domingo, 27 de julho de 2025

KERÍ MORETSÉ – A Fábula dos Guardiões da Floresta






Há muito tempo, bem antes dos homens caminharem pelas trilhas da terra, existia um reino profundo, verde e mágico chamado Moretsé, o Reino da Floresta. Ali, tudo era vida. Os ventos sussurravam entre as folhas, os rios cantavam canções antigas, e cada ser vivente tinha um papel sagrado.


No coração de Moretsé, viviam os Keríá, os animais da terra; os Wãmyá, os peixes dos rios; e as Ieende, as aves do céu. Cada um com um dom especial dado pela própria Mãe Natureza, chamada de Antse.


A Rainha da floresta era a poderosa Rõti, a Onça. Seu rugido fazia as árvores se curvarem, e seu olhar impunha respeito. Reinava com justiça, protegendo os mais frágeis e mantendo a harmonia.


Mas Rõti sabia que governar sozinha não bastava. Chamou então um Conselho dos Guardiões da Floresta. Vieram todos, cada um com sua virtude:


— Chorecá, a Raposa, trouxe sua astúcia e sabedoria nas decisões.

— Pocro, o Veado-do-Mato, chegou ligeiro, com olhos atentos e pés velozes.

— Kaplan, o Jabuti, andava devagar, mas pensava com profundidade e lembrava das histórias antigas.

— Bruan, a Ema, deslizava como o vento, exibindo a beleza simples da elegância.

— Granharó, o Camaleão, desaparecia aos olhos, mas observava tudo, ensinando o valor do silêncio.

— Kukryt, a Anta, forte como o tronco da gameleira, sempre insistente diante dos obstáculos.

— Kerícohé, o Gambá, cheirava mal aos inimigos, mas bom era em manter a paz por onde passava.

— Wewe, a Borboleta, voava leve entre as flores, ensinando que beleza e delicadeza também são força.

— Krêre, o Papagaio, era o mensageiro da palavra justa, voz do equilíbrio.

— Kukõj, o Macaco, subia nas alturas e descia com ideias novas, mostrando que a brincadeira pode ser sabedoria.


Juntos, decidiram que cada um protegeria a floresta à sua maneira. E assim, sem guerras nem gritos, o Reino de Moretsé se manteve vivo por gerações, em paz com a terra, o ar e a água.


Mas um dia, surgiram passos desconhecidos. O som de machados e fumaça pairou no ar. Os Guardiões se reuniram novamente. A Rainha Rõti disse:


— Só venceremos esse novo perigo se cada um usar sua virtude com coragem e união. A floresta é de todos, e todos devem lutar por ela.


E assim fizeram. Com astúcia, força, beleza, paciência e diplomacia, os animais enfrentaram os invasores. Alguns foram embora, outros aprenderam com os bichos e passaram a ouvir a voz da floresta.


Desde então, Moretsé ainda respira, pois seus guardiões nunca dormem. E se um dia você entrar no coração da mata e escutar um rugido, um canto ou um farfalhar entre os galhos, saiba: os Keríá ainda vivem lá — guardando o mundo da vida.


Moral da Fábula:


Cada ser tem sua importância. A força verdadeira nasce da união das diferenças, do respeito pela natureza e da sabedoria de viver em equilíbrio com a terra.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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