sábado, 4 de outubro de 2025

O CICLO DE TUPÃ-MIRIM NA CRIAÇÃO DO MUNDO VIVO, Por Nhenety Kariri-Xocó





🌺 DEDICATÓRIA POÉTICA


Dedico aos povos primeiros,

Guardiões do chão sagrado,

Que cantam ao som dos ventos

O verbo eternizado.

Que o canto de Tupã-Mirim

Seja em nós sempre lembrado.


Dedico ao avô das matas,

Ao sopro, ao fogo e ao rio,

Aos que guardam a floresta

Com coração e brio.

E à palavra encantada

Que desperta o sol do frio.


🌿 ÍNDICE POÉTICO


1️⃣ Abertura — O Som da Criação

2️⃣ Prólogo Poético — A Luz de Tupã-Mirim

3️⃣ Capítulo I — A Chegada em Espírito

4️⃣ Capítulo II — O Encontro com os Mestres

5️⃣ Capítulo III — A Materialização do Corpo

6️⃣ Capítulo IV — A Criação dos Animais e das Plantas

7️⃣ Encerramento — O Verbo e o Maracá

8️⃣ Epílogo Poético — A Canção Eterna do Ser

9️⃣ Nota de Fontes — Vozes da Tradição


☀️ ABERTURA – O SOM DA CRIAÇÃO


No ventre azul do silêncio,

O mundo ainda dormia,

Nem rio, nem som, nem estrela,

Nem canto que o movia.

Até que o verbo celeste

Com o vento se reunia.


Foi quando um raio de fogo

Cortou o véu do infinito,

E o trovão de Tupã ecoou

Chamando o primeiro rito.

Do sopro nasceu o tempo,

E o espaço ficou bonito.


🌤️ PRÓLOGO POÉTICO – A LUZ DE TUPÃ-MIRIM


Do coração de Tupã,

Saiu um brilho menino,

Um ser pequeno e divino,

De destino cristalino.

Chamaram-no Tupã-Mirim,

O filho do sol destino.


Era verbo e melodia,

Era raio e oração,

Carregava em sua essência

Do mundo a vibração.

E trazia em suas mãos puras

O maracá da criação.


Com cada som que pulsava,

A terra se agitava inteira,

Pois o som era palavra

E a palavra, sementeira.

Assim nasceu o caminho,

Entre a névoa e a esteira.


🌈 CAPÍTULO I – A CHEGADA EM ESPÍRITO


No princípio, o céu dormia,

E a Terra, em sombra envolvida,

Guardava em seu ventre o canto

Da criação não nascida.

Tudo era calma profunda,

Luz ausente e voz contida.


Do coração de Tupã

Partiu o sopro divino,

Que viajou por entre os ventos

Buscando o chão cristalino.

E no sopro veio o filho,

Tupã-Mirim, pequenino.


Desceu em forma de névoa,

Com brilho de madrugada,

Era luz que andava o tempo,

Era voz encantada.

Seu corpo era som e vento,

Sua alma, alvorada.


Tinha nas mãos um maracá,

De estrela e trovão forjado,

Que vibrava entre os espaços

Como um sonho entoado.

A cada toque nascia

Um novo ser acordado.


Do giro veio o murmúrio

Que despertou os regatos,

As pedras se estremeceram,

E surgiram novos matos.

O canto rasgou o abismo,

Gerando os primeiros atos.


O som tornou-se palavra,

A palavra virou chão,

O chão pariu os caminhos,

E deles brotou o pão.

Assim nascia o mistério

Do verbo em vibração.


O maracá pulsava forte,

Chamando o tempo e o ar,

A brisa virou o sopro,

E o sol começou a brilhar.

O som do trovão distante

Anunciava o despertar.


E o pequeno Tupã-Mirim,

Filho da luz soberana,

Semeou com suas notas

A vida que o mundo emana.

Onde antes era o nada,

Surgiu a seiva humana.


Seu canto fez os rios,

E o eco chamou a lua,

As pedras tornaram-se veias,

E a água seguiu contínua.

O mundo abriu seus olhos,

E a criação era sua.


🔥 CAPÍTULO II – O ENCONTRO COM OS MESTRES


Nas brumas do firmamento,

Entre o tempo e o clarão,

Seguiu Tupã-Mirim leve

Em busca da iniciação.

Pois sabia que a pureza

Pede voz e direção.


Três mestres o aguardavam

No templo do firmamento,

Guardando o fogo, o sopro

E o amor em sentimento.

Cada um trazia um dom

E um profundo ensinamento.


O primeiro era Karai,

Mestre da chama celeste,

Com olhos de fogo antigo

E palavra que não se veste.

“Aprende, filho, o poder

Do verbo que tudo investe.”


“Da boca nasce o trovão,

Da mente brota a centelha,

O verbo é raio e caminho,

É raiz, chão e orelha.

Com ele se molda o mundo,

E o céu se torna telha.”


Depois veio Jakairá,

Senhor dos ventos sagrados,

Com cabelos como nuvens

E gestos abençoados.

Soprava e fazia dançar

Os espíritos encantados.


“Escuta, filho do céu,

O segredo do soprar,

Quem sabe ler o silêncio

Sabe o mundo transformar.

O vento é a ponte viva

Entre o verbo e o sonhar.”


Por fim surgiu Rudá, doce,

De sorriso maternal,

Trazia nas mãos sementes,

Perfume espiritual.

“Aprende, pequeno irmão,

O amor universal.”


“Tudo cresce pela ternura,

Tudo vive pelo afeto,

Quem planta com coração

Faz brotar o sol completo.

O amor é a raiz primeira

Do ser que é puro e reto.”


Tupã-Mirim ouviu atento,

Guardando o saber divino,

Do fogo, aprendeu o verbo,

Do vento, o caminho fino,

E do amor, a semente

Que faz eterno o destino.


Cumpridos os três ensinos,

O pequeno se despiu,

Morreu simbolicamente

E em espírito ressurgiu.

Estava pronto e inteiro,

Seu ciclo então se abriu.


Com a bênção dos três mestres,

Recebeu nova missão,

Habitar o corpo terreno,

Ser a vida em encarnação.

Do verbo, faria o templo,

Do canto, a criação.


🌎 CAPÍTULO III – A MATERIALIZAÇÃO DO CORPO


Cumprido o ciclo divino,

Do céu ao ventre da Terra,

Tupã-Mirim se prepara

Pra encarnar sem mais espera.

Seu espírito em silêncio

O universo já encerra.


Na beira do rio sagrado,

Tomou da argila vermelha,

Misturou água e lembrança,

Fez-se barro, fez-se telha.

Modelou-se em forma humana,

E a luz tornou-se centelha.


Do sopro nasceu a vida,

Do fogo veio o calor,

Da terra, a firme morada,

Do vento, o rumor de amor.

E o corpo foi sua casa,

Morada do Criador.


As árvores lhe deram sombra,

As nuvens, véu de oração,

Os rios lavaram seus pulsos,

O sol beijou-lhe a visão.

E o corpo se ergueu vivo,

Entre o sonho e o chão.


Seus cabelos — sombra antiga

Da mata que o acolheu,

Seus olhos — luz das estrelas

Que o próprio céu concedeu.

Na carne vibrou o verbo

Que em trovão o moveu.


O maracá foi colado

À palma da sua mão,

Virou extensão da palavra,

Som do cosmos e do chão.

Era a voz da eternidade,

Em gesto e vibração.


Com o maracá, o pequeno

Despertou novos lugares,

Traçou rios invisíveis,

Chamou seres singulares.

E o corpo, recém-nascido,

Fazia o mundo dançar.


O tempo curvou-se ao canto,

A brisa aprendeu rezar,

Os bichos ouviram atentos

O eco a se propagar.

E a Terra tornou-se templo

Pra vida germinar.


Desde então, corpo e espírito

São um só no seu querer,

Pois na carne vive a alma

E na alma vibra o ser.

Assim Tupã-Mirim mostra

O sentido de nascer.


E o homem, em sua forma,

Traz do céu a vibração,

É metade estrela e fogo,

Metade barro e chão.

É o elo entre dois mundos,

Guardiões da criação.


🌳 CAPÍTULO IV – A CRIAÇÃO DOS ANIMAIS E DAS PLANTAS


Com o corpo já desperto,

E o verbo em suas entranhas,

Tupã-Mirim caminhava

Entre florestas e montanhas.

O maracá, nas batidas,

Chamava formas estranhas.


Primeiro tocou os rios,

E as águas começaram a rir,

Do riso nasceram peixes

E o brilho veio a florir.

As correntezas dançavam,

Pedindo pra não dormir.


Depois soprou sobre o vento,

E das nuvens veio o canto,

As aves surgiram leves,

Voando por todo o manto.

O céu ficou mais bonito,

Colorido e sacrossanto.


Pisou firme sobre a terra,

E das pedras veio o rugido,

Nasceram bichos da mata,

Cada qual bem definido.

Uns fortes como o trovão,

Outros calmos, bem nascidos.


Falou para as flores mansas,

E o chão abriu-se em cor,

As árvores se ergueram,

Ofertando sombra e flor.

Da seiva brotou o doce

Do mel, raiz e sabor.


Com palavras encantadas

Criou tempos e estações,

Primavera, outono e inverno,

E as flores em mutações.

Tudo tinha o seu ciclo,

Guiado por corações.


O sol recebeu seu posto,

A lua o seu caminhar,

As marés se equilibraram,

No toque do seu cantar.

E a noite virou descanso,

O dia, força no ar.


Tupã-Mirim ensinava

A cada ser a função,

Ao pássaro — o voo e o canto,

Ao rio — a purificação.

A tudo dava um sentido,

Um destino e uma missão.


Depois mostrou aos seus filhos

Que tudo é parte de um todo,

Que o vento precisa da água,

E a vida não vive em modo.

Quem desrespeita o equilíbrio

Chora no mesmo lodo.


Assim se fez a harmonia

Entre o visível e o além,

Tudo pulsa, tudo sente,

Tudo é irmão, tudo é bem.

E o homem, filho do barro,

É parte desse também.


Por fim, guardou no silêncio

A reza do bem viver,

Deu ao povo a sabedoria

De plantar e florescer.

E o maracá, em seu canto,

Continuou a nascer.



🌅 ENCERRAMENTO – O VERBO E O MARACÁ


Assim nasceu o universo,

Entre canto e oração,

Entre verbo e maracá,

Somando corpo e visão.

Tupã-Mirim, ser primeiro,

Fez da voz sua missão.


O maracá é lembrança

Da batida do universo,

Cada reza é continuação

Desse canto imerso.

E o povo originário

Guarda o mito em verso.



🌺 DEDICATÓRIA POÉTICA


Dedico aos povos primeiros,

Guardiões do chão sagrado,

Que cantam ao som dos ventos

O verbo eternizado.

Que o canto de Tupã-Mirim

Seja em nós sempre lembrado.


Dedico ao avô das matas,

Ao sopro, ao fogo e ao rio,

Aos que guardam a floresta

Com coração e brio.

E à palavra encantada

Que desperta o sol do frio.


🌿 ÍNDICE POÉTICO


1️⃣ Abertura — O Som da Criação

2️⃣ Prólogo Poético — A Luz de Tupã-Mirim

3️⃣ Capítulo I — A Chegada em Espírito

4️⃣ Capítulo II — O Encontro com os Mestres

5️⃣ Capítulo III — A Materialização do Corpo

6️⃣ Capítulo IV — A Criação dos Animais e das Plantas

7️⃣ Encerramento — O Verbo e o Maracá

8️⃣ Epílogo Poético — A Canção Eterna do Ser

9️⃣ Nota de Fontes — Vozes da Tradição


☀️ ABERTURA – O SOM DA CRIAÇÃO


No ventre azul do silêncio,

O mundo ainda dormia,

Nem rio, nem som, nem estrela,

Nem canto que o movia.

Até que o verbo celeste

Com o vento se reunia.


Foi quando um raio de fogo

Cortou o véu do infinito,

E o trovão de Tupã ecoou

Chamando o primeiro rito.

Do sopro nasceu o tempo,

E o espaço ficou bonito.


🌤️ PRÓLOGO POÉTICO – A LUZ DE TUPÃ-MIRIM


Do coração de Tupã,

Saiu um brilho menino,

Um ser pequeno e divino,

De destino cristalino.

Chamaram-no Tupã-Mirim,

O filho do sol destino.


Era verbo e melodia,

Era raio e oração,

Carregava em sua essência

Do mundo a vibração.

E trazia em suas mãos puras

O maracá da criação.


Com cada som que pulsava,

A terra se agitava inteira,

Pois o som era palavra

E a palavra, sementeira.

Assim nasceu o caminho,

Entre a névoa e a esteira.


🌈 

🌅 ENCERRAMENTO – O VERBO E O MARACÁ


Assim nasceu o universo,

Entre canto e oração,

Entre verbo e maracá,

Somando corpo e visão.

Tupã-Mirim, ser primeiro,

Fez da voz sua missão.


O maracá é lembrança

Da batida do universo,

Cada reza é continuação

Desse canto imerso.

E o povo originário

Guarda o mito em verso.


🌕 EPÍLOGO POÉTICO – A CANÇÃO ETERNA DO SER


Hoje, quando o vento canta

E a floresta se acende,

O sopro de Tupã-Mirim

Entre as folhas se estende.

A vida é reza contínua,

E o sagrado nos entende.


Quem escuta a natureza

Ouve o mesmo coração,

Pois o maracá ressoa

Em toda geração.

E o verbo que cria o mundo

É o mesmo da criação.


📚 NOTA DE FONTES – VOZES DA TRADIÇÃO


Das páginas do saber,

Trago viva inspiração,

Das palavras ancestrais

Que moldaram a canção.

Ouçam os nomes sagrados

Que guiam esta oração:


Kopenawa, voz da selva,

Xamã do céu e da flor,

Com Bruce Albert escreveu

Palavras de um trovador:

“A Queda do Céu” ressoa

No espírito e no amor.


Nimuendajú, guardião

Dos mitos do Guarani,

Com saber e coração,

Mostrou o início daqui.

Os “Apapocúva” lembram

O que habita dentro em si.


Câmara Cascudo, mestre

Do folclore e da memória,

Registrou no seu “Dicionário”

A raiz da nossa história.

Por ele o canto indígena

Permanece em nossa glória.


E Regina Duarte ensina

O encanto dos mitos mil,

Mostrando em cada palavra

O poder do povo gentil.

Do “Mundo dos Mitos Índios”,

Brota o espírito sutil.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 


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