Era uma vez, nas águas sagradas do grande rio Opará, uma crise que deixou muitos peixes preocupados. O rio, que antes era farto de peixes "wãmyá", agora estava empobrecido. As barragens construídas pelos humanos haviam mudado o fluxo da vida.
Preocupados com a escassez, os homens trouxeram peixes de longe. Da África veio a Tilápia; do Sudeste Asiático, o Panga; da Amazônia, chegaram o Tambaqui e o temido Tucunaré — um peixe belo, mas de apetite feroz.
Logo, os peixinhos do Opará começaram a desaparecer. O Tucunaré, predador esperto e rápido, devorava sem piedade os alevinos e os pequenos nativos. Entre eles, uma piaba corajosa chamada Lambari viu o perigo e não ficou calada.
— Não podemos permitir isso! — exclamou Lambari.
Reuniu os peixes nativos e procurou o Camurupim, o mais velho e respeitado do rio, para contar o que estava acontecendo.
O Camurupim, sábio e justo, chamou o Tucunaré e falou:
— Forasteiro Tucunaré, entendemos sua natureza, mas aqui, no Opará, há regras. Você não pode devorar os filhotes de outros peixes. Se quiser viver entre nós, coma apenas o necessário e apenas os peixes adultos que sua dieta exige.
O Tucunaré ouviu e, envergonhado, concordou.
Assim, o Opará passou a acolher em harmonia os quatro forasteiros: o valente Tucunaré, o sereno Tambaqui, a ágil Tilápia e o calmo Panga. Aprenderam que cada rio tem suas leis, seu equilíbrio e suas vozes.
E a lição ficou gravada nas águas:
"Nem todo ecossistema é igual. Cada ambiente tem suas regras, e viver em harmonia é respeitá-las."
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
🎣 O TUCUNARÉ NO OPARÁ
Em cordel por Nhenety Kariri-Xocó
No Opará, grande rio encantado,
Onde o peixe era abençoado,
Veio a crise, tristeza e lamento,
Por barragens sem sentimento.
O "wãmyá" sumiu da corrente,
O silêncio era quase pungente.
Com o peixe sumindo do chão,
Trouxeram de fora solução:
Tilápia da África chegou,
O Panga do Oriente aportou,
Da Amazônia vieram também
Dois forasteiros, como ninguém:
O Tambaqui e o Tucunaré,
Mas um deles causou maré...
O Tucunaré, peixe feroz,
Comeu sem medida e sem voz.
Peixinho pequeno engolia,
E os alevinos nem via!
A Lambari, piaba esperta,
Viu que a coisa não estava certa.
Reuniu os peixes do lugar
E foi ao velho Camurupim falar:
— O Tucunaré tá sem razão,
Devorando toda geração!
O Camurupim, com ar respeitável,
Chamou o forasteiro instável:
— Ouça bem, ó peixe voraz,
Se quiser viver em paz,
Coma só o que for necessário,
E adulto, no cardápio diário.
O Tucunaré ouviu calado,
E ficou bem envergonhado.
Prometeu mudar seu caminho
E não devorar mais filhotinho.
Desde então, no rio sagrado,
Cada peixe é respeitado.
Os quatro de fora ficaram,
E com os nativos se integraram.
Opará voltou a sorrir,
E os peixes puderam seguir.
A lição ficou pelo ar:
“Cada rio tem seu lugar.
Nem todo ambiente é igual,
Tem regra, tem ordem natural!”
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Auto: Nhenety Kariri-Xocó
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