segunda-feira, 11 de agosto de 2025

IGABOINEƝYE BIHUNU, O Jumento Sagrado Livre do Sofrimento






A Fábula do Jumento Sofredor



Abertura cerimonial


Escutai… escutai, filhos e filhas da terra e do vento…

A história que chega até vossos ouvidos veio pelo sopro dos antigos…

É a história de IgaboinéƝye Bihunu,

o pequeno cavalo de orelhas grandes,

o que conheceu o peso,

o que conheceu a dor,

e que um dia conheceu também… a libertação.


Início da narrativa

Nas margens do grande rio Opará vivia Tupiná, homem de braço forte e coração endurecido.

Ao seu lado, todos os dias, caminhava IgaboinéƝye, o jumento.

Não caminhava por vontade própria… caminhava porque era puxado, empurrado, carregado de peso.

E quando não andava rápido… a mão de Tupiná caía pesada sobre ele.


O sol queimava, a poeira subia, e IgaboinéƝye andava…

Andava…

Andava…

E cada passo parecia mais pesado que o anterior.


A intervenção

Um dia, pelo mesmo caminho, vinha Arami, moça de passos leves e olhar de rio manso.

Ela parou. Olhou o jumento. Viu a respiração cansada, viu as marcas no pelo.

Aproximou-se.

Passou a mão sobre sua testa quente.


— Por que maltrata teu companheiro? — perguntou.

— Companheiro? — disse Tupiná. — Este bicho é carga, não amizade.


Arami sorriu triste e respondeu:


— Sabes quem é este animal que chamas de carga?

Entre todos os animais, foi o jumento que carregou Maria, José e o menino Jesus, fugindo para o Egito.

Silencioso, paciente, caminhou noite e dia para salvar a vida sagrada.


A revelação sagrada

Arami ergueu o rosto e falou como quem repete palavras de muito tempo atrás:


— Minha avó Kairá me ensinou: todo jumento carrega o sangue daquele que salvou o menino.

Quem levanta a mão contra ele… levanta a mão contra a bondade que Deus deixou no mundo.


O vento parou.

O caminho ficou em silêncio.

Tupiná olhou para IgaboinéƝye… e IgaboinéƝye olhou para Tupiná.

Não havia raiva. Não havia acusação.

Só havia olhos grandes… e serenos.


A transformação

Então algo se quebrou dentro de Tupiná — não era raiva… era vergonha.

Abaixou-se, tocou a cabeça do jumento e disse:


— Perdoa-me, pequeno irmão.

De hoje em diante, nunca mais serás meu escravo… serás meu companheiro.


E assim foi.

E assim ficou.


Encerramento cerimonial


Dizem que desde aquele dia, IgaboinéƝye caminhava leve.

Dizem que desde aquele dia, Tupiná aprendeu a carregar mais no coração e menos no lombo do jumento.

E eu digo: quem respeita a vida sagrada em todas as criaturas,

carrega dentro de si a paz que liberta.


Eu falei… os ventos ouviram… a terra guardou…

E agora esta história é vossa também.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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