domingo, 27 de julho de 2025

XÕN-NAƝE, O Urubu-Rei e a Limpeza do Mundo






Uma fábula de sabedoria ancestral


Dizem os mais velhos que, quando os homens começaram a ferir a Mãe-Terra com suas máquinas, derrubadas e fogueiras, algo terrível começou a acontecer. As florestas choravam com os troncos tombando, os rios se engasgavam com a sujeira, e o céu se tornava pesado de fumaça.


Do alto, observando tudo com seus olhos profundos, estava Xõn-naɲe, o Urubu-Rei, o Chefe de todos os urubus. Ele morava nas alturas, onde os ventos são livres, mas seu coração batia forte por tudo que vive e respira.


Vendo tanta destruição, Xõn-naɲe bateu suas grandes asas e chamou uma assembleia nos céus.


— Irmãos de penas, o mundo está doente. Os homens esqueceram o respeito pela Terra. Mortes, doenças e podridão tomam conta dos campos e cidades. É hora de voarmos em união e limparmos o mundo, como nossos ancestrais sempre fizeram.


Atenderam ao chamado:


Xõn-tsebu-iró, o Urubu-de-cabeça-preta, forte e silencioso como as noites sem lua;


Xõn-tsebu-cutçu, o Urubu-de-cabeça-vermelha, veloz como o fogo que consome a mata;


Xõn-tsebu-erã, o Urubu-de-cabeça-amarela, sábio como o sol do entardecer;


Xõn-retsé, o Urubu-da-mata, guardião dos cantos escondidos da floresta.


Juntos, planaram sobre os lugares mais esquecidos, limparam os restos deixados pela guerra dos homens contra a natureza. Mas não foi fácil. Os céus estavam cheios de máquinas voadoras que não respeitavam o caminho das aves. Ainda assim, os urubus persistiram, pois sabiam que, se não fizessem sua parte, o mundo afundaria ainda mais na sujeira e na doença.


Ao final da grande missão, Xõn-naɲe pousou no topo da montanha mais alta e, com voz firme como o trovão, falou:


— Irmãos, vocês foram corajosos. Enquanto houver urubus no céu, ainda há esperança de limpeza, de renascimento. Somos feios aos olhos dos homens, mas somos guardiões do equilíbrio.


E assim, os urubus voltaram a seus voos sagrados, silenciosos e atentos, esperando o dia em que os homens voltem a ouvir o sussurro da Terra.


Moral da fábula:

Mesmo os seres mais desprezados podem ser os grandes guardiões da vida. Quem cuida da Terra com coragem e união, mantém o mundo vivo.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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