segunda-feira, 29 de setembro de 2025

A ORIGEM E A COSMOVISÃO DOS GUARANI EM CORDEL, Por Nhenety Kariri-Xocó





🌹 DEDICATÓRIA POÉTICA


Dedico este meu cordel,

À memória ancestral,

Aos Guarani de raiz,

E ao seu canto imortal.

Que o sopro da mata antiga,

Nos guie em senda amiga,

Do mundo espiritual.


Dedico ao meu povo amado,

Kariri-Xocó de chão,

Que na luta e na esperança,

Mantém firme a tradição.

Que o verso seja ponte,

Entre passado e horizonte,

Na força da criação.


📜 ÍNDICE POÉTICO


Abertura


Prólogo Poético


Capítulo I – A Antiga Origem do Povo


Capítulo II – A Estrutura do Cosmos Chiripá


Capítulo III – A Alma e a Saúde Mbyá


Capítulo IV – Ambientes Sagrados e a Terra sem Mal


Encerramento


Epílogo Poético


Nota de Fontes


🌄 ABERTURA


Aqui começa o cordel,

Na cadência do sagrado,

Falando dos Guarani,

Seu viver iluminado.

Entre corpo e cosmovisão,

Guardam na alma a canção,

Do tempo nunca apagado.


🎶 PRÓLOGO POÉTICO


Venham todos ouvir bem,

Uma história verdadeira,

Que vem dos tempos antigos,

Do coração da aldeia inteira.

É canto, mito e memória,

É raiz que guarda a história,

Da nação hospitaleira.


Os Guarani caminharam,

Das florestas até o sul,

Seguindo a rota da vida,

Na luz divina de Ñamandu.

Na palavra sagrada e pura,

Viveram fé e cultura,

Entre o céu azul e o urubu.


📖 CAPÍTULO I – A ANTIGA ORIGEM DO POVO


1

Muito antes de Colombo,

Já viviam os Guarani,

Vindos da Amazônia vasta,

Onde a vida tinha ali.

No tronco Tupi-Guarani,

A raiz estava ali,

Com força para seguir.


2

Por volta de três mil anos,

Antes do Cristo nascer,

Seus antepassados fortes,

Aprenderam a viver.

Plantando milho e mandioca,

Criando aldeia que toca,

A vida no florescer.


3

Mil anos antes da era,

Eles seguiram migrando,

Do Peru, Bolívia e Norte,

Para o sul se espalhando.

No Prata e Paraguai,

Com o sonho que não se vai,

Nova terra conquistando.


4

Do século treze em diante,

Expandiram-se sem fim,

Brasil, Argentina e o sul,

Vivendo em teko porã sim.

Com xamãs e sua ciência,

Preservaram a consciência,

De um cosmo dentro de si.


5

Mas chegou o europeu,

No século dezesseis,

E com ele veio a dor,

De batalhas e leis.

As reduções jesuíticas,

As correntes tão políticas,

E a cruz em suas vez.


6

Ainda assim resistiram,

Com palavra e coração,

Cantando para o futuro,

Com sagrada devoção.

A história dos ancestrais,

Ecoa nos rituais,

Na floresta e oração.


📖 CAPÍTULO II – A ESTRUTURA DO COSMOS CHIRIPÁ


1

Os Chiripá conhecem bem,

Os céus de grande valor,

Camadas de pura luz,

E moradas de esplendor.

Cada espaço é guardião,

Com espírito e canção,

Que revelam seu amor.


2

Yvágapy está mais perto,

Do chão que a gente pisa,

É o primeiro dos céus,

Onde a fé se eterniza.

Depois vem Yvá tenonde,

Que aos sábios corresponde,

Com força que harmoniza.


3

No meio há Yvá mbyte,

De saber espiritual,

E mais alto Yvá katú,

Com poder celestial.

No vermelho Yvá pytã,

A palavra soberã,

Resplandece sem igual.


4

Yvá porã é morada,

Dos que viveram direito,

E Yvá marangatú,

É o sagrado perfeito.

Onde Ñamandu habita,

Com luz que sempre convida,

Para o eterno respeito.


5

Ñamandu Ru Ete é o pai,

Da palavra primordial,

É o criador supremo,

E do mundo espiritual.

Com Karaí e Jakaira,

Tupã e força que paira,

No equilíbrio universal.


6

Pelos sonhos e cantigas,

O xamã pode alcançar,

Os caminhos do invisível,

Que vêm nos abençoar.

Com plantas e oração,

Ele guarda a conexão,

Do céu com o nosso lar.


📖 CAPÍTULO III – A ALMA E A SAÚDE MBYÁ


1

Os Mbyá veem a pessoa,

Com várias almas no ser,

Que caminham juntas sempre,

E precisam se manter.

Se uma parte se afasta,

O corpo logo desgasta,

E a vida pode perder.


2

O espírito chamado Aña,

É mal que causa doença,

Mas com rituais de cura,

Se expulsa sua presença.

O xamã guia o caminho,

Com erva, canto e carinho,

E a fé como crença.


3

O angá é a alma leve,

Que no sonho pode sair,

Mas precisa retornar,

Para o corpo não ruir.

Se demora e não regressa,

O corpo enfraquece e cessa,

De poder se ressurgir.


4

A palavra-alma Ñe'ẽ,

É força de vibração,

É sopro, canto e essência,

Que anima todo coração.

É voz que se eterniza,

É vida que sempre frisa,

O poder da criação.


📖 CAPÍTULO IV – AMBIENTES SAGRADOS E A TERRA SEM MAL


1

Na aldeia chamada tekoha,

É o centro da união,

Onde o povo compartilha,

A vida em comunhão.

É espaço de convivência,

De respeito e consciência,

De amor e tradição.


2

Na opy, casa sagrada,

O canto ecoa profundo,

Com reza e dança ritual,

Ligando o céu com o mundo.

O xamã guia a oração,

Que fortalece a nação,

E protege todo o fundo.


3

Na floresta o ka’aguy,

Mora a força do saber,

É mãe e mestra divina,

Que ensina a sobreviver.

Com plantas, cura e alimento,

Guarda o sagrado momento,

Do espírito renascer.


4

Mas a meta derradeira,

É a Terra sem mal, enfim,

Onde não existe dor,

Só o viver porã sem fim.

É o ideal dos Guarani,

Que até hoje está aqui,

No sonho que não tem fim.


🌅 ENCERRAMENTO


Assim termina este canto,

De origem e cosmovisão,

Dos Guarani tão antigos,

Na floresta em oração.

Sua palavra é ponte,

Do passado até o horizonte,

Na eterna renovação.


🌌 EPÍLOGO POÉTICO


Que o leitor guarde na alma,

A lição do Guarani,

Que na busca da harmonia,

Mostra o caminho daqui.

Entre corpo, céu e chão,

Entre canto e oração,

Segue a vida por aqui.


📚 NOTA DE FONTES (em cordel)


Para compor este cordel,

Usei livros de valor,

De mestres que registraram,

A cultura com amor.

Deixo aqui rimado e belo,

As fontes que dão o selo,

Do saber inspirador.


Cadogan com seus escritos,

“No Ayvu Rapyta” fiel,

Mostrou mitos e cantigas,

Do Guarani tão singel.

Com Meliá veio a visão,

Do povo em dominação,

Num registro de papel.


Aracy e Grupioni,

Do Brasil indígena inteiro,

Reuniram em São Paulo,

Um estudo verdadeiro.

Roberto Morin também,

Mostrou a Terra do bem,

Com olhar forte e certeiro.


Pierri nos trouxe a alma,

E seu corpo a dialogar,

Egon Schaden revelou,

Aspectos pra estudar.

Tereza Silveira então,

Mostrou a cura e a ação,

Da opy a nos guiar.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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