terça-feira, 29 de julho de 2025

IDJÉ CRADZÓ KUKRYT – A Fábula do Encontro do Touro e da Anta






Em tempos distantes, quando o céu ainda escutava as vozes da terra, vivia na caatinga do Opará uma anta forte e silenciosa chamada Kukryt. Ela caminhava entre os espinhos e as trilhas secas, rumo à floresta densa de Retsé, a montanha de árvores que os Tupi chamavam Ybytyra – a sagrada Mata Atlântica.


Enquanto caminhava com passos firmes, Kukryt avistou, pela primeira vez, um estranho animal de grandes chifres e olhos altivos. Era Cradzó, o Touro, recém-chegado do outro lado do mundo.


– Quem é você? – perguntou Kukryt, parando diante do estranho.


– Sou Cradzó, o boi do Velho Mundo – respondeu o Touro, com voz grave. – Fui honrado por babilônios, sumérios, egípcios e gregos. Minha força e minha presença são tão grandes que fui colocado entre as estrelas. Tenho constelações no céu.


Kukryt ergueu a cabeça, firme e serena:


– E eu sou Kukryt, a anta do Novo Mundo, a caça respeitada por povos ancestrais. Sou lembrada em pinturas, cantos e rituais. Também alcancei o céu e tenho minha constelação.


Cradzó franziu o cenho. Kukryt bateu o casco no chão. Cada um queria provar seu valor, e a floresta começou a ecoar o som da teima.


Foi então que apareceu Xáj, o pica-pau de penas vivas e olhar atento. Ele pousou num galho e gritou:


– Parem já com isso! Kukryt e Cradzó, vocês não são inimigos. Ambos vieram da terra sagrada. Ambos vivem no céu das memórias dos povos. Seus caminhos se cruzaram não para competir, mas para ensinar.


Os dois se entreolharam em silêncio.


– Este encontro é sinal de união, não de disputa – continuou Xáj. – Novo e Velho Mundo podem andar juntos. Quando animais se respeitam, os povos aprendem a viver em paz.


Daquele dia em diante, Kukryt e Cradzó passaram a caminhar juntos nas histórias. O Novo Mundo e o Velho Mundo selaram, ali, uma amizade feita de estrelas, sabedoria e respeito.


E até hoje, nas noites claras, se você olhar para o céu, verá a constelação do Touro ao lado da constelação da Anta.


Moral da fábula:

Quando o respeito caminha ao lado da sabedoria, até mundos distantes podem se tornar irmãos.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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