A Fábula Encontro dos Animais Domésticos e Silvestres
Há muito tempo, quando o sol ainda acordava devagar sobre o Rio Opará, os ventos sopraram uma mudança. Vieram navegando os "caraí", homens de além-mar, trazendo em suas canoas sementes brilhantes que diziam crescer alto como a esperança. Mas o que mais espantou os povos da mata não foram as sementes, foram os estranhos seres que os acompanhavam — animais que não conheciam as florestas, os campos ou os rios.
Eram os Keruá Sité, “os animais que vieram”:
– o Curé, porco de focinho inquieto;
– o Tute, pombo de asas macias;
– a Erintuca, ovelha de lã fofa;
– o Poió, gato de olhos de lua;
– o Igaborou, cavalo que dançava com o vento;
– o Sabucá, galo que cantava para o sol;
– o Bucuté, cachorro de faro esperto;
– a Pobifi, cabra que saltava rochas;
– e o Kradzo, boi de força silenciosa.
Esses keruá não corriam livres como os Keruá Retsé, os animais da floresta. Viviam presos em cercas, amarrados por cordas, vigiados pelos caraí.
Os Keruá Retsé:
Um dia, antes mesmo da aurora abrir os olhos, o Sabucá cantou alto, rasgando o silêncio da mata. Todos os animais silvestres estremeceram. O Pãn Cracú, a arara-azul mensageira do céu, voou até o canto e encontrou os novos animais. Curiosa e sem medo, pousou diante do galo:
— Quem és tu que canta para o sol antes mesmo dele nascer? — perguntou a arara.
O Sabucá respondeu, batendo as asas:
— Sou o arauto do dia. Trago comigo o tempo novo.
Intrigada, a arara chamou os outros animais da floresta: o veado, o macaco, a anta e o tamanduá. Foram todos ver os visitantes. E, para surpresa de todos, não houve briga nem temor. Houve silêncio. Depois, um gesto simples: o Bucuté abanou o rabo, o Poió ronronou, e o Igaborou baixou a cabeça em respeito.
Os Keruá Retsé:
- Arara-azul ( Pãn-cracú );
- Veado ( Buké );
- Tamandoá ( Hazú );
- Raposa ( Chorecá );
- Urubu ( Xõn );
- Coati ( Bizaui );
- Camaleão ( Granharó );
- Anta ( Kukryt );
- Gambá ( Kerícohé ).
Desde aquele dia, os animais da casa e os animais da mata aprenderam a viver lado a lado. Keruá Sité e Keruá Retsé, diferentes, mas agora irmãos da mesma terra.
Vivem assim até hoje, ensinando aos humanos que é possível compartilhar o chão sagrado da vida — mesmo vindo de mundos distintos.
Moral da fábula:
Quando o respeito é o primeiro canto do dia, até os que vêm de longe encontram lugar no coração da terra.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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