CAPÍTULO VII – A LEI DAS TERRAS E O FIM DAS MISSÕES (1850–1872)
As terras indígenas do Brasil,
Devolutas foram declaradas,
Por leis do Império definidas,
Com aldeias desamparadas.
O ano de mil oitocentos e cinquenta,
Trouxe concessões calculadas.
Na província de Sergipe,
O Imperador faz solicitação,
Ao presidente José Antônio,
Com Diretoria em extinção.
Seis de abril de mil oitocentos e cinquenta e três,
Marca a dura perseguição.
Em mil oitocentos e cinquenta e seis,
Cria-se nova delegação,
Substituindo a Diretoria,
Com terras em expropriação.
O colono vem com frequência,
Intimidando na ocupação.
No ano de cinquenta e nove,
A Ilha recebe o Imperador,
Dom Pedro II em visita,
O frei causa seu temor.
Doroteu de Loreto arrenda,
Terras ao explorador.
Manoel Pacífico de Barros,
Índio de São Pedro na missão,
Seguiu à Marinha enviado,
Pelo frei em punição.
Por turbulento acusado,
Cumpriu dura repressão.
Outros índios massacrados,
Por jagunços impiedosos,
Na Serra da Cachorra Morta,
Crimes jamais rigorosos.
Em mil oitocentos e sessenta e sete,
Restaram poucos piedosos.
Dos três índios de São Pedro,
Um foi ao Rio, lamentando,
Em mil oitocentos e setenta,
Suas terras usurpando.
O civilizado as tomava,
Sem piedade, dominando.
Frei Dorotheo escreve carta,
Ao governo sergipano,
Declarando os índios domésticos,
Vivendo em modo urbano.
Fazendo potes e panelas,
Em mil oitocentos e setenta e dois, profano.
CAPÍTULO VIII – O ÊXODO E A DESPEDIDA DAS TERRAS (1876–1892)
Na Aldeia de Colégio em Alagoas,
O ano de setenta e seis se via,
Transformada em vila nova,
Pela intendência que a regia.
Sete de julho a data marca,
A perda da autonomia.
Na Câmara da Ilha do Ouro,
Em setenta e nove requisita,
Terras do aldeamento antigo,
Ao Império ela solicita.
Coronel João F. de Britto,
Três lotes logo credita.
Expulsão dos índios Xocós,
Em mil oitocentos e oitenta e dois,
Com imigrantes em São Pedro,
Um drama que todos sois.
Refugiam-se em Colégio,
Entre dores e heróis.
Luiz da Silva Tavares,
Faz memorial do Morgado,
Porto da Folha, Caiçara e São Pedro,
Por ricos já apropriado.
Em mil oitocentos e oitenta e três,
O Império é consolidado.
Em oitenta e quatro, memorial cita,
A fazenda Caiçara tombada,
Desde mil setecentos e quarenta e cinco,
Por escravos e gado marcada.
Colonizador pressionando,
A posse abençoada.
O Cel. João Fernandes de Brito,
Em oitenta e seis arrendava,
Caiçara e São Pedro tomava,
E os índios dispersava.
Fugindo à Rua do Colégio,
O povo se resguardava.
No oitenta e sete aforamento,
Porto da Folha registrava,
Terras da Caiçara vendidas,
E o povo lamentava.
Fernando da Silva Tavares,
A dor perpetuava.
Na Câmara da Ilha do Ouro,
Oito lotes aforou,
Cinco ficaram com Britto,
E o restante repassou.
O índio em oitenta e oito,
Ao Império implorou.
Em agosto do mesmo ano,
Foram ao Rio comparecer,
Com Jesuíno Serafim à frente,
Para o Imperador os ver.
Mas nada lhes foi ouvido,
Somente o sofrer.
Em oitenta e nove Brittos invadem,
Com Inocêncio e Manoel ali,
Famílias indígenas resistem,
E muitos têm que fugir.
O chefe tribal persiste,
Mas já sem redimir.
No governo republicano,
Inocêncio e Venâncio vão,
Ao Rio em mil oitocentos e noventa,
Resolver a situação.
Mas nada foi conseguido,
A dor seguiu na nação.
CAPÍTULO IX – EXPULSÃO E EXÍLIO (1895–1936)
No primeiro de março oitocentos e noventa e cinco,
O poder local se consolidava,
O Coronel João Fernandes de Britto,
Influência grande ostentava.
Em Porto da Folha, Sergipe,
Independente dominava.
Foreiro de cinco dos oito lotes,
De terra Xocó no arrendamento,
No vinte e dois de novembro,
Do noventa e sete o documento,
Tomou todo o território,
Em ato de usurpamento.
O chefe Inocêncio Pires,
Da Ilha expulso foi,
Com o primo Manoel Francisco,
Em noventa e oito partiu e se foi.
As famílias todas fugiram,
Sem terra, sem paz e sem voz.
Em Porto da Folha, em noventa e nove,
A expulsão se completava,
Fixaram-se em Carrapicho,
Onde a dor os acompanhava.
Antiga Vila Nova em Sergipe,
Sua origem se apagava.
Vem o seis de dezembro de mil novecentos e seis,
O Ministério é criado,
De Agricultura e Indústria,
O Serviço aos índios formado.
Em mil novecentos e dez,
O SPI é decretado.
Na Intendência de Porto Real,
Epidemia assolou,
O cólera em mil novecentos e onze,
A aldeia inteira vitimou.
Os Xocós em sofrimento,
Poucos a vida salvou.
O líder Inocêncio Pires,
De Carrapicho se despediu,
Em mil novecentos e quinze,
Para Colégio partiu.
Na aldeia Kariri fixou morada,
E sua família reuniu.
Em mil novecentos e dezesseis,
O Coronel João Porfírio morreu,
Antônio Britto seu filho,
O poder então reteve.
As terras dos Xocós dominava,
E o abuso se manteve.
Três índios Aramurús,
No dezessete viajaram,
Ao Rio de Janeiro distante,
Ao governo reclamaram.
Mas a voz dos povos nativos,
De novo silenciaram.
Francisco Queiroz Suíra,
Em vinte e oito assumiu,
Chefe e pajé dos Kariris,
E dos Xocós se uniu.
Filho das duas origens,
O espiritual conduziu.
O velho Inocêncio Pires,
A Ilha tenta retomar,
Mas quase perde a vida,
Ao tentar se aproximar.
Em mil novecentos e trinta,
Não pôde mais regressar.
Sem terra os Xocós ficaram,
Em trinta e três padeceram,
Trabalhando por fazendeiros,
Na lavoura se perderam.
Alguns serviam de vaqueiros,
Outros nem sobreviveram.
Na aldeia Kariri de Colégio,
Em trinta e seis findou,
O velho Inocêncio Pires,
Seu espírito retornou.
Com oitenta e um anos vividos,
Seu povo o chorou.
CAPÍTULO X – RETOMADA E RENASCIMENTO (1944–1978)
Padre Alfredo Dâmaso,
Criou posto e fundação,
Vinte de março quarenta e quatro,
Com fé e dedicação.
Na Rua dos Índios surgia,
Nova forma de habitação.
Cinquenta hectares de terra,
Do Governo Federal doação,
Quatro de agosto quarenta e sete,
Momento de gratidão.
Kariris e Xocós unidos,
Vivendo em comunhão.
Mas em mil novecentos e cinquenta,
Na Ilha o desespero voltou,
Os Brittos mandaram desmatar,
O templo se arruinou.
As terras dos antigos Xocós,
Um fazendeiro comprou.
Os Xocós de Porto Real,
Em sessenta e quatro lutaram,
Abaixo-assinado fizeram,
Ao presidente enviaram.
O SPI com Padre Alfredo,
As terras mapearam.
Visitaram a Ilha Sagrada,
Em sessenta e seis chegaram,
Com Cícero Irêcê à frente,
Na igreja se abrigaram.
No altar da Caiçara antiga,
Os Xocós se reencontraram.
Por anos lutaram unidos,
Com fé e devoção,
Junto aos Kariris firmaram,
Aliança e união.
Na Fazenda Modelo em setenta e sete,
Começou a reintegração.
E no trinta e um de outubro,
Do ano setenta e oito,
Na Sementeira se fixaram,
Com o coração em açoito.
Kariris e Xocós renascem,
Num só povo, num só feito.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó

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