terça-feira, 12 de agosto de 2025

YAWARA YBYTYRA, Antepassados dos Animais






Uma Fábula dos Antepassados dos Animais 


No coração da mata, onde o canto dos pássaros mistura-se ao sussurro dos rios, vivia o jovem Marã. Ele nasceu na aldeia, cresceu aprendendo com as árvores, com os animais e com as histórias dos mais velhos.

Mas havia uma sede em seu espírito: queria entender como tudo começou.


Marã estudou na escola da aldeia, depois foi para a cidade e entrou na universidade. Tornou-se biólogo e, ao concluir seus estudos, preparou um grande trabalho sobre a evolução das espécies segundo a ciência de Charles Darwin.


Um dia, voltou para a aldeia com o diploma na mão e o coração cheio de dúvidas. Procurou o ancião Anawá, o mais velho e sábio da comunidade.


— Anawá, estudei muito sobre a vida dos animais, mas quero ouvir a história que o vento contou aos nossos antepassados.


O velho sorriu, com olhos que pareciam carregar séculos de memórias.


— Marã, para nós, tudo começou no mar Pará. Lá nasceram os Yñanduguasu, a grande teia da água, que vocês chamam de águas-vivas. Depois vieram os Itá-memby, filhos da pedra, os corais.

O tempo passou, e surgiram os Ybyrákuarim, pequenas varas escondidas na água, que são os animais marinhos lanceletes.


— Então vieram os Pirá — continuou o ancião — os peixes de todas as formas e cores: pirarucu, piranha, pirarara… Dos Pirá nasceram os Y’ybyaî, que vivem na água e na terra: jia, cururu, perereca.


Marã ouvia como se fosse música.


— Dos anfíbios, vieram os Caaymboia, que vivem entre o mato e a água: jacaré, jabuti, sucuri… Depois nasceram os Aeybá, os que mamam: jaguar, tamanduá, quati… e também os Uirá, pássaros que cantam e voam, como a arara, o tucano e o uirapuru.


O velho fez uma pausa e tocou o ombro do rapaz.


— E nós, Marã, somos Abá. Filhos dos Aeybá, irmãos de todos os outros seres. Assim foi contado desde os primeiros tempos.


Marã chorou. Percebeu que, mesmo vindo de caminhos diferentes, a ciência e o saber indígena se encontravam como dois rios que correm para o mesmo mar.


Moral: A sabedoria tem muitas vozes, mas todas contam a mesma história quando o coração está pronto para ouvir.




Autor: Nhenety KX 



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