terça-feira, 26 de agosto de 2025

SERIEMA E A COBRA OCULTA






A Fábula da Ave Comedoura de Serpentes 


Nos campos abertos do Cerrado, onde o vento dança com os capins dourados, viviam muitos animais em constante temor. As serpentes, silenciosas e traiçoeiras, rastejavam entre as sombras, espalhando medo por onde passavam.


Um certo dia, uma jovem lebre corria feliz quando quase caiu sobre uma cobra enrolada na beira da trilha. O grito da lebre ecoou, e os bichos se reuniram, todos em alvoroço.


— Quem poderá nos defender dessas serpentes que se escondem? — perguntava o tatu, preocupado.

— Eu corro rápido, mas não posso lutar contra elas — lamentava a ema.

— Eu só posso me esconder na toca — disse o preá.


Foi então que surgiu a Seriema, altiva, com sua crista erguida e olhos atentos que viam além da distância. Caminhou entre os bichos e, sem se envaidecer, falou em tom firme:


— Não se vence o perigo com medo, mas com coragem e sabedoria.


Ao ouvir o sussurro da cobra escondida, a Seriema avançou. Com suas garras firmes, agarrou a serpente e, em golpes certeiros contra uma pedra, a dominou. O silêncio se fez, seguido do canto forte da ave que ecoou pelos campos, como se anunciasse a vitória da vida sobre o veneno oculto.


Os animais ficaram maravilhados. A lebre se aproximou e perguntou:

— Seriema, não tens medo do veneno da cobra?


A ave respondeu, com calma e dignidade:

— O medo é a sombra que paralisa. Mas a coragem é a luz que abre caminhos. Cada ser tem seu papel: o tatu cava a terra, a ema espalha as sementes, o preá alimenta a floresta, e eu vigio os campos. Assim, juntos, mantemos o equilíbrio da grande aldeia da natureza.


E desde aquele dia, sempre que o canto da Seriema ecoava ao longe, os animais sabiam que estavam sendo guardados.


🌾 Moral da Fábula


Na aldeia da natureza, cada ser tem sua missão. A coragem vence o medo, e o equilíbrio se mantém quando cada um cumpre o seu papel.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




SERIEMA, A Comedoura de Serpentes 


( Versão em Cordel  )


Nos campos do nosso chão,

Do cerrado brasileiro,

Mora a Seriema altiva,

Cantora e grande guerreiro.

Com seu penacho erguido,

Vigia o mundo inteiro.


Entre pedras e capins,

A serpente se escondia,

Trazendo medo aos bichinhos,

Que viviam todo dia.

Mas a Seriema sabia,

Quando a cobra aparecia.


A lebre quase tropeça,

Num veneno traiçoeiro,

Grita alto e pede ajuda,

Chama o povo do terreiro.

Eis que a Seriema chega,

Com olhar firme e certeiro.


“Não se vence o mal com medo,

Nem fugindo sem razão,

Se enfrenta com a coragem,

E também com atenção.

Cada ser tem sua parte,

Na grande aldeia do chão.”


Com as garras agarra a cobra,

Bate forte contra a pedra,

E o silêncio vira canto,

Que no campo se celebra.

Os bichinhos agradecem,

Pois a vida se preserva.


Assim ficou conhecida,

Na história e na gente:

Guardadora dos caminhos,

Vigilante persistente.

A Seriema altaneira,

Comedora de serpente.


🌾 Moral do Cordel


Quem vigia com coragem

Afasta o mal de repente;

Na aldeia da natureza

Cada um é resistente.

A Seriema nos ensina:

Há valor em cada ente.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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