domingo, 27 de julho de 2025

TUCUNARÉ, A Fábula do Peixe Voraz






Era uma vez, nas águas sagradas do grande rio Opará, uma crise que deixou muitos peixes preocupados. O rio, que antes era farto de peixes "wãmyá", agora estava empobrecido. As barragens construídas pelos humanos haviam mudado o fluxo da vida.


Preocupados com a escassez, os homens trouxeram peixes de longe. Da África veio a Tilápia; do Sudeste Asiático, o Panga; da Amazônia, chegaram o Tambaqui e o temido Tucunaré — um peixe belo, mas de apetite feroz.


Logo, os peixinhos do Opará começaram a desaparecer. O Tucunaré, predador esperto e rápido, devorava sem piedade os alevinos e os pequenos nativos. Entre eles, uma piaba corajosa chamada Lambari viu o perigo e não ficou calada.


— Não podemos permitir isso! — exclamou Lambari.

Reuniu os peixes nativos e procurou o Camurupim, o mais velho e respeitado do rio, para contar o que estava acontecendo.


O Camurupim, sábio e justo, chamou o Tucunaré e falou:


— Forasteiro Tucunaré, entendemos sua natureza, mas aqui, no Opará, há regras. Você não pode devorar os filhotes de outros peixes. Se quiser viver entre nós, coma apenas o necessário e apenas os peixes adultos que sua dieta exige.


O Tucunaré ouviu e, envergonhado, concordou.


Assim, o Opará passou a acolher em harmonia os quatro forasteiros: o valente Tucunaré, o sereno Tambaqui, a ágil Tilápia e o calmo Panga. Aprenderam que cada rio tem suas leis, seu equilíbrio e suas vozes.


E a lição ficou gravada nas águas:


"Nem todo ecossistema é igual. Cada ambiente tem suas regras, e viver em harmonia é respeitá-las."




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



🎣 O TUCUNARÉ NO OPARÁ

Em cordel por Nhenety Kariri-Xocó


No Opará, grande rio encantado,

Onde o peixe era abençoado,

Veio a crise, tristeza e lamento,

Por barragens sem sentimento.

O "wãmyá" sumiu da corrente,

O silêncio era quase pungente.


Com o peixe sumindo do chão,

Trouxeram de fora solução:

Tilápia da África chegou,

O Panga do Oriente aportou,

Da Amazônia vieram também

Dois forasteiros, como ninguém:


O Tambaqui e o Tucunaré,

Mas um deles causou maré...

O Tucunaré, peixe feroz,

Comeu sem medida e sem voz.

Peixinho pequeno engolia,

E os alevinos nem via!


A Lambari, piaba esperta,

Viu que a coisa não estava certa.

Reuniu os peixes do lugar

E foi ao velho Camurupim falar:

— O Tucunaré tá sem razão,

Devorando toda geração!


O Camurupim, com ar respeitável,

Chamou o forasteiro instável:

— Ouça bem, ó peixe voraz,

Se quiser viver em paz,

Coma só o que for necessário,

E adulto, no cardápio diário.


O Tucunaré ouviu calado,

E ficou bem envergonhado.

Prometeu mudar seu caminho

E não devorar mais filhotinho.


Desde então, no rio sagrado,

Cada peixe é respeitado.

Os quatro de fora ficaram,

E com os nativos se integraram.


Opará voltou a sorrir,

E os peixes puderam seguir.

A lição ficou pelo ar:

“Cada rio tem seu lugar.

Nem todo ambiente é igual,

Tem regra, tem ordem natural!”


🌊



Auto: Nhenety Kariri-Xocó 



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