Fábula das Aves Polinizadoras da Floresta
Na imensidão verde da floresta, onde o sol dançava entre as folhas e o vento carregava perfumes de mil flores, vivia Mainu, o ágil beija-flor-tesoura. Suas asas batiam tão rápido que pareciam invisíveis, e sua cauda longa cortava o ar como uma flecha. Os antigos chamavam-no de Guainumbi, “aquele que passa depressa”, e, de fato, ninguém conseguia acompanhar seus movimentos.
Mainu se orgulhava de seu trabalho. “Sou eu quem leva o pólen das flores, quem mantém vivas as cores da floresta. Sem mim, o brilho da vida se apagaria”, dizia ele, cheio de vaidade, ao pousar numa bromélia.
No alto de uma palmeira, observava-o Sanhaçus, o sereno sanhaço-verde. Sua plumagem tinha o tom discreto das folhas, e seu voo não chamava tanta atenção. Enquanto Mainu se alimentava do néctar, Sanhaçus preferia os frutos, espalhando suas sementes pelos cantos da mata.
— Pequeno amigo Mainu — disse o sanhaço com calma —, cada flor que visitas é importante. Mas lembra-te: também eu ajudo a floresta, levando sementes para que novas árvores cresçam.
Mainu riu em voo rápido:
— Ora, Sanhaçus! Teu trabalho é lento demais. Eu sou veloz, sou o verdadeiro guardião da floresta!
O tempo passou, e veio a seca. As flores murcharam, e Mainu já não encontrava néctar suficiente. Cansado e fraco, pousou numa árvore jovem que crescia à beira do rio.
Foi então que ouviu a voz tranquila de Sanhaçus:
— Vês esta árvore que te dá sombra? Ela nasceu porque um dia eu levei sua semente. Sem as sementes, não haveria flores para ti, pequeno amigo.
Mainu, envergonhado, baixou as asas e reconheceu:
— Tens razão, Sanhaçus. Eu polinizo, mas tu semeias. A floresta só vive porque cada um faz a sua parte.
E, desde então, Mainu e Sanhaçus aprenderam a respeitar um ao outro, compreendendo que a vida da mata não depende da pressa nem da lentidão, mas da união de todos os seres.
Moral da fábula
Na floresta, assim como na vida, cada ser tem sua importância. O pequeno e o grande, o rápido e o paciente, todos juntos mantêm a harmonia do mundo.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
MAINU E SANHAÇUS, Polinizadores da Floresta
( Versão Cordel Sextilhas )
Na floresta encantada e bela,
Mainu voava ligeiro,
Com asas que cortam o vento,
Num balé leve e certeiro.
Era o guardião das flores,
Polinizador primeiro.
Disse Mainu vaidoso:
“Sou dono da proteção,
Se não fosse o meu trabalho,
Morreria a plantação!
Só eu sustento as cores,
Sou da vida a geração.”
Sanhaçus, calmo e sereno,
De verde era seu vestido,
Preferia os frutos doces,
Num voo simples, contido,
Espalhando as suas sementes
Por todo o chão repartido.
“Cada qual tem seu papel,
Meu amigo, escuta bem:
As flores precisam de ti,
Mas as árvores, de alguém.
Eu semeio a mata nova,
E a vida sempre mantém.”
Veio a seca pela mata,
As flores logo murcharam,
Mainu já fraco e cansado,
Sem néctar as asas pararam,
E foi sob uma árvore jovem
Que suas forças voltaram.
Disse então Sanhaçus firme:
“Vês a sombra que te cobre?
Nasceu da semente espalhada,
Para o futuro ser nobre.
Sem o fruto que carrego,
Não haveria o que é nobre.”
Mainu baixou sua asa,
Compreendeu a lição:
“A floresta é harmonia,
Precisa de união.
Nem só da pressa se vive,
Também da colaboração.”
🌿 Moral do Cordel
Grande ou pequeno que seja,
Todo ser tem seu valor.
É no encontro das diferenças
Que nasce o mundo melhor.
Na floresta e na vida,
Reina a força do amor.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Nenhum comentário:
Postar um comentário