quarta-feira, 25 de junho de 2025

GINÁSIO SÃO FRANCISCO






Naquela manhã de julho de 1960, o sol iluminava as margens do rio São Francisco com uma intensidade que parecia pressagiar algo grandioso. Era dia de festa em Porto Real do Colégio, cidade alagoana que despertava para novos tempos. Nas proximidades da praça principal, o povo se aglomerava diante do novo prédio de linhas modernas e paredes recém-pintadas. Ali nascia o Ginásio São Francisco — símbolo de esperança e avanço na educação do município.


Entre discursos e aplausos, o prefeito Ademário Vieira Dantas cortou a fita inaugural. Ao seu lado, líderes comunitários, professores e curiosos sentiam no peito um orgulho incontido. Aquela construção era mais que tijolo e cimento — era o sonho da educação germinando em solo fértil.


Com o passar dos anos, os bancos escolares do ginásio abrigaram os filhos da cidade e dos povoados ao redor. Da 5ª à 8ª série do 1º grau, formaram-se gerações de alunos que aprendiam, brincavam, sonhavam. A partir da década de 1970, os passos firmes dos jovens Kariri-Xocó começaram a ecoar pelos corredores. Saíam da Rua dos Índios em direção ao centro da cidade, de cabeça erguida, para estudar junto aos filhos dos brancos — cruzando fronteiras que antes pareciam invisíveis e intransponíveis.


Nos dias 7 de setembro, a cidade parava para ver o desfile da Independência. Era bonito de ver. Uniformes bem passados, bandeiras em mãos, passos sincronizados ao som da banda marcial do ginásio. O bumbo, os metais, o ritmo da marcha — tudo aquilo fazia o peito vibrar. E, como se não bastasse, o velho ginásio ainda tinha um time de futebol que levava seus estudantes às disputas locais com garra e alegria. Cada partida era uma festa.


Mas como toda construção humana, o tempo foi impiedoso. Em 1985, com a criação do Centro Educacional Professor Ernane Figueiredo, o Ginásio São Francisco começou a perder sua força. Um a um, os estudantes migraram, os sons cessaram, as paredes silenciaram. E hoje, o que resta são ruínas cobertas de poeira e saudade.


Ainda assim, para quem estudou ali, o ginásio vive. Vive no cheiro da terra molhada ao sair das aulas, nos cadernos rabiscados, nas amizades eternas e nos desfiles cheios de orgulho. Talvez um dia, mãos decididas reergam o prédio e a memória que ele guarda. Até lá, o Ginásio São Francisco continuará vivo nas lembranças de um povo que nele aprendeu a sonhar.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




Nenhum comentário: