Era tempo de calor intenso na floresta Retsé. O sol queimava alto no céu e faltavam poucas luas para a chuva chegar. Lá no alto da árvore sutu, o saguim de olhos ligeiros, chamado Ibozoim, deu um grito agudo:
— Buyê Retsé! Fogo na floresta!
Logo o alvoroço se espalhou. Todos os animais – os Kerí – correram como podiam: macaco, cutia, anta, quati, tatu… todos tentando escapar das labaredas que se aproximavam.
Mas entre os animais viviam dois que não tinham a mesma agilidade: o Bicho-Preguiça, chamado Hamo-Inhiconete, e o velho Jabuti Kaplan. Lentos por natureza, não conseguiriam fugir do fogo a tempo.
Foi então que o Veado, Buké – o mais veloz da mata – teve uma ideia. Correu até seu amigo Macaco Kukõj e pediu:
— Ajude-me, irmão! Coloque Hamo-Inhiconete e Kaplan sobre minhas costas. Vou levá-los para longe do fogo!
Kukõj, ágil como sempre, pegou a Preguiça e o Jabuti e os colocou com cuidado nas costas de Buké. E sem perder tempo, o veloz veado correu mata afora, saltando sobre raízes e troncos, até alcançar a margem do grande Rio Opará.
Ali, sãos e salvos, Buké deixou os dois amigos. Pouco depois, chegou Kukõj, ofegante mas feliz.
— Escapamos! Todos juntos, conseguimos! — exclamou.
Desde aquele dia, conta-se nas noites ao redor da fogueira que a verdadeira força da floresta está na união. Quando os mais rápidos ajudam os mais lentos, todos sobrevivem.
Moral da fábula:
Quem ajuda o outro, salva a si mesmo. A união é a força da vida.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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