missões jesuíticas, com destaque para o missionário italiano Matteo Ricci. A estratégia de Ricci, baseada na adaptação cultural e no diálogo com os estudiosos confucionistas, permitiu uma relativa aceitação inicial, mas o Cristianismo jamais se tornou popular entre as massas chinesas na Antiguidade e sofreu diversas perseguições nos séculos seguintes.


Nos séculos XIX e XX, especialmente após a abertura forçada da China às potências europeias, novas ondas de Protestantismo e Catolicismo chegaram ao país. Essas missões cristãs ganharam algum espaço, mas foram frequentemente vistas com desconfiança pelas autoridades locais e associadas ao imperialismo estrangeiro.


Por fim, no século XX, com a fundação da República Popular da China em 1949 e o advento do regime comunista, o Ateísmo Estatal foi promovido como ideologia oficial. Durante a Revolução Cultural (1966–1976), templos foram destruídos, práticas religiosas reprimidas, e mestres espirituais perseguidos. O Taoismo, como outras religiões tradicionais, sofreu forte declínio nesse período.


6. O Taoismo Resiste?


Sim, o Taoismo ainda existe e resiste na China, apesar das pressões modernas:


Foi perseguido durante a Revolução Cultural (1966–1976), com destruição de templos e dispersão de monges.


Após as reformas de Deng Xiaoping nos anos 1980, houve reabilitação parcial.


Hoje, o Taoismo é uma das cinco religiões reconhecidas oficialmente pela República Popular da China.


Existem templos ativos, monges taoistas, práticas devocionais e escolas de alquimia interna preservadas, principalmente no sul da China (como nos montes Wudang e Hua Shan).


Conclusão


O Taoismo constitui uma das mais antigas e duradouras tradições espirituais da humanidade. Seu mundo mítico-cosmológico estruturou-se em torno de uma visão integrada do universo e da vida humana, moldando a cultura chinesa em todos os seus níveis. Apesar das perseguições e da concorrência com outras religiões, o Taoismo resistiu, adaptou-se e continua vivo, como religião, filosofia e prática cultural. Em tempos de crise ambiental e busca por sentido, o Taoismo ressurge como uma proposta profundamente relevante para o mundo contemporâneo.


7. Considerações Finais


O Taoismo representa uma das mais antigas tradições espirituais contínuas da humanidade, articulando pensamento metafísico, práticas devocionais e concepções cosmológicas profundamente enraizadas na cultura chinesa. Apesar das adversidades históricas e da presença de outras religiões, o Taoismo demonstrou notável capacidade de adaptação, preservando-se como referência espiritual e filosófica. No contexto contemporâneo, diante das crises civilizatórias e do esvaziamento existencial promovido pela modernidade, seus princípios ecoam como propostas de reconexão com a natureza e com o próprio ser.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 



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ZHUANGZI. O Livro de Zhuangzi. Trad. Giulia Tagliapietra. São Paulo: Edipro, 2016.




Autor: Nhenety KX




Utilizando a ferramenta Gemini ( Google ), inteligência artificial para análise da temática e Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho, em 16 de abril de 2025 e a capa do artigo dia 8 de maio de 2025.





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