segunda-feira, 25 de agosto de 2025

CANAPUGUAÇU, O Mero-preto Senhor da Pedra Marinha






A Fábula do Mero Senhor da Pedra


Há muito tempo, nas profundezas do Atlântico, vivia um peixe de tamanho colossal, com o corpo manchado como nuvens que flutuam sobre o céu. Seu nome era Canapuguaçu, e todos os habitantes do oceano sabiam: ele era o senhor das pedras, protetor das cavernas e recifes, o Epinephelus itajara, respeitado por sua força e sabedoria.


Enquanto os peixes menores nadavam apressados e inquietos, Canapuguaçu deslizava lentamente entre os corais e pedras, observando com atenção cada movimento. Sua presença inspirava respeito: os cardumes aprendiam a escolher abrigo e alimento com cuidado, pois aquele que comandava as pedras sabia onde o perigo espreitava.


Certa vez, os habitantes do mangue, nativos e pescadores, se aproximaram das águas para estudar o que viam. Eles se maravilharam com o tamanho imenso de Canapuguaçu, o peixe que parecia abraçar o oceano com seu corpo volumoso. Para os povos da floresta e do litoral, ele era símbolo de fartura e força, e ninguém se atrevia a capturá-lo sem respeito.


Um dia, uma jovem índia chamada Arani se aproximou das águas para observar o gigante. Ela sussurrou palavras antigas em tupi:


“Ô Canapuguaçu, senhor das pedras, ensina-nos a cuidar das águas que nos alimentam.”


O peixe, como se entendesse cada palavra, nadou até a borda da rocha mais alta e deixou que Arani visse seu ninho entre as pedras. Ali, ela compreendeu que a grandiosidade não está apenas no tamanho, mas no cuidado e proteção que Canapuguaçu oferecia a todos os seres do oceano.


Desde então, o mero-preto passou a ser mais do que alimento: tornou-se guia e guardião da cultura local, lembrando aos homens e mulheres que o respeito à natureza garante a fartura e a vida de todos. E assim, nas águas profundas, Canapuguaçu continua a ser o senhor das pedras, entre nuvens de água e de sabedoria, ensinando que a grandiosidade verdadeira vem do equilíbrio entre força e cuidado.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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