sábado, 9 de agosto de 2025

XEPRE KAYÁ, O Vampiro da Noite






Uma Fábula do Vampiro da Noite


Nas profundezas das florestas brasileiras, onde a escuridão se esconde em cavernas e grutas, vivia Xepre Kayá, um morcego vampiro astuto e silencioso. Alimentava-se do sangue de outros animais — às vezes de mamíferos, outras vezes de aves — mas sempre agia com tanto cuidado que a vítima mal percebia sua visita.


O maior vampiro de todos é o Morcego-espectral, conhecido popularmente como Morcego-fantasma-grande, os indígenas Tupi chamam de Andirá-guaçu. 


Numa noite de luar prateado, Caburé, a velha coruja, pousou sobre um galho alto e anunciou com seu canto pausado:

— Cuidado, irmãos da floresta! O Xepre já desperta!


O veado, a anta e o macaco estremeceram. Até os animais domésticos — o cavalo, a cabra e o boi — ouviram o aviso e buscaram abrigo. Mas nem todos prestavam atenção às palavras da coruja. E quando isso acontecia, Xepre surgia voando, rápido e silencioso como a sombra, pousava na vítima e saciava sua fome. Ao amanhecer, sempre ficava a marca: um pequeno corte no pescoço e um círculo de sangue seco, denunciando que o Vampiro da Noite passara por ali.


Nos tempos antigos, quando a floresta era imensa e intacta, Xepre nunca tocava os humanos. Havia alimento de sobra na vida selvagem. Mas com o passar dos anos, os homens brancos, que ele chamava de Caraí, começaram a derrubar árvores, abrir estradas e caçar sem medida. O alimento foi rareando.


Foi então que Xepre passou a voar cada vez mais perto das cidades. Seu instinto dizia: “Se não encontro sangue na floresta, buscarei onde houver.” E assim, na calada da noite, começou a visitar os próprios homens que destruíram seu lar.


E, desde então, toda vez que um animal ou pessoa encontrava no espelho uma pequena marca no pescoço, já sabia: o Vampiro da Noite estivera ali.


Moral: Quem destrói a morada dos outros, um dia encontrará o visitante que chamou para si.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



XEPRE KAYÁ, O Vampiro da Noite 


( Versão em Verso e Rima – Estilo Conto Oral )



Nas brenhas da mata escura,

num silêncio sem igual,

vive o morcego Xepre Kayá,

medonho, mas natural.

Se alimenta de sangue quente,

bicho ou ave, é igual.


Quando a lua sobe alta

e a floresta se acalma,

a coruja Caburé avisa

com sua voz que não engana:

— Se escondam, meus companheiros,

que o vampiro já levanta a asa!


O veado foge ligeiro,

a anta corre pro brejo,

o cavalo, a cabra e o boi

se resguardam, todos atentos.

Mas quem não ouve o conselho

sente no pescoço o tormento.


Xepre voa em silêncio,

como sombra que não se vê.

Pousa leve, suga o sangue,

e a vítima nem crê.

Só no dia seguinte descobre

pela marca que o mordeu.


Antigamente era diferente,

na mata havia fartura,

não faltava alimento

e reinava a criatura.

Mas o homem branco chegou

derrubando a selva pura.


Sem árvores e sem caça,

o morcego mudou seu rumo,

passou a buscar nas cidades

o alimento de que faz uso.

E morde até quem destruiu

a floresta, sem nenhum susto.


Por isso, amigo, escute

e grave bem esta lição:

quem tira o lar do outro

atrai pra si a aflição.

E o Vampiro da Noite

vai cobrar com precisão.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó




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