A Fábula da Ave Comedoura de Serpentes
Nos campos abertos do Cerrado, onde o vento dança com os capins dourados, viviam muitos animais em constante temor. As serpentes, silenciosas e traiçoeiras, rastejavam entre as sombras, espalhando medo por onde passavam.
Um certo dia, uma jovem lebre corria feliz quando quase caiu sobre uma cobra enrolada na beira da trilha. O grito da lebre ecoou, e os bichos se reuniram, todos em alvoroço.
— Quem poderá nos defender dessas serpentes que se escondem? — perguntava o tatu, preocupado.
— Eu corro rápido, mas não posso lutar contra elas — lamentava a ema.
— Eu só posso me esconder na toca — disse o preá.
Foi então que surgiu a Seriema, altiva, com sua crista erguida e olhos atentos que viam além da distância. Caminhou entre os bichos e, sem se envaidecer, falou em tom firme:
— Não se vence o perigo com medo, mas com coragem e sabedoria.
Ao ouvir o sussurro da cobra escondida, a Seriema avançou. Com suas garras firmes, agarrou a serpente e, em golpes certeiros contra uma pedra, a dominou. O silêncio se fez, seguido do canto forte da ave que ecoou pelos campos, como se anunciasse a vitória da vida sobre o veneno oculto.
Os animais ficaram maravilhados. A lebre se aproximou e perguntou:
— Seriema, não tens medo do veneno da cobra?
A ave respondeu, com calma e dignidade:
— O medo é a sombra que paralisa. Mas a coragem é a luz que abre caminhos. Cada ser tem seu papel: o tatu cava a terra, a ema espalha as sementes, o preá alimenta a floresta, e eu vigio os campos. Assim, juntos, mantemos o equilíbrio da grande aldeia da natureza.
E desde aquele dia, sempre que o canto da Seriema ecoava ao longe, os animais sabiam que estavam sendo guardados.
🌾 Moral da Fábula
Na aldeia da natureza, cada ser tem sua missão. A coragem vence o medo, e o equilíbrio se mantém quando cada um cumpre o seu papel.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
SERIEMA, A Comedoura de Serpentes
( Versão em Cordel )
Nos campos do nosso chão,
Do cerrado brasileiro,
Mora a Seriema altiva,
Cantora e grande guerreiro.
Com seu penacho erguido,
Vigia o mundo inteiro.
Entre pedras e capins,
A serpente se escondia,
Trazendo medo aos bichinhos,
Que viviam todo dia.
Mas a Seriema sabia,
Quando a cobra aparecia.
A lebre quase tropeça,
Num veneno traiçoeiro,
Grita alto e pede ajuda,
Chama o povo do terreiro.
Eis que a Seriema chega,
Com olhar firme e certeiro.
“Não se vence o mal com medo,
Nem fugindo sem razão,
Se enfrenta com a coragem,
E também com atenção.
Cada ser tem sua parte,
Na grande aldeia do chão.”
Com as garras agarra a cobra,
Bate forte contra a pedra,
E o silêncio vira canto,
Que no campo se celebra.
Os bichinhos agradecem,
Pois a vida se preserva.
Assim ficou conhecida,
Na história e na gente:
Guardadora dos caminhos,
Vigilante persistente.
A Seriema altaneira,
Comedora de serpente.
🌾 Moral do Cordel
Quem vigia com coragem
Afasta o mal de repente;
Na aldeia da natureza
Cada um é resistente.
A Seriema nos ensina:
Há valor em cada ente.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Nenhum comentário:
Postar um comentário