🌺 DEDICATÓRIA POÉTICA
Dedico aos povos primeiros,
Guardiões do chão sagrado,
Que cantam ao som dos ventos
O verbo eternizado.
Que o canto de Tupã-Mirim
Seja em nós sempre lembrado.
Dedico ao avô das matas,
Ao sopro, ao fogo e ao rio,
Aos que guardam a floresta
Com coração e brio.
E à palavra encantada
Que desperta o sol do frio.
🌿 ÍNDICE POÉTICO
1️⃣ Abertura — O Som da Criação
2️⃣ Prólogo Poético — A Luz de Tupã-Mirim
3️⃣ Capítulo I — A Chegada em Espírito
4️⃣ Capítulo II — O Encontro com os Mestres
5️⃣ Capítulo III — A Materialização do Corpo
6️⃣ Capítulo IV — A Criação dos Animais e das Plantas
7️⃣ Encerramento — O Verbo e o Maracá
8️⃣ Epílogo Poético — A Canção Eterna do Ser
9️⃣ Nota de Fontes — Vozes da Tradição
☀️ ABERTURA – O SOM DA CRIAÇÃO
No ventre azul do silêncio,
O mundo ainda dormia,
Nem rio, nem som, nem estrela,
Nem canto que o movia.
Até que o verbo celeste
Com o vento se reunia.
Foi quando um raio de fogo
Cortou o véu do infinito,
E o trovão de Tupã ecoou
Chamando o primeiro rito.
Do sopro nasceu o tempo,
E o espaço ficou bonito.
🌤️ PRÓLOGO POÉTICO – A LUZ DE TUPÃ-MIRIM
Do coração de Tupã,
Saiu um brilho menino,
Um ser pequeno e divino,
De destino cristalino.
Chamaram-no Tupã-Mirim,
O filho do sol destino.
Era verbo e melodia,
Era raio e oração,
Carregava em sua essência
Do mundo a vibração.
E trazia em suas mãos puras
O maracá da criação.
Com cada som que pulsava,
A terra se agitava inteira,
Pois o som era palavra
E a palavra, sementeira.
Assim nasceu o caminho,
Entre a névoa e a esteira.
🌈 CAPÍTULO I – A CHEGADA EM ESPÍRITO
No princípio, o céu dormia,
E a Terra, em sombra envolvida,
Guardava em seu ventre o canto
Da criação não nascida.
Tudo era calma profunda,
Luz ausente e voz contida.
Do coração de Tupã
Partiu o sopro divino,
Que viajou por entre os ventos
Buscando o chão cristalino.
E no sopro veio o filho,
Tupã-Mirim, pequenino.
Desceu em forma de névoa,
Com brilho de madrugada,
Era luz que andava o tempo,
Era voz encantada.
Seu corpo era som e vento,
Sua alma, alvorada.
Tinha nas mãos um maracá,
De estrela e trovão forjado,
Que vibrava entre os espaços
Como um sonho entoado.
A cada toque nascia
Um novo ser acordado.
Do giro veio o murmúrio
Que despertou os regatos,
As pedras se estremeceram,
E surgiram novos matos.
O canto rasgou o abismo,
Gerando os primeiros atos.
O som tornou-se palavra,
A palavra virou chão,
O chão pariu os caminhos,
E deles brotou o pão.
Assim nascia o mistério
Do verbo em vibração.
O maracá pulsava forte,
Chamando o tempo e o ar,
A brisa virou o sopro,
E o sol começou a brilhar.
O som do trovão distante
Anunciava o despertar.
E o pequeno Tupã-Mirim,
Filho da luz soberana,
Semeou com suas notas
A vida que o mundo emana.
Onde antes era o nada,
Surgiu a seiva humana.
Seu canto fez os rios,
E o eco chamou a lua,
As pedras tornaram-se veias,
E a água seguiu contínua.
O mundo abriu seus olhos,
E a criação era sua.
🔥 CAPÍTULO II – O ENCONTRO COM OS MESTRES
Nas brumas do firmamento,
Entre o tempo e o clarão,
Seguiu Tupã-Mirim leve
Em busca da iniciação.
Pois sabia que a pureza
Pede voz e direção.
Três mestres o aguardavam
No templo do firmamento,
Guardando o fogo, o sopro
E o amor em sentimento.
Cada um trazia um dom
E um profundo ensinamento.
O primeiro era Karai,
Mestre da chama celeste,
Com olhos de fogo antigo
E palavra que não se veste.
“Aprende, filho, o poder
Do verbo que tudo investe.”
“Da boca nasce o trovão,
Da mente brota a centelha,
O verbo é raio e caminho,
É raiz, chão e orelha.
Com ele se molda o mundo,
E o céu se torna telha.”
Depois veio Jakairá,
Senhor dos ventos sagrados,
Com cabelos como nuvens
E gestos abençoados.
Soprava e fazia dançar
Os espíritos encantados.
“Escuta, filho do céu,
O segredo do soprar,
Quem sabe ler o silêncio
Sabe o mundo transformar.
O vento é a ponte viva
Entre o verbo e o sonhar.”
Por fim surgiu Rudá, doce,
De sorriso maternal,
Trazia nas mãos sementes,
Perfume espiritual.
“Aprende, pequeno irmão,
O amor universal.”
“Tudo cresce pela ternura,
Tudo vive pelo afeto,
Quem planta com coração
Faz brotar o sol completo.
O amor é a raiz primeira
Do ser que é puro e reto.”
Tupã-Mirim ouviu atento,
Guardando o saber divino,
Do fogo, aprendeu o verbo,
Do vento, o caminho fino,
E do amor, a semente
Que faz eterno o destino.
Cumpridos os três ensinos,
O pequeno se despiu,
Morreu simbolicamente
E em espírito ressurgiu.
Estava pronto e inteiro,
Seu ciclo então se abriu.
Com a bênção dos três mestres,
Recebeu nova missão,
Habitar o corpo terreno,
Ser a vida em encarnação.
Do verbo, faria o templo,
Do canto, a criação.
🌎 CAPÍTULO III – A MATERIALIZAÇÃO DO CORPO
Cumprido o ciclo divino,
Do céu ao ventre da Terra,
Tupã-Mirim se prepara
Pra encarnar sem mais espera.
Seu espírito em silêncio
O universo já encerra.
Na beira do rio sagrado,
Tomou da argila vermelha,
Misturou água e lembrança,
Fez-se barro, fez-se telha.
Modelou-se em forma humana,
E a luz tornou-se centelha.
Do sopro nasceu a vida,
Do fogo veio o calor,
Da terra, a firme morada,
Do vento, o rumor de amor.
E o corpo foi sua casa,
Morada do Criador.
As árvores lhe deram sombra,
As nuvens, véu de oração,
Os rios lavaram seus pulsos,
O sol beijou-lhe a visão.
E o corpo se ergueu vivo,
Entre o sonho e o chão.
Seus cabelos — sombra antiga
Da mata que o acolheu,
Seus olhos — luz das estrelas
Que o próprio céu concedeu.
Na carne vibrou o verbo
Que em trovão o moveu.
O maracá foi colado
À palma da sua mão,
Virou extensão da palavra,
Som do cosmos e do chão.
Era a voz da eternidade,
Em gesto e vibração.
Com o maracá, o pequeno
Despertou novos lugares,
Traçou rios invisíveis,
Chamou seres singulares.
E o corpo, recém-nascido,
Fazia o mundo dançar.
O tempo curvou-se ao canto,
A brisa aprendeu rezar,
Os bichos ouviram atentos
O eco a se propagar.
E a Terra tornou-se templo
Pra vida germinar.
Desde então, corpo e espírito
São um só no seu querer,
Pois na carne vive a alma
E na alma vibra o ser.
Assim Tupã-Mirim mostra
O sentido de nascer.
E o homem, em sua forma,
Traz do céu a vibração,
É metade estrela e fogo,
Metade barro e chão.
É o elo entre dois mundos,
Guardiões da criação.
🌳 CAPÍTULO IV – A CRIAÇÃO DOS ANIMAIS E DAS PLANTAS
Com o corpo já desperto,
E o verbo em suas entranhas,
Tupã-Mirim caminhava
Entre florestas e montanhas.
O maracá, nas batidas,
Chamava formas estranhas.
Primeiro tocou os rios,
E as águas começaram a rir,
Do riso nasceram peixes
E o brilho veio a florir.
As correntezas dançavam,
Pedindo pra não dormir.
Depois soprou sobre o vento,
E das nuvens veio o canto,
As aves surgiram leves,
Voando por todo o manto.
O céu ficou mais bonito,
Colorido e sacrossanto.
Pisou firme sobre a terra,
E das pedras veio o rugido,
Nasceram bichos da mata,
Cada qual bem definido.
Uns fortes como o trovão,
Outros calmos, bem nascidos.
Falou para as flores mansas,
E o chão abriu-se em cor,
As árvores se ergueram,
Ofertando sombra e flor.
Da seiva brotou o doce
Do mel, raiz e sabor.
Com palavras encantadas
Criou tempos e estações,
Primavera, outono e inverno,
E as flores em mutações.
Tudo tinha o seu ciclo,
Guiado por corações.
O sol recebeu seu posto,
A lua o seu caminhar,
As marés se equilibraram,
No toque do seu cantar.
E a noite virou descanso,
O dia, força no ar.
Tupã-Mirim ensinava
A cada ser a função,
Ao pássaro — o voo e o canto,
Ao rio — a purificação.
A tudo dava um sentido,
Um destino e uma missão.
Depois mostrou aos seus filhos
Que tudo é parte de um todo,
Que o vento precisa da água,
E a vida não vive em modo.
Quem desrespeita o equilíbrio
Chora no mesmo lodo.
Assim se fez a harmonia
Entre o visível e o além,
Tudo pulsa, tudo sente,
Tudo é irmão, tudo é bem.
E o homem, filho do barro,
É parte desse também.
Por fim, guardou no silêncio
A reza do bem viver,
Deu ao povo a sabedoria
De plantar e florescer.
E o maracá, em seu canto,
Continuou a nascer.
🌅 ENCERRAMENTO – O VERBO E O MARACÁ
Assim nasceu o universo,
Entre canto e oração,
Entre verbo e maracá,
Somando corpo e visão.
Tupã-Mirim, ser primeiro,
Fez da voz sua missão.
O maracá é lembrança
Da batida do universo,
Cada reza é continuação
Desse canto imerso.
E o povo originário
Guarda o mito em verso.
🌺 DEDICATÓRIA POÉTICA
Dedico aos povos primeiros,
Guardiões do chão sagrado,
Que cantam ao som dos ventos
O verbo eternizado.
Que o canto de Tupã-Mirim
Seja em nós sempre lembrado.
Dedico ao avô das matas,
Ao sopro, ao fogo e ao rio,
Aos que guardam a floresta
Com coração e brio.
E à palavra encantada
Que desperta o sol do frio.
🌿 ÍNDICE POÉTICO
1️⃣ Abertura — O Som da Criação
2️⃣ Prólogo Poético — A Luz de Tupã-Mirim
3️⃣ Capítulo I — A Chegada em Espírito
4️⃣ Capítulo II — O Encontro com os Mestres
5️⃣ Capítulo III — A Materialização do Corpo
6️⃣ Capítulo IV — A Criação dos Animais e das Plantas
7️⃣ Encerramento — O Verbo e o Maracá
8️⃣ Epílogo Poético — A Canção Eterna do Ser
9️⃣ Nota de Fontes — Vozes da Tradição
☀️ ABERTURA – O SOM DA CRIAÇÃO
No ventre azul do silêncio,
O mundo ainda dormia,
Nem rio, nem som, nem estrela,
Nem canto que o movia.
Até que o verbo celeste
Com o vento se reunia.
Foi quando um raio de fogo
Cortou o véu do infinito,
E o trovão de Tupã ecoou
Chamando o primeiro rito.
Do sopro nasceu o tempo,
E o espaço ficou bonito.
🌤️ PRÓLOGO POÉTICO – A LUZ DE TUPÃ-MIRIM
Do coração de Tupã,
Saiu um brilho menino,
Um ser pequeno e divino,
De destino cristalino.
Chamaram-no Tupã-Mirim,
O filho do sol destino.
Era verbo e melodia,
Era raio e oração,
Carregava em sua essência
Do mundo a vibração.
E trazia em suas mãos puras
O maracá da criação.
Com cada som que pulsava,
A terra se agitava inteira,
Pois o som era palavra
E a palavra, sementeira.
Assim nasceu o caminho,
Entre a névoa e a esteira.
🌈
🌅 ENCERRAMENTO – O VERBO E O MARACÁ
Assim nasceu o universo,
Entre canto e oração,
Entre verbo e maracá,
Somando corpo e visão.
Tupã-Mirim, ser primeiro,
Fez da voz sua missão.
O maracá é lembrança
Da batida do universo,
Cada reza é continuação
Desse canto imerso.
E o povo originário
Guarda o mito em verso.
🌕 EPÍLOGO POÉTICO – A CANÇÃO ETERNA DO SER
Hoje, quando o vento canta
E a floresta se acende,
O sopro de Tupã-Mirim
Entre as folhas se estende.
A vida é reza contínua,
E o sagrado nos entende.
Quem escuta a natureza
Ouve o mesmo coração,
Pois o maracá ressoa
Em toda geração.
E o verbo que cria o mundo
É o mesmo da criação.
📚 NOTA DE FONTES – VOZES DA TRADIÇÃO
Das páginas do saber,
Trago viva inspiração,
Das palavras ancestrais
Que moldaram a canção.
Ouçam os nomes sagrados
Que guiam esta oração:
Kopenawa, voz da selva,
Xamã do céu e da flor,
Com Bruce Albert escreveu
Palavras de um trovador:
“A Queda do Céu” ressoa
No espírito e no amor.
Nimuendajú, guardião
Dos mitos do Guarani,
Com saber e coração,
Mostrou o início daqui.
Os “Apapocúva” lembram
O que habita dentro em si.
Câmara Cascudo, mestre
Do folclore e da memória,
Registrou no seu “Dicionário”
A raiz da nossa história.
Por ele o canto indígena
Permanece em nossa glória.
E Regina Duarte ensina
O encanto dos mitos mil,
Mostrando em cada palavra
O poder do povo gentil.
Do “Mundo dos Mitos Índios”,
Brota o espírito sutil.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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