quinta-feira, 24 de julho de 2025

SITÉ KERUÁ, A Fábula dos Animais Domésticos






A Fábula Encontro dos Animais Domésticos e Silvestres 


Há muito tempo, quando o sol ainda acordava devagar sobre o Rio Opará, os ventos sopraram uma mudança. Vieram navegando os "caraí", homens de além-mar, trazendo em suas canoas sementes brilhantes que diziam crescer alto como a esperança. Mas o que mais espantou os povos da mata não foram as sementes, foram os estranhos seres que os acompanhavam — animais que não conheciam as florestas, os campos ou os rios.


Eram os Keruá Sité, “os animais que vieram”:

– o Curé, porco de focinho inquieto;

– o Tute, pombo de asas macias;

– a Erintuca, ovelha de lã fofa;

– o Poió, gato de olhos de lua;

– o Igaborou, cavalo que dançava com o vento;

– o Sabucá, galo que cantava para o sol;

– o Bucuté, cachorro de faro esperto;

– a Pobifi, cabra que saltava rochas;

– e o Kradzo, boi de força silenciosa.


Esses keruá não corriam livres como os Keruá Retsé, os animais da floresta. Viviam presos em cercas, amarrados por cordas, vigiados pelos caraí.


Os Keruá Retsé:


Um dia, antes mesmo da aurora abrir os olhos, o Sabucá cantou alto, rasgando o silêncio da mata. Todos os animais silvestres estremeceram. O Pãn Cracú, a arara-azul mensageira do céu, voou até o canto e encontrou os novos animais. Curiosa e sem medo, pousou diante do galo:


— Quem és tu que canta para o sol antes mesmo dele nascer? — perguntou a arara.


O Sabucá respondeu, batendo as asas:


— Sou o arauto do dia. Trago comigo o tempo novo.


Intrigada, a arara chamou os outros animais da floresta: o veado, o macaco, a anta e o tamanduá. Foram todos ver os visitantes. E, para surpresa de todos, não houve briga nem temor. Houve silêncio. Depois, um gesto simples: o Bucuté abanou o rabo, o Poió ronronou, e o Igaborou baixou a cabeça em respeito.


Os Keruá Retsé:


- Arara-azul ( Pãn-cracú );

- Veado ( Buké );

- Tamandoá  ( Hazú );

- Raposa ( Chorecá );

- Urubu ( Xõn );

- Coati ( Bizaui );

- Camaleão ( Granharó );

- Anta ( Kukryt );

- Gambá ( Kerícohé ).


Desde aquele dia, os animais da casa e os animais da mata aprenderam a viver lado a lado. Keruá Sité e Keruá Retsé, diferentes, mas agora irmãos da mesma terra.


Vivem assim até hoje, ensinando aos humanos que é possível compartilhar o chão sagrado da vida — mesmo vindo de mundos distintos.


Moral da fábula:

Quando o respeito é o primeiro canto do dia, até os que vêm de longe encontram lugar no coração da terra.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




Nenhum comentário: