terça-feira, 7 de outubro de 2025

INDÍGENAS VERSUS MORGADO EM CORDEL, Capítulos I - XII , Por Nhenety Kariri-Xocó





🌾 DEDICATÓRIA POÉTICA


Dedico este canto sagrado

Ao povo Kariri-Xocó,

Raiz firme da minha vida,

Que o tempo nunca apagou.

Dedico à voz da floresta,

Que o vento antigo entoou.


Dedico aos antepassados

Que da terra são guardiões,

Aos mestres da tradição,

Que ensinam nas gerações,

E aos que lutam pelo direito,

Das nossas reivindicações.


Dedico à aldeia Colégio,

E à Ilha de São Pedro também,

Aos parentes de Alagoas,

E de Sergipe que vêm,

Que unem força e memória,

Como quem nasce do bem.


📜 ÍNDICE POÉTICO


Abertura – O Canto da Origem

Prólogo Poético – Vozes da Terra e do Tempo

Capítulo I – As Primeiras Aldeias

Capítulo II – O Morgado e a Colonização

Capítulo III – As Missões e os Padres

Capítulo IV – A Resistência dos Xokó

Capítulo V – O Século da Despossessão

Capítulo VI – Vozes e Caminhos de Retorno

Capítulo VII – Entre Rio e Memória

Capítulo VIII – O Século da Redescoberta

Capítulo IX – O Movimento de Reintegração

Capítulo X – As Raízes do Futuro

Capítulo XI – A Luta pela Terra e a FUNAI (1979–1999)

Capítulo XII – O Novo Tempo e a Memória dos Ancestrais

Encerramento – Palavra Viva

Epílogo Poético – Círculo da Eternidade

Nota de Fontes – Referências em Cordel


🌄 ABERTURA – O Canto da Origem


Nasceu o canto na aldeia,

Entre o rio e o coração,

Um som de maracá vibrou,

Chamando a recordação.

E a memória dos ancestrais,

Fez do verso a invocação.


Da brisa que sopra o tempo,

Brota o verbo encantador,

Do barro nasceu a gente,

Da luta nasceu o amor.

E da palavra o cordel,

Se fez canto e se fez flor.


🌿 PRÓLOGO POÉTICO – Vozes da Terra e do Tempo


Esta história vem da terra,

Dos que o tempo não calou,

Dos passos firmes da mata,

Do sangue que germinou.

É memória e resistência,

É o grito que ecoou.


Não é lenda nem fantasia,

Mas real como o luar,

É o sopro da existência,

Que insiste em recontar,

Que o índio vive e renasce,

Sempre pronto a semear.


O passado aqui dialoga,

Com o tempo que há de vir,

Cada verso é testemunha,

Do direito de existir.

E quem lê com alma aberta,

Vai sentir o reviver.


CAPÍTULO I – OS POVOS DO SÃO FRANCISCO E A CHEGADA DOS MORGADOS


No Vale do rio São Francisco

Existe indígenas localizados

Sempre mantiveram contatos

Por aqui não havia civilizados

Contatos com todas as tribos

As festas e rituais realizados.


Por seus domínios senhoriais

Brancos constroem fortalezas

Abrangendo vastíssima região

Com florestas das redondezas

Incluindo territórios as aldeias

Nativos mostravam fraquezas.


Mayorazgo Reino de Castela

As leis desse Ibérico reinado

Morgado origem castelhana

Península qual disseminado

No ano 1505 o Leyes de Toro

Região da Espanha originado.


Terras da Capitania da Bahia

Sergipe d’El-Rei ser chamada

Às margens do São Francisco

No Brasil Colônia programada

Nascendo luta àqueles povos

Entanto conquista confirmada.


A primeira missão de Sergipe

Gaspar Lourenço comandada

O padre catequizar indígenas

Companhia de Jesus agrada

Ano de 1575 ocorrido tal fato

Tribos de sua terra trasladada.


Ano 1590 Cristovão de Barros

As aldeias também conquistou

Território de um chefe Pindaíba

Serra da Tabanga ele encostou

Indo além do riacho Tamanduá

Todo mais domínio acrescentou.


Enfim conquistador de Sergipe

Cristóvão de Barros até o doou

Filho Antônio Cardoso de Barros

Região agradável Propriá povoou

Conhecida pelo “Urubu de Baixo”

Linhas de defesa ele aperfeiçoou.


Pindaíba seria o chefe indígena

Segundo história dessa tradição

A Aldeia Ilha dos índios Aramurú

Obrigado aceitar aquela rendição

Com terras Caiçara de São Pedro

Imposta pelos brancos jurisdição.


Expressão do termo morgado

Por Reino de Portugal adotada

Assim a legislação portuguesa

Arquivos Ultramarinos anotada

Trazidas ao Brasil no ano 1603

Ordenações Filipinas montada.


A colonização do ano de 1606

O território sergipano povoado

Chegando às regiões do Norte

Com o índio confuso atordoado

Pelas margens do S. Francisco

Nesse modo sendo destorroado.


CAPÍTULO II – O MORGADO DE PORTO DA FOLHA E OS ALDEAMENTOS INDÍGENAS


No Morgado de Porto da Folha

Pedro Gomes foi seu fundador

Um capitão em Sergipe Del Rey

Do Portugal Setúbal intimidador

Veio ao Brasil ano 1625 em nau

De D. Fradique de Toledo fiador.


Origem das terras do morgado

O Pedro Gomes foram doadas

Expulsão dos holandeses 1654

Por Aramurus ele comandadas

Junto foz do rio São Francisco

Nos Portugueses consolidadas.


O Morgado do Porto da Folha

Terras nativas transformadas

Pedro Gomes serviços à coroa

Recebeu as 30 léguas doadas

Aramurus na pequena parcela

Essa sesmaria desmembradas.


Capitania da Bahia ano 1656

Sertão de Sergipe o Morgado

Pedro Gomes numa sesmaria

Indígena no lado o subjugado

Servindo o civilizado na tropa

Naquele capitão encarregado.


Na Aldeia dos Kariris o Colégio

Por jesuítas iniciamos fundada

Acima 7 léguas da Vila Penedo

Terras urubumirense arrendada

O ano de 1661 em Pernambuco

A fazenda de gado consolidada.


O aldeamento São Pedro Dias

De Porto da Folha ali constava

Pelos capuchinhos franceses

Por volta do ano 1664 cogitava

Entre indígenas tribo Aramurús

Frei Anastácio Audierne estava.


Capuchinhos no São Francisco

Serão os primeiros ali a chegar

Fundou a missão dos Aramurus

No ano 1671 índios aconchegar

Vieram também de outros povos

Dos arredores na região agregar.


As matas do rio São Francisco

Nos índios Romaris recrutados

Os religiosos dos capuchinhos

Aceitam paz vivendo aldeados

Fugindo muito aos massacres

O período colonial implantados.


O cacique Gararu e sua tribo

Na Serra da Tabanga ficavam

Talvez o parente de Pindaíba

Território serrano abarcavam

Catequizadores capuchinhos

A Ilha de São Pedro focavam.


No ano 1683 pela inquisição

O Pedro Gomes é denunciado

Numa prática por um nefando

Pecado com sodomia viciado

Seu parceiro seria um escravo

De nome Luiz Gomes indiciado.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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