terça-feira, 30 de setembro de 2025

A ORIGEM DE TUPÃ MIRIM E A PRIMEIRA ALDEIA DO MUNDO EM CORDEL Por Nhenety Kariri-Xocó





🌹 DEDICATÓRIA POÉTICA


Dedico este meu cordel

À memória sem fronteira,

Aos avós que guardam cantos

Na ciranda verdadeira.

Dedico ao vento sagrado,

Ao tempo nunca cansado,

Que embala a vida inteira.


Dedico ao povo Guarani,

Que mantém viva a canção,

Que ensina ao mundo inteiro

O sentido da oração.

Dedico aos que resistiram,

Que na palavra floriram

Os caminhos da tradição.


📜 ÍNDICE POÉTICO


No cordel que ora canto

Deixo o mapa rimado,

Assim o leitor que segue

Vai no rumo iluminado:

Primeiro a dedicatória,

Depois memória e história

No saber organizado.


Dedicatória Poética ............ 01

Índice Poético ....................... 02

Abertura em Versos .............. 03

Prólogo Poético .................... 04

Capítulo I – O Tempo sem Tempo

Capítulo II – A Vinda de Tupã Mirim

Capítulo III – A Primeira Aldeia do Mundo

Capítulo IV – Cronologia e Caminhos

Capítulo V – A Harmonia de Tupã Mirim

Encerramento Final

Epílogo Poético

Nota de Fontes (em Verso)


🌄 ABERTURA


Abra as portas da memória,

Deixe o canto atravessar,

Pois no cordel da origem

A aldeia vai se formar.

É Tupã Mirim criança,

Que na brisa e na esperança

Vem o mundo semear.


Aqui o céu tem sete planos,

Aqui a terra é canção,

Aqui o vento sopra livre

Na sagrada tradição.

Quem caminha neste chão

Vai sentir no coração

O poder da criação.


🌟 PRÓLOGO POÉTICO


Caro leitor que me escuta,

Prepare o peito a sonhar,

Pois a história que trago

Vem do tempo sem contar.

Não há século nem idade,

Só memória e verdade

Que a palavra faz pulsar.


É sobre Tupã Mirim,

Um espírito juvenil,

Que desceu das santas nuvens

Ao espaço tão sutil.

Trouxe canto, trouxe vida,

Fez da aldeia erguida

O princípio do Brasil.


O que aqui será cantado

Tem raiz no povo antigo,

Que guardou em sua boca

A memória como abrigo.

É palavra encantada,

É raiz que não se apaga,

É saber de um povo amigo.



📖 CAPÍTULO I


O TEMPO SEM TEMPO E OS CÉUS GUARANI


No mundo dos Guarani

Não se conta por idade,

O tempo é ciclo sagrado,

É revelação, verdade.

Cada canto é caminhada,

Cada reza é jornada,

É o sopro da divindade.


São sete céus luminosos

Que sustentam a criação,

Do yvá tenonde primeiro

Brota vida em expansão.

Mas acima, em luz primeira,

Brilha a força verdadeira,

Do eterno Pai da canção.


Nhamandu Ru Eté é nome,

Pai da luz e do saber,

Dele emana a santa palavra

Que faz tudo florescer.

O Ñe’ê sagrado ecoa,

E no canto a vida entoa

Seu caminho de viver.


Da palavra vêm os seres,

De luz pura e radiante,

Karaí é fogo aceso,

Jakairá é ar constante.

O trovão é Tupã forte,

Que com voz de grande porte

Mostra o mundo retumbante.


Mas também surge um reflexo,

Um espírito juvenil,

Que carrega o som da infância

E o perfume mais sutil.

É Tupã Mirim divino,

Que no mundo cristalino

Vem trazendo o mais gentil.


Não comanda tempestades,

Nem trovão ou vendaval,

Mas cuida das harmonias

Do viver espiritual.

Ele é brisa, é canto leve,

É o sopro que se escreve

Na canção cerimonial.


E o povo em sua lembrança

Guarda firme a tradição,

Pois o céu é casa eterna

Que sustenta o coração.

Cada plano é uma escola,

Cada estrela uma viola

Que acompanha a oração.


Assim começa a jornada

Que desce do céu sagrado,

O tempo sem tempo ensina

Que tudo é entrelaçado.

É no ciclo, não na idade,

Que se encontra a verdade

Do universo revelado.



📖 CAPÍTULO II


A VINDA DE TUPÃ MIRIM


Quando o trovão se fez brando

No alvorecer da criação,

Desceu Tupã Mirim leve

Com sua pura missão.

Não chegou com vendaval,

Mas com sopro musical

De harmonia e oração.


Antes do tempo dos homens,

Antes do sol se firmar,

Ele veio em brisa clara

No silêncio do luar.

Com seus passos juvenis,

Trouxe o canto que condiz

Com o ciclo do semear.


Enquanto Tupã traçava

Rios, ventos e trovão,

Tupã Mirim desenhava

A vida em cada canção.

Fez dançar o passarinho,

Fez brilhar no pequenino

O sentido da união.


Cuidou das árvores leves,

Das formigas em fileira,

Deu cadência aos vaga-lumes,

Fez da abelha a mensageira.

Cada ser ganhou seu tom,

Cada som virou clarim bom

Na harmonia verdadeira.


Ele ensinou os primeiros

Cânticos cerimoniais,

Para que a aldeia nascente

Guardasse saberes vitais.

Cada verso entoado

Era caminho sagrado

Na força dos ancestrais.


Fundou a primeira opy,

A casa de reza e luz,

Onde o povo em cada rito

Se encontra com Nhamandu.

Ali o canto ecoava,

E o espírito ensinava

O que a palavra conduz.


Não trouxe espada ou coroa,

Não veio impor com poder,

Mas com riso de criança

E o dom de bem viver.

Fez do sonho uma ponte,

Da alvorada um horizonte,

Do futuro um renascer.


Tupã Mirim foi o guia

Da vida no dia a dia,

Mostrou onde se plantar

E onde soar a alegria.

No canto do beija-flor,

No sopro do semeador,

Na reza que principia.


Assim desceu o menino,

Espírito de harmonia,

Que do céu trouxe o encanto

Na alvorada que irradia.

Desde então sua presença

Guia o povo na crença

E na eterna poesia.



📖 CAPÍTULO III


A PRIMEIRA ALDEIA DO MUNDO


Na terra sagrada e pura,

Que o povo chama Yvy,

Desceu a força celeste

Com o canto do Guarani.

Era a Terra Sem Mal,

Um espaço divinal

De esperança e araci.


Ali Tupã Mirim veio

Com sorriso juvenil,

Traçou os caminhos livres

Do viver simples e gentil.

Mostrou campo, rio e chão,

Onde a vida em oração

Fez do canto o varonil.


Não buscou palácio ou trono,

Mas o terreiro sagrado,

Onde o povo em roda firme

Se encontrava lado a lado.

Ali plantou-se a canção,

Nasceu a celebração,

O costume consagrado.


A primeira opy sagrada

Surgiu no meio da aldeia,

Era o centro do destino

Onde o canto se semeia.

Lugar de reza e união,

De memória e tradição,

Que o tempo nunca enleia.


O povo aprendeu a dança,

Aprendeu também plantar,

Cada canto de criança

Fez o sonho germinar.

Na batida do maracá,

No compasso do Guatá,

Veio o dom de celebrar.


E assim nasceu a aldeia

Sem fronteira e sem muralha,

Pois a força era o canto,

Não havia quem atrapalha.

Era a vida em comunhão,

Era o céu no coração,

Que nenhum tempo retalha.


Não tem mapa nem fronteira,

Não tem marco ou direção,

A aldeia é mística e viva,

É memória e tradição.

Pois cada povo que guarda

Sua fé, sua trilha parda,

Carrega a mesma canção.


E até hoje o Guarani

Vê a aldeia florescer,

Pois no canto e na lembrança

Ela insiste em renascer.

Cada rito, cada chão,

É pedaço da canção

Que não deixa se perder.


Assim a aldeia primeira

Não morreu, não se apagou,

Pois em cada comunidade

Seu reflexo se firmou.

É a raiz da tradição,

É o elo da criação,

Que Tupã Mirim deixou.



📖 CAPÍTULO IV


CRONOLOGIA E CAMINHOS DO POVO GUARANI


No tempo sem calendário,

Onde o mito é a razão,

Já vivia o povo antigo

Com a reza na canção.

Mas também arqueologia

Mostra ao mundo que existia

Essa viva tradição.


Há milênios já plantavam

No Paraná-Paraguai,

Na imensidão da floresta

Com saber que nunca cai.

Quatro ou cinco mil anos

São caminhos soberanos

Que a memória sempre traz.


Duas mil luas passadas,

Antes de Cristo brilhar,

Os Guarani já firmavam

Aldeias em seu lugar.

Com roça, rito e memória,

Fizeram da própria história

Um eterno semear.


E no milênio primeiro,

Dois mil anos a correr,

Se espalharam nas planícies

Sempre prontos a viver.

Do sul da Amazônia antiga,

Seguiram na fé amiga

Que não cansa de crescer.


O mito e a história juntos

Formam ponte verdadeira:

De um lado a luz sagrada,

Do outro, ciência inteira.

O arqueólogo confirma

O que a palavra ensina

Na oralidade primeira.


Pois Tupã Mirim habita

Num “antes do tempo ser”,

Mas na história palpita

Como o povo a florescer.

O que o mito eternizou,

A ciência também mostrou,

Sem jamais se contradizer.


O caminho do Guarani

É de luta e tradição,

De manter viva a memória

Na palavra e na canção.

Com aldeias bem erguidas,

Com culturas reunidas,

Reafirmam sua missão.


São guardiões da esperança,

Do sagrado bem-viver,

Da palavra encantada

Que não pode se perder.

Na migração, na jornada,

A história é registrada

Na floresta e no saber.


Assim a cronologia

Se irmana à cosmovisão,

Pois o tempo do Guarani

É ciclo e revelação.

E em cada aldeia erguida

Se renova a grande vida

Do povo em comunhão.



📖 CAPÍTULO V


A HARMONIA DE TUPÃ MIRIM


Tupã Mirim não é raio,

Nem trovão a retumbar,

É a brisa que embala a vida,

É o canto a iluminar.

É infância que ensina rindo,

É caminho que vai fluindo

Na esperança de semear.


Ele mostra que o sagrado

Se esconde no dia a dia,

No cantar do passarinho,

Na criança que irradia.

No roçado em movimento,

Na palavra em pensamento,

Na partilha e na alegria.


É guardião da harmonia

Entre o humano e o divino,

Entre o fogo da lembrança

E a seiva do destino.

É laço de união,

É ponte de coração,

É ternura no caminho.


Na memória dos anciãos

É lembrado com carinho,

Pois ensinou cada reza

E o valor do pequenino.

Fez da roda cerimonial

Um espaço fraternal,

Um refúgio cristalino.


Tupã Mirim se mantém

Na canção dos povos vivos,

Na reza de cada noite,

No sonho dos coletivos.

É raiz que não se parte,

É memória, é força, é arte,

Nos caminhos mais antigos.


O seu dom não é o mando,

Nem a força dominadora,

Mas o riso que consola,

A esperança redentora.

É o sopro da pureza,

É o canto da leveza

Que na aldeia se aflora.


Cada maracá que soa

Carrega sua presença,

Cada voz de pequenino

Revela sua essência.

No brincar e no rezar,

No plantar e no cantar,

Ele guarda a consciência.


Assim Tupã Mirim vive

Na aldeia que resplandece,

É memória que não cansa,

É raiz que não fenece.

Entre o eterno e o humano,

É sopro puro e ufano

Que o espírito aquece.


E quem segue essa lembrança

Vai sentir em cada chão

Que Tupã Mirim habita

Na mais simples oração.

Na harmonia do viver,

Ele sempre vai trazer

A pureza da criação.



📖 ENCERRAMENTO


Aqui termina a jornada

Do cordel que me guiou,

De Tupã Mirim menino

Que na aldeia semeou.

Entre o céu e a terra firme,

Deixou força que redime

E no canto se firmou.


A primeira opy sagrada

Foi o centro da oração,

E no ciclo da memória

Segue firme a tradição.

O que o mito eternizou,

A história confirmou

Com a fé do coração.


Assim fecho este cordel

Com a palavra encantada,

Que do povo Guarani

Segue firme, respeitada.

É memória, é raiz,

É a força que condiz

Com a aldeia abençoada.


🌟 EPÍLOGO POÉTICO


Leitor que até aqui veio

Na trilha de poesia,

Guarde em si esta mensagem

De memória e harmonia.

Pois Tupã Mirim é ponte,

É horizonte, é fonte,

É infância que alumia.


A primeira aldeia existe

Na lembrança e no viver,

Não precisa mapa ou marco

Para o povo compreender.

Basta ouvir a tradição,

Deixar guiar o coração,

E o sagrado vai nascer.


Seja canto, seja reza,

Seja sonho ou oração,

O que importa é manter viva

A raiz da criação.

Pois no ciclo do sem tempo,

Segue eterno o firmamento

Do povo em comunhão.


📚 NOTA DE FONTES (em versos de cordel)


Para que o leitor conheça

As fontes deste cantar,

Deixo aqui em poesia

Os mestres a iluminar.

Que na escrita ou na aldeia,

Deram voz, saber e ideia

Pra memória eternizar.


León Cadogan escreveu

Com ternura e devoção,

“Ayvu Rapyta” guardou

O mito em seu coração.

Do Guairá fez registro,

De um legado tão benquisto

Na oralidade em canção.


Bartomeu Melià deixou

Em Loyola a grande lição,

“O povo Guarani” nos fala

Da palavra e da oração.

Mostrou fé e resistência,

Na cultura a persistência

De um povo em comunhão.


Clovis Irigaray Neto

Com saber nos revelou

Que a “Terra Sem Mal” Guarani

O destino iluminou.

Em seus cantos peregrinos,

Nos caminhos cristalinos,

O sagrado eternizou.


Albert e Alcida Ramos

Também juntos reuniram

“No pacificar o branco”

As vozes que resistiram.

São cosmologias vivas,

Com memórias coletivas

Que ao mundo advertiram.


Artionka Capiberibe

Da UNICAMP fez soar

Que os Guarani têm mil nomes

Mas um só jeito de estar.

Sua obra esclarecida

Nos dá pista e dá guarida

Pra memória respeitar.


Assim termina a jornada,

Mas não cessa a tradição:

Cada fonte é chama viva,

É raiz da criação.

E em cordel se eterniza,

Na poesia que precisa

Dar ao povo inspiração.



🌄 Quarta Capa em Cordel





Na aldeia do coração,

Ecoa a voz do sagrado,

Tupã Mirim, na canção,

Desperta o mundo encantado.

A primeira aldeia acende,

O fogo que nunca apaga,

E no sopro do tempo estende

A memória que nos embala.


Do tronco nasce a palavra,

Do vento, a inspiração,

Da terra, a raiz sagrada,

Da água, a purificação.

Assim o cordel registra,

Em versos que são sementes,

O mito que nunca se apaga,

Nos povos, eternamente.


✨ No rodapé da contracapa pode vir a dedicatória discreta:


📖 “Este cordel foi tecido em versos para honrar os ancestrais e fortalecer a chama da palavra nativa. Por Nhenety Kariri-Xocó.”




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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