🌺 DEDICATÓRIA POÉTICA
Dedico este cordel sincero,
Ao povo que é minha raiz,
Aos ventos do São Francisco,
Que ao coração sempre diz,
“Jamais esqueça tua origem,
É nela que o espírito é feliz.”
À Mãe-Terra que me acolhe,
Com a seiva do saber nativo,
Aos irmãos da mesma aldeia,
Do amor coletivo e vivo,
A quem semeia cultura e alma,
De um tempo sempre altivo.
E ao leitor que aqui caminha,
Entre versos de união,
Que veja em Patã e Porã,
Um reflexo do coração,
Entre o saber e a lembrança,
Há uma só tradição.
📖 ÍNDICE POÉTICO
Índice Poético
Abertura
Prólogo Poético
Capítulo I - As Origens na Aldeia e o Chamado do Mundo
Capítulo II - Os Caminhos da Partida e da Mudança
Capítulo III - O Reencontro e a Sabedoria da Mãe-Terra
Encerramento
Epílogo Poético
Nota de Fontes Rimada
Ficha Técnica
Epílogo Final
Quarta Capa Poética
Sobre o Autor
Sobre a Obra
Quarta Capa 3D Digital
🌞 ABERTURA
Entre o rio e a memória,
Surge o verso encantado,
Um cordel que conta a história
De um povo abençoado.
É a aldeia que ressoa,
Na batida do coração,
De dois irmãos no caminho,
Em busca da tradição.
Um segue o rumo do estudo,
Outro guarda o chão sagrado,
Mas ambos são da mesma lua,
Pelo amor iluminado.
Este cordel é uma ponte,
Entre o tempo e a criação,
Da ciência à natureza,
Unidos pela canção.
🌿 PRÓLOGO POÉTICO
Nasceu este canto antigo,
Do tempo e da vibração,
Dois irmãos são dois caminhos,
Da terra e da inspiração.
Um busca o saber dos livros,
Outro escuta a canção,
Que vem da mata e dos rios,
Da eterna criação.
Assim começa o cordel,
Do coração que germina,
Onde o homem e a natureza
São raiz da mesma sina.
Que cada verso que siga
Desperte o ser interior,
Pois o mundo só é inteiro
Com respeito e com amor.
Quando a Mãe-Terra respira,
E o vento sopra na serra,
Surge a voz dos ancestrais,
Que ainda vive sobre a terra.
Patã quis ver o mundo,
Porã quis ficar no chão,
Um busca o saber dos livros,
O outro a revelação.
O tempo os fez diferentes,
Mas o sangue os faz iguais,
Ambos filhos do mesmo ventre,
Da Mãe dos seres ancestrais.
Nesta história há um espelho,
Que reflete o coração:
Entre a aldeia e a cidade,
Corre o mesmo rio da união.
🌾 I CAPÍTULO — AS ORIGENS NA ALDEIA E O CHAMADO DO MUNDO
O lugar que todos nascemos
Nunca podemos esquecer
Onde ficam nossas origens
Devemos mesmo fortalecer
Ouvindo velhas histórias
A memória vai estabelecer .
Há muito tempo atrás
Contam os mais antigos
Na Aldeia Kariri-Xocó
De dois irmãos e amigos
No Rio do São Francisco
Longe de todos perigos .
Eram filhos da Mãe Terra
Os dois irmãos no mundo
Um era Patã o outro Porã
Do povo indígena oriundo
Viviam alí sempre juntos
Fruto do amor profundo .
Na oca onde Patã vivia
Porã também alí morava
Mãe Terra toda orgulhosa
Dessa união que brotava
Era bonito ver eles assim
Numa tradição acreditava .
Na aldeia meio à floresta
Um belo dia uma novidade
Chegou a escola civilizada
Com estudo na urbanidade
Serviço de Proteção ao Índio
Chegando nessa comunidade .
Patã logo se interessou
A Mãe Terra deu permissão
Para frequentar a escola
O mundo essa compreensão
Como seria fora da aldeia
Estudar e ter profissão .
A Mãe Terra tudo sabendo
Que Patã logo continuaria
Percorrendo seu caminho
Na opinião não recuaria
Aceitou a decisão do filho
Portanto ela respeitaria .
Porã não entendia porque
O irmão dava importância
Tanto para aquela escola
A aldeia tem na abundância
Tudo que poderiam aprender
Nós temos a predominância .
No dia a dia na natureza
Nossos anciões ensinavam
Na escola que Patã gostava
A felicidade alí mostravam
Da vida bem fora da aldeia
Nossa Mãe presenteavam .
Aos poucos o menino foi
Através dos livros conhecendo
Paisagens de Terras distantes
Os estudos lhes esclarecendo
Cidades, carros e tudo mais
Um mundo novo reconhecendo .
🌍 II CAPÍTULO — OS CAMINHOS DA PARTIDA E DA MUDANÇA
E a cada dia que passava
Ele sonhava em um dia poder
Quando atingir maioridade
Sair da aldeia e compreender
Tudo que os olhos viu pelos livros
Para aquilo ele empreender .
Em um dia de chuva Patã foi
Embora sem dele se despedir
Apareceu uma oportunidade
No avexame teve que decidir
Não pode ver mais seu irmão
Saiu pelo mundo sem iludir .
Foi conhecer o que era novo
Para trás sem menos olhar
Os dois irmãos se separaram
Muitas coisas não partilhar
Seria uma despedida breve
Nem isso pode compartilhar .
Seguiram rumos diferentes
Porã cresceu prestando atenção
Tudo que acontecia na aldeia
Para sua cultura a manutenção
Aprendia histórias com anciões
De toda a tribo ela tinha benção .
Aqui Porã foi muito dedicado
Um aprendiz da sua tradição
Casou teve família na mata
Com coragem e disposição
Ao lado todos seus parentes
Os animais como contribuição .
Patã conhece o mundo inteiro
Ficou rico muito bem famoso
Casou vivendo feliz na cidade
Tinha carro além de charmoso
Às vezes pensava na sua aldeia
Sem parentes ficava lacrimoso .
Com essa nova realidade
Patã estava convencido
Que seu lugar agora era ali
Riqueza do mundo oferecido
Um vida cheia de mordomia
Nem tudo havia desvanecido .
Patã sentia que faltava algo
Mas o que poderia de fato ser
Sentia bem um vazio imenso
O imaginário a contradisser
Não tinha solução do caso
Deixou o tempo se depuser .
Um dia visitou o zoológico
Com filhos acompanhado
Avistou uma onça pintada
Lembrou do tempo aldeado
Onde a felina era sua irmã
Do seu clã no significado .
Resolveu tirar férias e viajar
Para o lugar onde teria nascido
Lembrar quando era menino
Onde saiu de lá bem crescido
Queria chegar logo na tribo
Do meu São Francisco querido .
🌅 III CAPÍTULO — O REENCONTRO E A SABEDORIA DA MÃE TERRA
Ao chegar na aldeia correu
Para Porã com ele encontrar
Os irmãos se reconheceram
No longo abraço a demonstrar
Chorando de tanta saudade
Começaram logo a palestrar .
No passeio os dois irmãos
Patã diz tem casa para abrigar
Um emprego que lhe sustenta
Carro do bom para junto viajar
Mas ainda sinto todo um vazio
Que não consigo enxergar .
Porã respondeu sou a Natureza
Me abriga do Sol que me aquece
O rio que sempre me alimenta
Na tradição nativa que fortalece
Ainda assim sinto outro vazio
A precariedade me desfavorece .
Um irmão olhou logo para o outro
Ao mesmo tempo ao outro falaram:
Patã como seria a Terra lá de fora?
As coisas que povos contemplaram
Porã como é a Terra aqui de dentro?
Na cultura que sempre continuaram .
Os dois irmãos se uniram
Ensinando que tinha aprendido
Um ao outro novamente
O que ambos havia regredido
Durante esses anos todos
Do tempo que passou sucedido .
Porã devolveu para Patã
A Terra que o irmão esqueceu
E Patã apresentou a Porã
Na Terra do irmão não conheceu
Mãe respirou novamente feliz
Toda comunidade compareceu .
Que não consigo enxergar...
Porã falou: — Sou Natureza!
Sou sombra, sou Sol a brilhar,
O rio me dá fortaleza.
Na tradição vou habitar,
Mas carrego uma tristeza.
A vida é dura, sem favor,
A carência me adoece.
Um irmão olhou com amor,
E em uníssono, acontece:
— Patã, como é teu sabor
Na Terra que te enriquece?
— Porã, qual seria tua raiz
Na Terra de encantamento?
Que cultura é quem te diz
O valor de um sentimento?
Que tradição te faz feliz
Nos cantos do firmamento?
Os dois irmãos se abraçaram
Com saberes do passado.
Juntos então caminharam
Com um sonho reencontrado.
As memórias despertaram
O que estava silenciado.
Porã atendeu a seu irmão
A Terra que ele esqueceu.
E Patã, com o coração,
Mostrou o que conheceu.
Mãe-Terra sorriu então,
Com o povo todo acorreu.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
🌕 ENCERRAMENTO
O cordel aqui termina,
Mas o canto não tem fim,
Pois o mundo de dois irmãos,
Ecoa dentro de mim.
A lição que o verso deixa,
É simples como a canção:
Sem raiz não há caminho,
Sem amor não há união.
O saber do homem moderno,
E a força da tradição,
Só se completam no encontro
Do corpo com o chão.
🌈 EPÍLOGO POÉTICO
Porã olhou para o céu,
Patã sorriu para o chão,
E a Mãe-Terra agradecida,
Os envolveu de emoção.
Na aldeia o povo canta,
O rio faz devoção,
O saber da mata e do livro,
Misturam-se na canção.
O mundo não tem fronteira,
Quando há compreensão,
Pois a ciência e a natureza
São irmãs da criação.
Assim termina esta lenda,
Com mensagem verdadeira:
Quem conhece sua origem,
Conhece a vida inteira.
📚 NOTA DE FONTES RIMADAS
Nos livros e nas aldeias,
Encontrei a inspiração,
Em vozes dos meus anciões,
Guardadas no coração.
Em Câmara Cascudo aprendo,
O folclore em tradição,
Em Mário de Andrade entendo,
A força da criação.
Da cultura popular,
Trago eterna devoção,
De Ariano Suassuna,
Colho arte e emoção.
Mas é na voz da floresta,
E no rio do meu sertão,
Que escrevo este cordel,
Com o dom da inspiração.
E assim deixo registrado,
Na memória e na canção,
O saber dos Kariri-Xocó,
Herança e continuação.
🌺 Síntese final:
“Dois Irmãos no Mundo” é um cordel que une dois caminhos — o da sabedoria ancestral e o do conhecimento moderno — como reflexo da alma indígena e da essência humana. A história de Patã e Porã é a metáfora viva da reconciliação entre o homem e a natureza, entre o progresso e a tradição.
🪞 FICHA TÉCNICA
Título: Dois Irmãos no Mundo — Literatura de Cordel
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Edição e Organização: Nhenety Kariri-Xocó e ChatGPT (Assistente Virtual de Diagramação e Revisão Poética)
Ilustração e Capa 3D Digital: Criação artística assistida por IA – estilo realista e simbólico Kariri-Xocó
Local: Porto Real do Colégio – AL, Brasil
Ano: 2025
Formato: Cordel-Livro em verso e imagem – Edição Especial A5
Direitos Autorais: © Nhenety Kariri-Xocó, todos os direitos reservados.
Reprodução total ou parcial somente com autorização do autor.
Contato do Autor / Blog Cultural:
🌐 https://kxnhenety.blogspot.com
ORELHA ESQUERDA (sobre o autor)
Sobre o Autor
Nhenety Kariri-Xocó
Filho da terra, guardião da palavra e contador de histórias, Nhenety traz em sua escrita a força da ancestralidade Kariri-Xocó, povo enraizado em Porto Real do Colégio (AL).
Sua voz percorre o tempo como rio: ora canto, ora cordel, ora memória.
No entrelace da oralidade e da escrita, ele reconstrói mundos, preserva tradições e recria universos.
Neste cordel, assim como em outras obras, Nhenety transforma o ato de escrever em caminho espiritual e cultural. Sua pena é ponte entre passado, presente e futuro — e cada verso é um convite para que o leitor se descubra parte da grande tapeçaria do imaginário.
ORELHA DIREITA (sobre a obra)
Sobre a Obra
Dois Irmãos no Mundo, Literatura de Cordel, Por Nhenety Kariri-Xocó, não é apenas um cordel: é uma realidade da comunidade Kariri-Xocó.
Nhenety na sua comunidade ouviu e viu muitos parentes que foram para as cidades estudar, trabalhar e outros ficaram na aldeia para preservar as tradições.
Com a maestria da poesia popular, o autor resgata essas histerias o transforma em literatura de cordel: um panorama poético dos indígenas do Brasil que viajam em busca de melhores condições de vida, mas não esquecem que a verdadeira felicidade estar na terra natal.
Aqui, cada capítulo revela que Dois Irmãos no Mundo é o retrato da realidade das aldeias do Brasil, que o cordel estar também na alma do povo nordestino, como um guardião de saberes e portal da imaginação.
Este cordel se inscreve como obra para a posteridade: memória, poesia e crítica se unem para reafirmar que Dois Irmãos no Mundo permanece vivo, pulsando no coração de quem lê, sonha e continua a contar histórias.
Nhenety Kariri-Xocó
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