🌹 DEDICATÓRIA POÉTICA
Dedico este meu cordel
À memória sem fronteira,
Aos avós que guardam cantos
Na ciranda verdadeira.
Dedico ao vento sagrado,
Ao tempo nunca cansado,
Que embala a vida inteira.
Dedico ao povo Guarani,
Que mantém viva a canção,
Que ensina ao mundo inteiro
O sentido da oração.
Dedico aos que resistiram,
Que na palavra floriram
Os caminhos da tradição.
📜 ÍNDICE POÉTICO
No cordel que ora canto
Deixo o mapa rimado,
Assim o leitor que segue
Vai no rumo iluminado:
Primeiro a dedicatória,
Depois memória e história
No saber organizado.
Dedicatória Poética ............ 01
Índice Poético ....................... 02
Abertura em Versos .............. 03
Prólogo Poético .................... 04
Capítulo I – O Tempo sem Tempo
Capítulo II – A Vinda de Tupã Mirim
Capítulo III – A Primeira Aldeia do Mundo
Capítulo IV – Cronologia e Caminhos
Capítulo V – A Harmonia de Tupã Mirim
Encerramento Final
Epílogo Poético
Nota de Fontes (em Verso)
🌄 ABERTURA
Abra as portas da memória,
Deixe o canto atravessar,
Pois no cordel da origem
A aldeia vai se formar.
É Tupã Mirim criança,
Que na brisa e na esperança
Vem o mundo semear.
Aqui o céu tem sete planos,
Aqui a terra é canção,
Aqui o vento sopra livre
Na sagrada tradição.
Quem caminha neste chão
Vai sentir no coração
O poder da criação.
🌟 PRÓLOGO POÉTICO
Caro leitor que me escuta,
Prepare o peito a sonhar,
Pois a história que trago
Vem do tempo sem contar.
Não há século nem idade,
Só memória e verdade
Que a palavra faz pulsar.
É sobre Tupã Mirim,
Um espírito juvenil,
Que desceu das santas nuvens
Ao espaço tão sutil.
Trouxe canto, trouxe vida,
Fez da aldeia erguida
O princípio do Brasil.
O que aqui será cantado
Tem raiz no povo antigo,
Que guardou em sua boca
A memória como abrigo.
É palavra encantada,
É raiz que não se apaga,
É saber de um povo amigo.
📖 CAPÍTULO I
O TEMPO SEM TEMPO E OS CÉUS GUARANI
No mundo dos Guarani
Não se conta por idade,
O tempo é ciclo sagrado,
É revelação, verdade.
Cada canto é caminhada,
Cada reza é jornada,
É o sopro da divindade.
São sete céus luminosos
Que sustentam a criação,
Do yvá tenonde primeiro
Brota vida em expansão.
Mas acima, em luz primeira,
Brilha a força verdadeira,
Do eterno Pai da canção.
Nhamandu Ru Eté é nome,
Pai da luz e do saber,
Dele emana a santa palavra
Que faz tudo florescer.
O Ñe’ê sagrado ecoa,
E no canto a vida entoa
Seu caminho de viver.
Da palavra vêm os seres,
De luz pura e radiante,
Karaí é fogo aceso,
Jakairá é ar constante.
O trovão é Tupã forte,
Que com voz de grande porte
Mostra o mundo retumbante.
Mas também surge um reflexo,
Um espírito juvenil,
Que carrega o som da infância
E o perfume mais sutil.
É Tupã Mirim divino,
Que no mundo cristalino
Vem trazendo o mais gentil.
Não comanda tempestades,
Nem trovão ou vendaval,
Mas cuida das harmonias
Do viver espiritual.
Ele é brisa, é canto leve,
É o sopro que se escreve
Na canção cerimonial.
E o povo em sua lembrança
Guarda firme a tradição,
Pois o céu é casa eterna
Que sustenta o coração.
Cada plano é uma escola,
Cada estrela uma viola
Que acompanha a oração.
Assim começa a jornada
Que desce do céu sagrado,
O tempo sem tempo ensina
Que tudo é entrelaçado.
É no ciclo, não na idade,
Que se encontra a verdade
Do universo revelado.
📖 CAPÍTULO II
A VINDA DE TUPÃ MIRIM
Quando o trovão se fez brando
No alvorecer da criação,
Desceu Tupã Mirim leve
Com sua pura missão.
Não chegou com vendaval,
Mas com sopro musical
De harmonia e oração.
Antes do tempo dos homens,
Antes do sol se firmar,
Ele veio em brisa clara
No silêncio do luar.
Com seus passos juvenis,
Trouxe o canto que condiz
Com o ciclo do semear.
Enquanto Tupã traçava
Rios, ventos e trovão,
Tupã Mirim desenhava
A vida em cada canção.
Fez dançar o passarinho,
Fez brilhar no pequenino
O sentido da união.
Cuidou das árvores leves,
Das formigas em fileira,
Deu cadência aos vaga-lumes,
Fez da abelha a mensageira.
Cada ser ganhou seu tom,
Cada som virou clarim bom
Na harmonia verdadeira.
Ele ensinou os primeiros
Cânticos cerimoniais,
Para que a aldeia nascente
Guardasse saberes vitais.
Cada verso entoado
Era caminho sagrado
Na força dos ancestrais.
Fundou a primeira opy,
A casa de reza e luz,
Onde o povo em cada rito
Se encontra com Nhamandu.
Ali o canto ecoava,
E o espírito ensinava
O que a palavra conduz.
Não trouxe espada ou coroa,
Não veio impor com poder,
Mas com riso de criança
E o dom de bem viver.
Fez do sonho uma ponte,
Da alvorada um horizonte,
Do futuro um renascer.
Tupã Mirim foi o guia
Da vida no dia a dia,
Mostrou onde se plantar
E onde soar a alegria.
No canto do beija-flor,
No sopro do semeador,
Na reza que principia.
Assim desceu o menino,
Espírito de harmonia,
Que do céu trouxe o encanto
Na alvorada que irradia.
Desde então sua presença
Guia o povo na crença
E na eterna poesia.
📖 CAPÍTULO III
A PRIMEIRA ALDEIA DO MUNDO
Na terra sagrada e pura,
Que o povo chama Yvy,
Desceu a força celeste
Com o canto do Guarani.
Era a Terra Sem Mal,
Um espaço divinal
De esperança e araci.
Ali Tupã Mirim veio
Com sorriso juvenil,
Traçou os caminhos livres
Do viver simples e gentil.
Mostrou campo, rio e chão,
Onde a vida em oração
Fez do canto o varonil.
Não buscou palácio ou trono,
Mas o terreiro sagrado,
Onde o povo em roda firme
Se encontrava lado a lado.
Ali plantou-se a canção,
Nasceu a celebração,
O costume consagrado.
A primeira opy sagrada
Surgiu no meio da aldeia,
Era o centro do destino
Onde o canto se semeia.
Lugar de reza e união,
De memória e tradição,
Que o tempo nunca enleia.
O povo aprendeu a dança,
Aprendeu também plantar,
Cada canto de criança
Fez o sonho germinar.
Na batida do maracá,
No compasso do Guatá,
Veio o dom de celebrar.
E assim nasceu a aldeia
Sem fronteira e sem muralha,
Pois a força era o canto,
Não havia quem atrapalha.
Era a vida em comunhão,
Era o céu no coração,
Que nenhum tempo retalha.
Não tem mapa nem fronteira,
Não tem marco ou direção,
A aldeia é mística e viva,
É memória e tradição.
Pois cada povo que guarda
Sua fé, sua trilha parda,
Carrega a mesma canção.
E até hoje o Guarani
Vê a aldeia florescer,
Pois no canto e na lembrança
Ela insiste em renascer.
Cada rito, cada chão,
É pedaço da canção
Que não deixa se perder.
Assim a aldeia primeira
Não morreu, não se apagou,
Pois em cada comunidade
Seu reflexo se firmou.
É a raiz da tradição,
É o elo da criação,
Que Tupã Mirim deixou.
📖 CAPÍTULO IV
CRONOLOGIA E CAMINHOS DO POVO GUARANI
No tempo sem calendário,
Onde o mito é a razão,
Já vivia o povo antigo
Com a reza na canção.
Mas também arqueologia
Mostra ao mundo que existia
Essa viva tradição.
Há milênios já plantavam
No Paraná-Paraguai,
Na imensidão da floresta
Com saber que nunca cai.
Quatro ou cinco mil anos
São caminhos soberanos
Que a memória sempre traz.
Duas mil luas passadas,
Antes de Cristo brilhar,
Os Guarani já firmavam
Aldeias em seu lugar.
Com roça, rito e memória,
Fizeram da própria história
Um eterno semear.
E no milênio primeiro,
Dois mil anos a correr,
Se espalharam nas planícies
Sempre prontos a viver.
Do sul da Amazônia antiga,
Seguiram na fé amiga
Que não cansa de crescer.
O mito e a história juntos
Formam ponte verdadeira:
De um lado a luz sagrada,
Do outro, ciência inteira.
O arqueólogo confirma
O que a palavra ensina
Na oralidade primeira.
Pois Tupã Mirim habita
Num “antes do tempo ser”,
Mas na história palpita
Como o povo a florescer.
O que o mito eternizou,
A ciência também mostrou,
Sem jamais se contradizer.
O caminho do Guarani
É de luta e tradição,
De manter viva a memória
Na palavra e na canção.
Com aldeias bem erguidas,
Com culturas reunidas,
Reafirmam sua missão.
São guardiões da esperança,
Do sagrado bem-viver,
Da palavra encantada
Que não pode se perder.
Na migração, na jornada,
A história é registrada
Na floresta e no saber.
Assim a cronologia
Se irmana à cosmovisão,
Pois o tempo do Guarani
É ciclo e revelação.
E em cada aldeia erguida
Se renova a grande vida
Do povo em comunhão.
📖 CAPÍTULO V
A HARMONIA DE TUPÃ MIRIM
Tupã Mirim não é raio,
Nem trovão a retumbar,
É a brisa que embala a vida,
É o canto a iluminar.
É infância que ensina rindo,
É caminho que vai fluindo
Na esperança de semear.
Ele mostra que o sagrado
Se esconde no dia a dia,
No cantar do passarinho,
Na criança que irradia.
No roçado em movimento,
Na palavra em pensamento,
Na partilha e na alegria.
É guardião da harmonia
Entre o humano e o divino,
Entre o fogo da lembrança
E a seiva do destino.
É laço de união,
É ponte de coração,
É ternura no caminho.
Na memória dos anciãos
É lembrado com carinho,
Pois ensinou cada reza
E o valor do pequenino.
Fez da roda cerimonial
Um espaço fraternal,
Um refúgio cristalino.
Tupã Mirim se mantém
Na canção dos povos vivos,
Na reza de cada noite,
No sonho dos coletivos.
É raiz que não se parte,
É memória, é força, é arte,
Nos caminhos mais antigos.
O seu dom não é o mando,
Nem a força dominadora,
Mas o riso que consola,
A esperança redentora.
É o sopro da pureza,
É o canto da leveza
Que na aldeia se aflora.
Cada maracá que soa
Carrega sua presença,
Cada voz de pequenino
Revela sua essência.
No brincar e no rezar,
No plantar e no cantar,
Ele guarda a consciência.
Assim Tupã Mirim vive
Na aldeia que resplandece,
É memória que não cansa,
É raiz que não fenece.
Entre o eterno e o humano,
É sopro puro e ufano
Que o espírito aquece.
E quem segue essa lembrança
Vai sentir em cada chão
Que Tupã Mirim habita
Na mais simples oração.
Na harmonia do viver,
Ele sempre vai trazer
A pureza da criação.
📖 ENCERRAMENTO
Aqui termina a jornada
Do cordel que me guiou,
De Tupã Mirim menino
Que na aldeia semeou.
Entre o céu e a terra firme,
Deixou força que redime
E no canto se firmou.
A primeira opy sagrada
Foi o centro da oração,
E no ciclo da memória
Segue firme a tradição.
O que o mito eternizou,
A história confirmou
Com a fé do coração.
Assim fecho este cordel
Com a palavra encantada,
Que do povo Guarani
Segue firme, respeitada.
É memória, é raiz,
É a força que condiz
Com a aldeia abençoada.
🌟 EPÍLOGO POÉTICO
Leitor que até aqui veio
Na trilha de poesia,
Guarde em si esta mensagem
De memória e harmonia.
Pois Tupã Mirim é ponte,
É horizonte, é fonte,
É infância que alumia.
A primeira aldeia existe
Na lembrança e no viver,
Não precisa mapa ou marco
Para o povo compreender.
Basta ouvir a tradição,
Deixar guiar o coração,
E o sagrado vai nascer.
Seja canto, seja reza,
Seja sonho ou oração,
O que importa é manter viva
A raiz da criação.
Pois no ciclo do sem tempo,
Segue eterno o firmamento
Do povo em comunhão.
📚 NOTA DE FONTES (em versos de cordel)
Para que o leitor conheça
As fontes deste cantar,
Deixo aqui em poesia
Os mestres a iluminar.
Que na escrita ou na aldeia,
Deram voz, saber e ideia
Pra memória eternizar.
León Cadogan escreveu
Com ternura e devoção,
“Ayvu Rapyta” guardou
O mito em seu coração.
Do Guairá fez registro,
De um legado tão benquisto
Na oralidade em canção.
Bartomeu Melià deixou
Em Loyola a grande lição,
“O povo Guarani” nos fala
Da palavra e da oração.
Mostrou fé e resistência,
Na cultura a persistência
De um povo em comunhão.
Clovis Irigaray Neto
Com saber nos revelou
Que a “Terra Sem Mal” Guarani
O destino iluminou.
Em seus cantos peregrinos,
Nos caminhos cristalinos,
O sagrado eternizou.
Albert e Alcida Ramos
Também juntos reuniram
“No pacificar o branco”
As vozes que resistiram.
São cosmologias vivas,
Com memórias coletivas
Que ao mundo advertiram.
Artionka Capiberibe
Da UNICAMP fez soar
Que os Guarani têm mil nomes
Mas um só jeito de estar.
Sua obra esclarecida
Nos dá pista e dá guarida
Pra memória respeitar.
Assim termina a jornada,
Mas não cessa a tradição:
Cada fonte é chama viva,
É raiz da criação.
E em cordel se eterniza,
Na poesia que precisa
Dar ao povo inspiração.
🌄 Quarta Capa em Cordel
Na aldeia do coração,
Ecoa a voz do sagrado,
Tupã Mirim, na canção,
Desperta o mundo encantado.
A primeira aldeia acende,
O fogo que nunca apaga,
E no sopro do tempo estende
A memória que nos embala.
Do tronco nasce a palavra,
Do vento, a inspiração,
Da terra, a raiz sagrada,
Da água, a purificação.
Assim o cordel registra,
Em versos que são sementes,
O mito que nunca se apaga,
Nos povos, eternamente.
✨ No rodapé da contracapa pode vir a dedicatória discreta:
📖 “Este cordel foi tecido em versos para honrar os ancestrais e fortalecer a chama da palavra nativa. Por Nhenety Kariri-Xocó.”
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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