quarta-feira, 8 de outubro de 2025

DOIS IRMÃOS NO MUNDO, Literatura de Cordel, Por Nhenety Kariri-Xocó, Capítulos I- III





🌺 DEDICATÓRIA POÉTICA


Dedico este cordel sincero,

Ao povo que é minha raiz,

Aos ventos do São Francisco,

Que ao coração sempre diz,

“Jamais esqueça tua origem,

É nela que o espírito é feliz.”


À Mãe-Terra que me acolhe,

Com a seiva do saber nativo,

Aos irmãos da mesma aldeia,

Do amor coletivo e vivo,

A quem semeia cultura e alma,

De um tempo sempre altivo.


E ao leitor que aqui caminha,

Entre versos de união,

Que veja em Patã e Porã,

Um reflexo do coração,

Entre o saber e a lembrança,

Há uma só tradição.


📖 ÍNDICE POÉTICO


Índice Poético


Abertura


Prólogo Poético


Capítulo I  - As Origens na Aldeia e o Chamado do Mundo 

Capítulo II  - Os Caminhos da Partida e da Mudança 


Capítulo III  -  O Reencontro e a Sabedoria da Mãe-Terra 


Encerramento


Epílogo Poético


Nota de Fontes Rimada


Ficha Técnica


Epílogo Final


Quarta Capa Poética


Sobre o Autor


Sobre a Obra


Quarta Capa 3D Digital


🌞 ABERTURA


Entre o rio e a memória,

Surge o verso encantado,

Um cordel que conta a história

De um povo abençoado.


É a aldeia que ressoa,

Na batida do coração,

De dois irmãos no caminho,

Em busca da tradição.


Um segue o rumo do estudo,

Outro guarda o chão sagrado,

Mas ambos são da mesma lua,

Pelo amor iluminado.


Este cordel é uma ponte,

Entre o tempo e a criação,

Da ciência à natureza,

Unidos pela canção.



🌿 PRÓLOGO POÉTICO


Nasceu este canto antigo,

Do tempo e da vibração,

Dois irmãos são dois caminhos,

Da terra e da inspiração.


Um busca o saber dos livros,

Outro escuta a canção,

Que vem da mata e dos rios,

Da eterna criação.


Assim começa o cordel,

Do coração que germina,

Onde o homem e a natureza

São raiz da mesma sina.


Que cada verso que siga

Desperte o ser interior,

Pois o mundo só é inteiro

Com respeito e com amor.


Quando a Mãe-Terra respira,

E o vento sopra na serra,

Surge a voz dos ancestrais,

Que ainda vive sobre a terra.


Patã quis ver o mundo,

Porã quis ficar no chão,

Um busca o saber dos livros,

O outro a revelação.


O tempo os fez diferentes,

Mas o sangue os faz iguais,

Ambos filhos do mesmo ventre,

Da Mãe dos seres ancestrais.


Nesta história há um espelho,

Que reflete o coração:

Entre a aldeia e a cidade,

Corre o mesmo rio da união.



🌾 I CAPÍTULO — AS ORIGENS NA ALDEIA E O CHAMADO DO MUNDO


O lugar que todos nascemos

Nunca podemos esquecer

Onde ficam nossas origens

Devemos mesmo fortalecer

Ouvindo velhas histórias

A memória vai estabelecer .


Há muito tempo atrás

Contam os mais antigos

Na Aldeia Kariri-Xocó

De dois irmãos e amigos

No Rio do São Francisco

Longe de todos perigos .


Eram filhos da Mãe Terra

Os dois irmãos no mundo

Um era Patã o outro Porã

Do povo indígena oriundo

Viviam alí sempre juntos

Fruto do amor profundo .


Na oca onde Patã vivia

Porã também alí morava

Mãe Terra toda orgulhosa

Dessa união que brotava

Era bonito ver eles assim

Numa tradição acreditava .


Na aldeia meio à floresta

Um belo dia uma novidade

Chegou a escola civilizada

Com estudo na urbanidade

Serviço de Proteção ao Índio

Chegando nessa comunidade .


Patã logo se interessou

A Mãe Terra deu permissão

Para frequentar a escola

O mundo essa compreensão

Como seria fora da aldeia

Estudar e ter profissão .


A Mãe Terra tudo sabendo

Que Patã logo continuaria

Percorrendo seu caminho

Na opinião não recuaria

Aceitou a decisão do filho

Portanto ela respeitaria .


Porã não entendia porque

O irmão dava importância

Tanto para aquela escola

A aldeia tem na abundância

Tudo que poderiam aprender

Nós temos a predominância .


No dia a dia na natureza

Nossos anciões ensinavam

Na escola que Patã gostava

A felicidade alí mostravam

Da vida bem fora da aldeia

Nossa Mãe presenteavam .


Aos poucos o menino foi

Através dos livros conhecendo

Paisagens de Terras distantes

Os estudos lhes esclarecendo

Cidades, carros e tudo mais

Um mundo novo reconhecendo .


🌍 II CAPÍTULO — OS CAMINHOS DA PARTIDA E DA MUDANÇA


E a cada dia que passava

Ele sonhava em um dia poder

Quando atingir maioridade

Sair da aldeia e compreender

Tudo que os olhos viu pelos livros

Para aquilo ele empreender .


Em um dia de chuva Patã foi

Embora sem dele se despedir

Apareceu uma oportunidade

No avexame teve que decidir

Não pode ver mais seu irmão

Saiu pelo mundo sem iludir .


Foi conhecer o que era novo

Para trás sem menos olhar

Os dois irmãos se separaram

Muitas coisas não partilhar

Seria uma despedida breve

Nem isso pode compartilhar .


Seguiram rumos diferentes

Porã cresceu prestando atenção

Tudo que acontecia na aldeia

Para sua cultura a manutenção

Aprendia histórias com anciões

De toda a tribo ela tinha benção .


Aqui Porã foi muito dedicado

Um aprendiz da sua tradição

Casou teve família na mata

Com coragem e disposição

Ao lado todos seus parentes

Os animais como contribuição .


Patã conhece o mundo inteiro

Ficou rico muito bem famoso

Casou vivendo feliz na cidade

Tinha carro além de charmoso

Às vezes pensava na sua aldeia

Sem parentes ficava lacrimoso .


Com essa nova realidade

Patã estava convencido

Que seu lugar agora era ali

Riqueza do mundo oferecido

Um vida cheia de mordomia

Nem tudo havia desvanecido .


Patã sentia que faltava algo

Mas o que poderia de fato ser

Sentia bem um vazio imenso

O imaginário a contradisser

Não tinha solução do caso

Deixou o tempo se depuser .


Um dia visitou o zoológico

Com filhos acompanhado

Avistou uma onça pintada

Lembrou do tempo aldeado

Onde a felina era sua irmã

Do seu clã no significado .


Resolveu tirar férias e viajar

Para o lugar onde teria nascido

Lembrar quando era menino

Onde saiu de lá bem crescido

Queria chegar logo na tribo

Do meu São Francisco querido .


🌅 III CAPÍTULO — O REENCONTRO E A SABEDORIA DA MÃE TERRA


Ao chegar na aldeia correu

Para Porã com ele encontrar

Os irmãos se reconheceram

No longo abraço a demonstrar

Chorando de tanta saudade

Começaram logo a palestrar .


No passeio os dois irmãos

Patã diz tem casa para abrigar

Um emprego que lhe sustenta

Carro do bom para junto viajar

Mas ainda sinto todo um vazio

Que não consigo enxergar .


Porã respondeu sou a Natureza

Me abriga do Sol que me aquece

O rio que sempre me alimenta

Na tradição nativa que fortalece

Ainda assim sinto outro vazio

A precariedade me desfavorece .


Um irmão olhou logo para o outro

Ao mesmo tempo ao outro falaram:

Patã como seria a Terra lá de fora?

As coisas que povos contemplaram

Porã como é a Terra aqui de dentro?

Na cultura que sempre continuaram .


Os dois irmãos se uniram

Ensinando que tinha aprendido

Um ao outro novamente

O que ambos havia regredido

Durante esses anos todos

Do tempo que passou sucedido .


Porã devolveu para Patã

A Terra que o irmão esqueceu

E Patã apresentou a Porã

Na Terra do irmão não conheceu

Mãe respirou novamente feliz

Toda comunidade compareceu .


Que não consigo enxergar...

Porã falou: — Sou Natureza!

Sou sombra, sou Sol a brilhar,

O rio me dá fortaleza.

Na tradição vou habitar,

Mas carrego uma tristeza.


A vida é dura, sem favor,

A carência me adoece.

Um irmão olhou com amor,

E em uníssono, acontece:

— Patã, como é teu sabor

Na Terra que te enriquece?


— Porã, qual seria tua raiz

Na Terra de encantamento?

Que cultura é quem te diz

O valor de um sentimento?

Que tradição te faz feliz

Nos cantos do firmamento?


Os dois irmãos se abraçaram

Com saberes do passado.

Juntos então caminharam

Com um sonho reencontrado.

As memórias despertaram

O que estava silenciado.


Porã atendeu a seu irmão

A Terra que ele esqueceu.

E Patã, com o coração,

Mostrou o que conheceu.

Mãe-Terra sorriu então,

Com o povo todo acorreu.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



🌕 ENCERRAMENTO


O cordel aqui termina,

Mas o canto não tem fim,

Pois o mundo de dois irmãos,

Ecoa dentro de mim.


A lição que o verso deixa,

É simples como a canção:

Sem raiz não há caminho,

Sem amor não há união.


O saber do homem moderno,

E a força da tradição,

Só se completam no encontro

Do corpo com o chão.


🌈 EPÍLOGO POÉTICO


Porã olhou para o céu,

Patã sorriu para o chão,

E a Mãe-Terra agradecida,

Os envolveu de emoção.


Na aldeia o povo canta,

O rio faz devoção,

O saber da mata e do livro,

Misturam-se na canção.


O mundo não tem fronteira,

Quando há compreensão,

Pois a ciência e a natureza

São irmãs da criação.


Assim termina esta lenda,

Com mensagem verdadeira:

Quem conhece sua origem,

Conhece a vida inteira.


📚 NOTA DE FONTES RIMADAS


Nos livros e nas aldeias,

Encontrei a inspiração,

Em vozes dos meus anciões,

Guardadas no coração.


Em Câmara Cascudo aprendo,

O folclore em tradição,

Em Mário de Andrade entendo,

A força da criação.


Da cultura popular,

Trago eterna devoção,

De Ariano Suassuna,

Colho arte e emoção.


Mas é na voz da floresta,

E no rio do meu sertão,

Que escrevo este cordel,

Com o dom da inspiração.


E assim deixo registrado,

Na memória e na canção,

O saber dos Kariri-Xocó,

Herança e continuação.



🌺 Síntese final:


“Dois Irmãos no Mundo” é um cordel que une dois caminhos — o da sabedoria ancestral e o do conhecimento moderno — como reflexo da alma indígena e da essência humana. A história de Patã e Porã é a metáfora viva da reconciliação entre o homem e a natureza, entre o progresso e a tradição.



🪞 FICHA TÉCNICA 


Título: Dois Irmãos no Mundo — Literatura de Cordel

Autor: Nhenety Kariri-Xocó

Edição e Organização: Nhenety Kariri-Xocó e ChatGPT (Assistente Virtual de Diagramação e Revisão Poética)

Ilustração e Capa 3D Digital: Criação artística assistida por IA – estilo realista e simbólico Kariri-Xocó

Local: Porto Real do Colégio – AL, Brasil

Ano: 2025

Formato: Cordel-Livro em verso e imagem – Edição Especial A5

Direitos Autorais: © Nhenety Kariri-Xocó, todos os direitos reservados.

Reprodução total ou parcial somente com autorização do autor.


Contato do Autor / Blog Cultural:

🌐 https://kxnhenety.blogspot.com




🌺 EPÍLOGO FINAL 

Entre páginas e memórias,
Segue o rio da tradição,
Patã e Porã se tornam
Símbolo da união.

Um ensina o livro e o mundo,
Outro ensina o chão e o vento,
E quem lê aprende junto
O valor do sentimento.

Pois a história continua,
No olhar de quem prossegue,
Que a vida é semente e chuva,
Que a alma é rio que segue.

Assim finda esta mensagem,
Com ternura e com lembrança:
O saber é liberdade,
E o amor, eterna herança.



🌻 QUARTA CAPA POÉTICA 









Entre o saber e a raiz,
Entre o chão e o pensamento,
Caminham dois irmãos do tempo,
Num mesmo encantamento.

Um levou a aldeia consigo,
Outro ficou com o luar,
Mas ambos, filhos da Terra,
Se encontraram ao voltar.

Este cordel é um espelho,
Que reflete o coração,
Do povo Kariri-Xocó,
Guardião da tradição.

Ler é também recordar,
Ouvir o rio do sertão,
Que canta: “o saber moderno
floresce com o pé no chão.”



ORELHA ESQUERDA (sobre o autor)





Sobre o Autor



Nhenety Kariri-Xocó


Filho da terra, guardião da palavra e contador de histórias, Nhenety traz em sua escrita a força da ancestralidade Kariri-Xocó, povo enraizado em Porto Real do Colégio (AL).


Sua voz percorre o tempo como rio: ora canto, ora cordel, ora memória.


No entrelace da oralidade e da escrita, ele reconstrói mundos, preserva tradições e recria universos.


Neste cordel, assim como em outras obras, Nhenety transforma o ato de escrever em caminho espiritual e cultural. Sua pena é ponte entre passado, presente e futuro — e cada verso é um convite para que o leitor se descubra parte da grande tapeçaria do imaginário.


ORELHA DIREITA (sobre a obra)


Sobre a Obra


Dois  Irmãos no Mundo, Literatura de Cordel, Por Nhenety Kariri-Xocó, não é apenas um cordel: é uma realidade da comunidade Kariri-Xocó. 


Nhenety na sua comunidade ouviu e viu muitos parentes que foram para as cidades estudar, trabalhar e outros ficaram na aldeia para preservar as tradições. 


Com a maestria da poesia popular, o autor resgata essas histerias o transforma em literatura de cordel: um panorama poético dos indígenas do Brasil que viajam em busca de melhores condições de vida, mas não esquecem que a verdadeira felicidade estar na terra natal.


Aqui, cada capítulo revela que Dois Irmãos no Mundo é o retrato da realidade das aldeias do Brasil, que o cordel estar também na alma do povo nordestino, como um guardião de saberes e portal da imaginação.


Este cordel se inscreve como obra para a posteridade: memória, poesia e crítica se unem para reafirmar que Dois Irmãos no Mundo permanece vivo, pulsando no coração de quem lê, sonha e continua a contar histórias.



Nhenety Kariri-Xocó 








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