segunda-feira, 28 de julho de 2025

BESÍ BUCUTÉ, A Fábula do Cachorro Sem Lar






Era uma vez, na bela Ilha de São Pedro, cercada pelas águas do rio Opará, onde o sol beijava as plantações e o vento dançava entre os coqueiros, vivia um povo sábio e alegre: o Povo Xocó. Ali todos viviam em harmonia com a natureza e com os seus animais domésticos, chamados com carinho de keruá.


Entre os keruá, havia um cachorro esperto e leal chamado Bucuté, que corria livre pelas matas e guardava com coragem as roças e os caminhos da aldeia. Ao seu lado viviam Sabucá, o galo altivo; Poió, o gato curioso; Curé, o porco brincalhão; Erintuca, a ovelha mansa; Igaborou, o cavalo ligeiro; Pobifi, a cabra trepadora; Wathõ, o bode valente; e Krêre, o papagaio contador de histórias.


Mas um dia, nuvens escuras cobriram o céu da Ilha. Fazendeiros cobiçosos desejavam as terras sagradas de São Pedro e Caiçara. Vieram com gritos e ameaças, forçando o Povo Xocó a abandonar sua morada.


Com tristeza no coração, os Xocó reuniram seus pertences, subiram na grande canoa Ubáuaçú e seguiram rio a baixo em busca de refúgio na Aldeia Kariri, em Porto Real do Colégio, Alagoas. Todos partiram às pressas, levando os utensílios e os keruá... mas esqueceram-se de um.


Bucuté, o cachorro caçador, estava na mata atrás de um tatu quando tudo aconteceu. Quando voltou, encontrou o silêncio. As redes vazias, as cinzas frias das fogueiras, os rastros das canoas já longe. Seu coração de cão valente se encheu de tristeza. Latia para o rio, chorava para a lua, esperando um reencontro que parecia nunca chegar.


Durante um ano inteiro, Bucuté sobreviveu só, guardando as lembranças do seu povo. Dormia à sombra da jaqueira do cacique e corria pela trilha da saudade.


Até que, certo dia, cortando as águas do rio, uma pequena canoa surgiu entre as margens. Era o Cacique Muirá, que voltava à Ilha para lembrar os encantos do seu povo. Quando viu o velho amigo, Bucuté correu, pulou, latiu de alegria. O reencontro foi tão forte que até os pássaros silenciaram para escutar a emoção.


Muirá acolheu o cão em seus braços e o levou de volta à aldeia, onde todos celebraram o retorno de Bucuté, o keruá fiel, que jamais esqueceu sua gente.


Desde então, na Aldeia Kariri, sempre se conta a história de Bucuté, o cachorro que provou que mesmo quando tudo parece perdido, a saudade pode guiar de volta ao lar.


🌿 Moral da Fábula:


Quem guarda no peito o amor verdadeiro, mesmo perdido encontra o caminho do reencontro.


Autor: Nhenety Kariri-Xocó






Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




Nenhum comentário: