sexta-feira, 3 de outubro de 2025

A CANOA DE FOGO YGARATÁ E OS SERES SAGRADO DA CRIAÇÃO EM CORDEL, Por Nhenety Kariri-Xocó





🌹 DEDICATÓRIA POÉTICA


Ofereço este cordel, com amor e emoção,

Ao povo Guarani, guardião da tradição.

Aos mestres anciãos, que em canto e memória,

Conduzem seus filhos na sagrada história.


À criança de luz, Tupã Mirim radiante,

Que brilha no mito como sol deslumbrante.

E a todos os povos que mantêm a canção,

Do fogo divino que molda a criação.


📜 ÍNDICE POÉTICO


Abertura: O cântico da memória


Prólogo Poético: Palavra sagrada e origem da história


Capítulo I – A canoa de fogo descendo do céu


Capítulo II – Os sete anciãos e o saber do papel


Capítulo III – O menino de luz e sua missão


Capítulo IV – A mensagem da criação


Encerramento: A lição dos antigos caminhos


Epílogo Poético: A voz que ecoa entre destinos


Nota de Fontes – A sabedoria dos livros rimados


🌿 ABERTURA


Na beira do tempo, o mito nasceu,

Na boca dos povos, a história cresceu.

Ygaratá, canoa de fogo divino,

Riscando os céus, traçando destino.


Do peito de Nhanderu, pai da criação,

Vieram cantos, palavra e oração.

E o mundo se fez no sopro sagrado,

Na força da vida, no verbo entoado.


🔥 PRÓLOGO POÉTICO


Escute, leitor, com atenção e respeito,

O mito é raiz, é verdade no peito.

Não é fantasia, tampouco invenção,

Mas fonte de vida, palavra e canção.


Na canoa ardente, os mestres chegaram,

Com o menino-luz, que os céus anunciaram.

E o que aqui narro não é só lembrança,

É chama que acende a fé e a esperança.



CAPÍTULO I – A CANOA DE FOGO DESCENDO DO CÉU


Do ventre do Pai Supremo,

Nhanderu, fonte da vida,

Veio a canoa de fogo,

Com sua luz tão sentida,

Descendo ao mundo terreno,

Com a missão definida.


Não era de tronco e rama,

Nem madeira do sertão,

Mas forjada em pura chama,

Do sopro da criação.

Nas águas celestes veio,

Guiada pela oração.


O céu inteiro se abriu,

Quando a luz resplandeceu,

E o rio do tempo antigo

Em claridade se encheu.

E a canoa flamejante

Na Terra logo desceu.


Os povos olharam o céu,

E viram no firmamento

Um rastro feito de fogo,

Queimando sem sofrimento,

Era sinal de esperança,

Promessa de novo tempo.


A canoa não trazia

Nem guerra, nem opressão,

Mas os dons da eternidade,

Sementes de criação.

Nela vinham os anciãos,

Guardando a revelação.


E junto deles, criança,

De pureza singular,

Era um sol pequenino,

Era o brilho a despontar.

Menino de fogo e luz,

Com destino a revelar.


As águas abriram caminho,

Para o barco atravessar,

Era ponte entre dois mundos,

Entre o céu e o mar.

Era chave do mistério,

Que o povo veio escutar.


Assim chegou Ygaratá,

Canoa do Pai sagrado,

Que do seio do infinito

Traz o verbo entoado.

E o mundo ganhou forma,

Do fogo iluminado.


CAPÍTULO II – OS SETE ANCIÃOS E O SABER DO PAPEL


Primeiro veio Karai,

Senhor da chama acesa,

Guardião do fogo eterno,

Força pura da pureza.

Purifica e fortalece,

É poder da natureza.


Jakairá chegou depois,

Com os ventos a soprar.

Da palavra é guardião,

Ensina o povo a falar.

No sopro da brisa leve,

A vida pode ensinar.


Tupã trouxe o trovão,

Com a chuva abençoada,

Garante a fertilidade,

E a colheita esperada.

É voz que vem dos relâmpagos,

Pela terra consagrada.


Nhamandu, luz primeira,

Criador do entendimento,

Ilumina os caminhos,

É clarão do pensamento.

Ensina que a sabedoria

É raiz do nascimento.


Tume Arandu se apresenta,

Sábio das veredas santas,

Conhecedor dos segredos,

Das passagens e das mantas.

É guia dos caminhantes,

Pelas sendas que encantam.


Marangatu é bondade,

É da partilha a lição.

Na mesa traz generosa

A fartura do quinhão.

Ensina que a vida é feita

De ternura e compaixão.


Karaí Puku completa

Os sete guardiões do mundo,

Provedor da fartura,

Do alimento mais fecundo.

Na terra semeia força,

No coração, paz profundo.


Os sete, juntos, formaram

As colunas da existência.

Cada qual com sua força,

Sua luz e resistência.

Sustentam no mundo o eixo

Da vida e da consciência.


E o menino no seu meio,

Era o elo a reluzir,

Entre os anciãos e o tempo,

Entre o presente e o porvir.

Era chama pequenina,

Prometendo o devir.


Assim se ergueu o conselho

Dos mestres da criação,

Guardando os dons eternos

No peito e na tradição.

E a canoa de fogo trouxe

Ao mundo a revelação.


CAPÍTULO III – O MENINO DE LUZ E SUA MISSÃO


No centro daquela barca,

Brilhava um ser pequenino,

Era de fogo celeste,

Era de sol cristalino.

Menino de luz sagrada,

Condutor do novo destino.


Chamado de Kuaray,

Ou Memby, filho da aurora,

Em outras tradições ditas,

Tupã Mirim se aflora.

Nome de força divina,

Que o povo ainda rememora.


Não era um simples infante,

Nem criança passageira,

Mas a esperança do mundo,

Chama clara e verdadeira.

Era a vida renascendo,

Na canoa derradeira.


Seu olhar tinha o futuro,

Seu sorriso, claridade,

Era a ponte dos tempos,

Entre o ontem e a verdade.

Era sopro de esperança,

Era a luz da mocidade.


O menino não falava,

Mas no silêncio ensinava,

Era o verbo encarnado,

Era a fé que iluminava.

Era o sinal prometido,

Que ao povo se revelava.


Cada passo que ele dava

Era semente lançada,

No coração dos anciãos

A esperança semeada.

Pois nele viam o renovo,

A vida sempre criada.


Pequeno Tupã brilhava

Como estrela no nascente,

Mostrando ao povo Guarani

Que a vida é luz presente.

Era a certeza do amanhã,

Era o guia reluzente.


Assim, no mito guardado,

O menino resplandeceu,

Era promessa divina

Que o Criador concedeu.

E o mundo teve esperança

Quando a criança nasceu.


CAPÍTULO IV – A MENSAGEM DA CRIAÇÃO


Da canoa veio a lição,

Guardada em cada memória:

A vida nasce da união,

Da fé, da palavra e da glória.

O mito é voz que conduz,

É raiz da eterna história.


Os anciãos são colunas,

Sustentáculos da existência,

Guardam a palavra eterna,

Na memória e na ciência.

São pilares da criação,

São a força da consciência.


O menino ao lado deles

É sinal de continuidade,

Que a vida não se esgota,

Se renova na verdade.

É promessa que resplandece

Com a luz da mocidade.


A canoa não é só barco,

É veículo divinal,

É ponte entre o céu e a Terra,

É mensagem sem igual.

É sagrada travessia,

É caminho espiritual.


Não há mito separado

Da vida do dia a dia,

No cantar dos Guarani

É que o mundo principia.

Na canoa está o segredo,

Da palavra e da harmonia.


O ensinamento maior

Que o mito nos apresenta,

É viver com equilíbrio,

É viver de forma atenta.

Respeitar a natureza,

É lição que se sustenta.


No mundo moderno e aflito,

De correria e conflito,

Escutar a voz antiga

É remédio, é cabido.

Pois no mito há medicina,

Há conselho destemido.


A canoa segue acesa,

Na memória do viver,

É chama que nunca apaga,

É raiz do bem querer.

É a voz dos ancestrais

Nos chamando a compreender.


E assim a mensagem ecoa,

Nos rios, matas, caminhos,

Que a criação é partilha,

É união de destinos.

Que o homem só é inteiro

Se caminha com os divinos.


Ygaratá é lembrança,

É mito, é revelação.

É ponte entre os tempos,

É sopro da criação.

É lição de eternidade,

Que vive no coração.



🌺 ENCERRAMENTO


Assim termina a viagem,

Da canoa reluzente,

Que desceu do firmamento

Para ensinar ao presente.

Trouxe os dons da criação,

Com seu fogo incandescente.


Os sete mestres sagrados,

Cada qual com sua missão,

Ergueram as bases da vida,

Com palavra e oração.

E o menino trouxe o futuro,

Com luz e renovação.


O povo guardou na alma

O brilho dessa chegada,

Pois não era só lembrança,

Era lição repassada.

Era o canto dos ancestrais,

Na memória enraizada.


Quem ouve essa narrativa

Com respeito e atenção,

Recebe em seu coração

A chama da tradição.

Pois o mito é semente viva

Plantada na criação.


A canoa segue acesa

No tempo que não termina,

É barco da eternidade,

É raiz que nos ensina.

É ponte entre dois mundos,

É palavra cristalina.


Que o homem de hoje aprenda

A escutar a voz da mata,

Do trovão, da ventania,

Do rio que nunca se abata.

Pois ali moram os deuses,

A vida que nunca se mata.


O encerramento é caminho,

Não é ponto derradeiro.

É convite à reflexão,

É conselho verdadeiro.

Que o mito do fogo santo

Ilumine o mundo inteiro.


🌙 EPÍLOGO POÉTICO


E quando o livro se fecha,

Outra história principia,

Pois o mito não se apaga,

Ele é chama e poesia.

É o vento da ancestralidade,

É o sol que anuncia o dia.


Os sete mestres ainda vivem

No canto da geração,

Na fala dos mais antigos,

Na memória em oração.

São guias da eternidade,

São pilares da criação.


O menino ainda brilha,

Na esperança dos humanos,

É promessa que renova,

É futuro nos seus planos.

É Tupã Mirim sagrado,

Na jornada dos mil anos.


E a canoa de fogo eterno,

Segue viva em cada aldeia,

Nos cantos dos pajés velhos,

Na palavra que semeia.

É memória que fortalece,

É raiz que nunca se arqueia.


Este cordel se despede,

Mas não termina o caminho,

Pois o mito é companheiro,

É irmão, é sempre vizinho.

Quem escuta sua força

Nunca caminha sozinho.


E que a lição ancestral

Seja ponte entre nações,

Que o mito ensine ao mundo

A viver com corações.

Pois só haverá futuro

Com respeito às tradições.


No epílogo fica a chama,

Que do céu veio brilhar,

A canoa de fogo eterno

Segue a nos iluminar.

E o povo Guarani nos guia

Com sua voz a cantar.



📚 NOTA DE FONTES (em cordel rimado)


Cadogan nos trouxe a palavra guardada,

Dos Mbya-Guarani, memória sagrada.

Em “Ayvu Rapyta” cantou tradição,

Palavra sem tempo, raiz, coração.


Bartomeu Meliá, com saber profundo,

Revelou dos Guarani seu olhar no mundo.

No livro etno-histórico deixou seu sinal,

Do povo lutando na terra natal.


Márcia de Lima, com estudo certeiro,

Mostrou a cosmologia em traço inteiro.

Na Revista de Antropologia fez brotar,

O verbo guarani, o sopro no ar.


Marcio Cury também nos contou,

Da origem do mundo que o mito formou.

Na Tellus deixou a lição verdadeira,

Da canoa que chega, da chama primeira.



📖 QUARTA CAPA (em sextilhas poéticas)





Este cordel é canoa,

É fogo, é luz, é estrada,

Leva o leitor ao passado,

Com palavra encantada.

É memória dos Guarani,

Herança sempre guardada.


Na barca do Pai Supremo

Descem mestres ancestrais,

Com o menino de luz viva

Guiando os tempos reais.

É mito que traz ao mundo

Sabedoria e sinais.


Aqui se conta o segredo

Do trovão, vento e da chama,

Da bondade que sustenta,

Da fartura que proclama.

É poesia que revela

A força que nunca se inflama.


Não é só canto bonito,

Nem apenas invenção,

É raiz de um povo antigo,

É verdade e tradição.

É lição que o tempo guarda

Na memória e no coração.


Quem abre este livro sente

A canoa a reluzir,

O fogo do Pai Eterno

Que jamais vai se extinguir.

É convite à caminhada,

É chamado a refletir.


Assim se fecha o cordel,

Mas o mito segue inteiro.

É canto de eternidade,

É conselho verdadeiro.

Que o povo Guarani nos guia

Com sua luz no terreiro.



Índice: 


Dedicatória


Índice Poético


Abertura


Prólogo Poético


Capítulos I a IV em sextilhas


Encerramento


Epílogo Poético


Nota de Fontes (em cordel)


Quarta Capa



Autor : Nhenety Kariri-Xocó 





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