terça-feira, 7 de outubro de 2025

INDÍGENAS VERSUS MORGADO EM CORDEL, Capítulos VII - X, Por Nhenety Kariri-Xocó





CAPÍTULO VII – A LEI DAS TERRAS E O FIM DAS MISSÕES (1850–1872)


As terras indígenas do Brasil,

Devolutas foram declaradas,

Por leis do Império definidas,

Com aldeias desamparadas.

O ano de mil oitocentos e cinquenta,

Trouxe concessões calculadas.


Na província de Sergipe,

O Imperador faz solicitação,

Ao presidente José Antônio,

Com Diretoria em extinção.

Seis de abril de mil oitocentos e cinquenta e três,

Marca a dura perseguição.


Em mil oitocentos e cinquenta e seis,

Cria-se nova delegação,

Substituindo a Diretoria,

Com terras em expropriação.

O colono vem com frequência,

Intimidando na ocupação.


No ano de cinquenta e nove,

A Ilha recebe o Imperador,

Dom Pedro II em visita,

O frei causa seu temor.

Doroteu de Loreto arrenda,

Terras ao explorador.


Manoel Pacífico de Barros,

Índio de São Pedro na missão,

Seguiu à Marinha enviado,

Pelo frei em punição.

Por turbulento acusado,

Cumpriu dura repressão.


Outros índios massacrados,

Por jagunços impiedosos,

Na Serra da Cachorra Morta,

Crimes jamais rigorosos.

Em mil oitocentos e sessenta e sete,

Restaram poucos piedosos.


Dos três índios de São Pedro,

Um foi ao Rio, lamentando,

Em mil oitocentos e setenta,

Suas terras usurpando.

O civilizado as tomava,

Sem piedade, dominando.


Frei Dorotheo escreve carta,

Ao governo sergipano,

Declarando os índios domésticos,

Vivendo em modo urbano.

Fazendo potes e panelas,

Em mil oitocentos e setenta e dois, profano.


CAPÍTULO VIII – O ÊXODO E A DESPEDIDA DAS TERRAS (1876–1892)


Na Aldeia de Colégio em Alagoas,

O ano de setenta e seis se via,

Transformada em vila nova,

Pela intendência que a regia.

Sete de julho a data marca,

A perda da autonomia.


Na Câmara da Ilha do Ouro,

Em setenta e nove requisita,

Terras do aldeamento antigo,

Ao Império ela solicita.

Coronel João F. de Britto,

Três lotes logo credita.


Expulsão dos índios Xocós,

Em mil oitocentos e oitenta e dois,

Com imigrantes em São Pedro,

Um drama que todos sois.

Refugiam-se em Colégio,

Entre dores e heróis.


Luiz da Silva Tavares,

Faz memorial do Morgado,

Porto da Folha, Caiçara e São Pedro,

Por ricos já apropriado.

Em mil oitocentos e oitenta e três,

O Império é consolidado.


Em oitenta e quatro, memorial cita,

A fazenda Caiçara tombada,

Desde mil setecentos e quarenta e cinco,

Por escravos e gado marcada.

Colonizador pressionando,

A posse abençoada.


O Cel. João Fernandes de Brito,

Em oitenta e seis arrendava,

Caiçara e São Pedro tomava,

E os índios dispersava.

Fugindo à Rua do Colégio,

O povo se resguardava.


No oitenta e sete aforamento,

Porto da Folha registrava,

Terras da Caiçara vendidas,

E o povo lamentava.

Fernando da Silva Tavares,

A dor perpetuava.


Na Câmara da Ilha do Ouro,

Oito lotes aforou,

Cinco ficaram com Britto,

E o restante repassou.

O índio em oitenta e oito,

Ao Império implorou.


Em agosto do mesmo ano,

Foram ao Rio comparecer,

Com Jesuíno Serafim à frente,

Para o Imperador os ver.

Mas nada lhes foi ouvido,

Somente o sofrer.


Em oitenta e nove Brittos invadem,

Com Inocêncio e Manoel ali,

Famílias indígenas resistem,

E muitos têm que fugir.

O chefe tribal persiste,

Mas já sem redimir.


No governo republicano,

Inocêncio e Venâncio vão,

Ao Rio em mil oitocentos e noventa,

Resolver a situação.

Mas nada foi conseguido,

A dor seguiu na nação.


CAPÍTULO IX – EXPULSÃO E EXÍLIO (1895–1936)


No primeiro de março oitocentos e noventa e cinco,

O poder local se consolidava,

O Coronel João Fernandes de Britto,

Influência grande ostentava.

Em Porto da Folha, Sergipe,

Independente dominava.


Foreiro de cinco dos oito lotes,

De terra Xocó no arrendamento,

No vinte e dois de novembro,

Do noventa e sete o documento,

Tomou todo o território,

Em ato de usurpamento.


O chefe Inocêncio Pires,

Da Ilha expulso foi,

Com o primo Manoel Francisco,

Em noventa e oito partiu e se foi.

As famílias todas fugiram,

Sem terra, sem paz e sem voz.


Em Porto da Folha, em noventa e nove,

A expulsão se completava,

Fixaram-se em Carrapicho,

Onde a dor os acompanhava.

Antiga Vila Nova em Sergipe,

Sua origem se apagava.


Vem o seis de dezembro de mil novecentos e seis,

O Ministério é criado,

De Agricultura e Indústria,

O Serviço aos índios formado.

Em mil novecentos e dez,

O SPI é decretado.


Na Intendência de Porto Real,

Epidemia assolou,

O cólera em mil novecentos e onze,

A aldeia inteira vitimou.

Os Xocós em sofrimento,

Poucos a vida salvou.


O líder Inocêncio Pires,

De Carrapicho se despediu,

Em mil novecentos e quinze,

Para Colégio partiu.

Na aldeia Kariri fixou morada,

E sua família reuniu.


Em mil novecentos e dezesseis,

O Coronel João Porfírio morreu,

Antônio Britto seu filho,

O poder então reteve.

As terras dos Xocós dominava,

E o abuso se manteve.


Três índios Aramurús,

No dezessete viajaram,

Ao Rio de Janeiro distante,

Ao governo reclamaram.

Mas a voz dos povos nativos,

De novo silenciaram.


Francisco Queiroz Suíra,

Em vinte e oito assumiu,

Chefe e pajé dos Kariris,

E dos Xocós se uniu.

Filho das duas origens,

O espiritual conduziu.


O velho Inocêncio Pires,

A Ilha tenta retomar,

Mas quase perde a vida,

Ao tentar se aproximar.

Em mil novecentos e trinta,

Não pôde mais regressar.


Sem terra os Xocós ficaram,

Em trinta e três padeceram,

Trabalhando por fazendeiros,

Na lavoura se perderam.

Alguns serviam de vaqueiros,

Outros nem sobreviveram.


Na aldeia Kariri de Colégio,

Em trinta e seis findou,

O velho Inocêncio Pires,

Seu espírito retornou.

Com oitenta e um anos vividos,

Seu povo o chorou.


CAPÍTULO X – RETOMADA E RENASCIMENTO (1944–1978)


Padre Alfredo Dâmaso,

Criou posto e fundação,

Vinte de março quarenta e quatro,

Com fé e dedicação.

Na Rua dos Índios surgia,

Nova forma de habitação.


Cinquenta hectares de terra,

Do Governo Federal doação,

Quatro de agosto quarenta e sete,

Momento de gratidão.

Kariris e Xocós unidos,

Vivendo em comunhão.


Mas em mil novecentos e cinquenta,

Na Ilha o desespero voltou,

Os Brittos mandaram desmatar,

O templo se arruinou.

As terras dos antigos Xocós,

Um fazendeiro comprou.


Os Xocós de Porto Real,

Em sessenta e quatro lutaram,

Abaixo-assinado fizeram,

Ao presidente enviaram.

O SPI com Padre Alfredo,

As terras mapearam.


Visitaram a Ilha Sagrada,

Em sessenta e seis chegaram,

Com Cícero Irêcê à frente,

Na igreja se abrigaram.

No altar da Caiçara antiga,

Os Xocós se reencontraram.


Por anos lutaram unidos,

Com fé e devoção,

Junto aos Kariris firmaram,

Aliança e união.

Na Fazenda Modelo em setenta e sete,

Começou a reintegração.


E no trinta e um de outubro,

Do ano setenta e oito,

Na Sementeira se fixaram,

Com o coração em açoito.

Kariris e Xocós renascem,

Num só povo, num só feito.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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