A Fábula das Aves João-tolo e João-garrancho
Nas terras quentes do sertão, onde o sol aquece a areia clara e os rios cortam a mata de galeria, viviam duas aves muito diferentes.
O Macuru, conhecido pelos homens como João-tolo, era pequeno e de plumagem discreta. Passava longos momentos imóvel sobre um galho seco, quase confundindo-se com a madeira. Quem o via parado, acreditava que era bobo e distraído, mas ele sabia que aquela era a sua melhor defesa. Quieto, o Macuru se tornava invisível aos olhos dos predadores.
Já o Ybyrá-aty, o João-garrancho, era incansável. Com o bico carregava gravetos e ramos maiores do que o próprio corpo. Junto de sua companheira, construía ninhos enormes, verdadeiras fortalezas suspensas, que serviam de abrigo para toda a família. O trabalho nunca terminava, e o som dos gravetos se juntando ecoava pela mata como música da perseverança.
Certo dia, Ybyrá-aty encontrou Macuru parado em silêncio sobre uma árvore torta. Achou estranho e perguntou:
— Irmão Macuru, por que ficas imóvel, sem te mexer, como se fosses estátua de madeira? Não tens medo de ser caçado?
O pequeno respondeu com calma:
— O movimento chama a atenção, mas o silêncio protege. Quem me olha, pensa que sou fácil de apanhar, mas na verdade não me vê por inteiro. Minha força está na paciência.
Ybyrá-aty refletiu, mas logo retrucou:
— Eu não sei viver assim. Preciso do esforço constante, preciso carregar meus gravetos e reforçar meu lar. Meu trabalho é meu abrigo, é o que protege a mim e à minha família.
Os dois se entreolharam. Eram diferentes, mas havia sabedoria em cada modo de viver. E então decidiram aprender um com o outro:
Macuru acompanhou Ybyrá-aty em sua tarefa e percebeu a beleza de juntar paus, de erguer uma casa forte, feita em parceria. E Ybyrá-aty, ao observar Macuru imóvel e sereno, entendeu que às vezes a espera silenciosa é tão poderosa quanto a força de carregar gravetos.
Naquele dia, a mata ganhou uma nova lição: a vida pede equilíbrio entre a paciência e o esforço, entre o silêncio e a construção.
E assim, os homens que passavam pela floresta, ao ouvirem o canto discreto do Macuru e verem o grande ninho do Ybyrá-aty, aprenderam que cada ser guarda sua sabedoria, e que nenhuma forma de viver é menor que a outra.
✨ Moral da Fábula:
A paciência protege, o trabalho sustenta. Quem une silêncio e perseverança, encontra equilíbrio para seguir o caminho.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
MACURU E YBYRÁ-ATY, As Aves João-tolo e João-garrancho
( Versão em Cordel )
Na beira do sertão quente,
Duas aves vão cantar,
Uma vive em movimento,
Outra sabe repousar.
Cada qual com seu talento,
Muito tem pra nos mostrar.
O Macuru vive parado,
Parecendo distração,
Mas no silêncio encontra força,
Camuflado em proteção.
Quem pensa que ele é bobo,
Se engana em sua visão.
Já o grande Ybyrá-aty,
Carregando o seu graveto,
Constrói ninho resistente,
Com esforço e com projeto.
É trabalho que sustenta,
Seu futuro tão correto.
Um pergunta ao outro então:
— Por que vives tão calado?
O outro logo responde:
— No silêncio estou guardado.
Minha defesa é a calma,
Meu segredo é ser velado.
Ybyrá-aty lhe diz firme:
— Minha vida é trabalhar,
Levo paus sobre meu bico,
Pra meu ninho reforçar.
É no esforço da lida,
Que consigo me abrigar.
E assim aprenderam juntos,
Cada qual com seu valor,
Um mostrou a força da calma,
Outro o fruto do labor.
Na floresta se revela
Dois caminhos de um só amor.
✨ Moral em verso:
Quem aprende a ter paciência
E também a trabalhar,
Descobre na natureza
O equilíbrio pra viver,
Pois a vida é sempre o canto
De esperar e de fazer.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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