terça-feira, 29 de julho de 2025

BEWOÁ TOKENHÉ SUTUÁ, Os Troncos Antepassados de Árvores







Uma Fábula dos Troncos Antepassados 


Era uma vez, no coração verde da floresta encantada, três sementes de esperança que andavam, brincavam e sonhavam como crianças. Uma delas era Uanie, de pele cor da terra e olhos que refletiam o rio. A outra era Caraí, branca como a flor do algodão. E a terceira era Iró, com os cabelos em caracol e a força do tambor no peito.


Certo dia, as três se encontraram sob a sombra de uma grande árvore e começaram a conversar sobre suas origens. Uanie apontou para o céu e disse:


— Meus ancestrais vivem no jequitibá, árvore frondosa e sábia, que escuta o tempo e fala com o vento. Suas raízes bebem a alma da terra.


Caraí sorriu e respondeu:


— Meus troncos vêm de terras além-mar, onde cresce o carvalho, firme e resistente, que guarda os segredos dos trovões.


Iró, com orgulho, bateu no peito e falou:


— O meu povo nasceu onde dança o sol, debaixo do baobá, o gigante da savana. Seus galhos abraçam histórias que atravessam desertos.


As três olharam uma para a outra, compreendendo que suas árvores eram diferentes, mas todas profundas em raiz, antigas de tronco e generosas de galhos — como famílias que crescem de um mesmo solo.


De repente, desceu dos céus um papagaio de penas verdes, amarelas e azuis, chamado Krêre. Ele trazia consigo mais uma criança: o Caboclinho, que tinha os olhos da floresta, os pés do sertão, o sangue de todos.


Krêre pousou num galho e falou com voz alegre:


— Este aqui é o Beworobé, o filho da mistura sagrada. Ele carrega em si o jequitibá, o carvalho e o baobá. É ele que floresceu da união de vocês e de tantos outros. É o que chamam de povo brasileiro.


As crianças sorriram, deram-se as mãos e dançaram em volta das árvores. E o papagaio, com as cores do céu da pátria, alçou voo como quem leva ao alto a mensagem dos deuses:

Nossas raízes podem ser diferentes, mas é o mesmo vento que balança os galhos.


E desde então, na floresta encantada e nos corações atentos, ecoa a lição:


Quem respeita o tronco dos outros fortalece a floresta do amanhã.


Fim.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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