domingo, 5 de outubro de 2025

TUPÃMIRIM E KUNHÃ YACY EM CORDEL Por Nhenety Kariri-Xocó





CONTRACAPA





🌺 DEDICATÓRIA POÉTICA


Dedico ao Sol da verdade,

E à Lua, fonte da calma,

Aos povos de antiguidade

Que escutam com fé na alma.

À aldeia, que é poesia,

E à voz da sabedoria!


📖 ÍNDICE POÉTICO


Abertura – O Canto da Criação


Prólogo Poético – A Luz que Desce dos Céus


Capítulo I – Os Sete Anciãos Celestes


Capítulo II – O Envio de Tupãmirim


Capítulo III – Os Mestres da Natureza


Capítulo IV – Os Espíritos da Terra


Capítulo V – A Criação da Maraca


Capítulo VI – As Sementes Viram Crianças


Capítulo VII – O Surgimento de Kunhã Yacy


Capítulo VIII – O Encontro do Sol e da Lua


Capítulo IX – O Canto da Harmonia


Capítulo X – O Legado dos Primeiros


Encerramento – A Voz da Terra


Epílogo Poético – O Retorno ao Céu


Nota de Fontes – Fontes em Versos


🌅 ABERTURA – O CANTO DA CRIAÇÃO


Canta o vento na floresta,

E o trovão responde ao mar,

Todo o mundo se manifesta,

Quando o Sol vem clarear.

É o tempo dos ancestrais,

Que ensinam os filhos mais.


Da pedra brota o segredo,

Do rio vem a lição,

Do fogo nasce o degredo,

Da lua, a inspiração.

É Tupã que tudo enlaça,

No som sagrado que passa.


🌠 PRÓLOGO POÉTICO – A LUZ QUE DESCE DOS CÉUS


Veio um brilho lá do alto,

Sobre o verde do sertão,

Era o rastro de um relâmpago

Com mensagem e missão.

Sete anciãos o enviaram,

E os ventos o anunciaram.


Tupãmirim foi chamado,

Por Tupã, o Criador,

Para ser iluminado

E semear novo amor.

Com asas de pura chama,

Trouxe o poder da pajelança.



🪶 CAPÍTULO I – OS SETE ANCIÃOS CELESTES


No silêncio das alturas,

Onde o trovão faz morada,

Brilham sete criaturas

De luz azul consagrada.

São velhos de grande ciência,

Os guardiões da existência.


Em assembleia sagrada,

Conversam sob o luar,

Pois a Terra inacabada

Pede a força do altar.

“Mandemos nosso emissário,

Com poder extraordinário.”


Cada um sopra um segredo,

No vento que gira e vai,

Um dá o fogo e o degredo,

Outro o canto que traz paz.

Um dá as águas do rio,

Outro o sopro do arrepio.


Da montanha veio a força,

Da estrela, a direção,

Do relâmpago, a corça,

Do trovão, a vibração.

E o último ancião, bondoso,

Deu-lhe o canto melodioso.


“Desce, filho, à terra viva,

O teu nome é Tupãmirim,

És centelha criativa,

Sopro eterno e sem fim.

Aprende o que é ser chão,

Sem perder tua missão.”


E o jovem, de luz dourada,

Com asas de Sol e luar,

Deixou a morada sagrada

Para a Terra visitar.

Descendo em raio de encanto,

Transformou-se em canto e pranto.


O mundo, ao ver sua vinda,

Vibrou na mata e no mar,

O vento soprou bem-vindo,

O rio veio o saudar.

E as árvores, em louvação,

Balançavam na oração.


Nasceu a aurora mais pura,

Fez-se o clarão de Tupã,

E o mundo, cheio de altura,

Cantou com voz de manhã.

No céu um arco se abriu,

E o tempo então prosseguiu.


🌿 CAPÍTULO II – O ENVIO DE TUPÃMIRIM


Na beira do firmamento,

Os anciãos entoaram:

“Vai, filho do pensamento,

Leva a luz que te confiaram.

Faz da Terra um paraíso,

Cumpre o sagrado aviso.”


Tupãmirim, reluzente,

Desceu em faísca e cor,

Sentiu o vento crescente,

E o chão cheio de amor.

Cada passo que pisava,

Um broto novo brotava.


Mas o solo ainda dormia,

Frio, sem canto ou calor,

E a pedra, em sua harmonia,

Sussurrou-lhe seu valor:

“Escuta o som que me habita,

Sou tua mestra infinita.”


Logo a palmeira falou:

“Eu guardo o segredo antigo,

Meu tronco é canto e farol,

Meu caule é firme e amigo.

Aprende o dom da firmeza,

Que vem da natureza.”


Veio a onça majestosa,

Dona da força e do chão,

Olhou com alma fogosa,

E ensinou-lhe a precisão:

“Age com o dom da garra,

Mas guarda a paz que amarra.”


E uma cobra deslizando,

Deu-lhe o saber da espera,

“Tudo vem se transformando,

O tempo é quem coopera.

Se fores sábio e atento,

Farás do ciclo um sustento.”


Do rio vieram vozes,

Dos peixes, o salmo antigo,

Das águas, sons velozes,

Chamando-o de amigo.

Ali entendeu o menino

O poder do ser divino.


Sob o luar de Tupã,

Ergueu-se em reverência,

E o vento da imensidão

Soprou-lhe a consciência.

“És parte do que se cria,

És filho da harmonia.”


Com asas já recolhidas,

Pediu força à imensidão,

“Que eu aprenda as leis da vida,

Da mata, do céu, do chão.

Que o saber que aqui floresça,

O mundo inteiro enalteça.”



🐆 CAPÍTULO III – OS MESTRES DA NATUREZA


Pelas matas, passo a passo,

Tupãmirim ia aprendendo,

Via o orvalho no regaço

E o vento lhe respondendo.

Cada canto e cada flor

Era um sinal do Criador.


Um espírito da palmeira

Veio em forma reluzente,

Disse: “Sou tua companheira,

Guardo o sopro e a semente.

Meu tronco é ponte e memória,

Guarda em ti nossa história.”


Da pedra surgiu o canto,

Rijo, firme, retumbante:

“Sou o tempo em manto santo,

Sou o início e o constante.

De mim nasceram montanhas,

E os rios que tu acompanhas.”


Da floresta veio o rugido,

Da onça, o olhar que brilha,

“Sou guardiã do sentido,

Da força que não se humilha.

Em mim mora o coração,

Da coragem e da paixão.”


Da água, um brilho fluía,

Correndo entre a vegetação,

“Sou quem limpa e renascia,

Sou ventre e purificação.

Sem mim o mundo é deserto,

Comigo, tudo é desperto.”


O vento soprou ligeiro,

Como amigo e professor,

“Semeia com o tempo inteiro,

Ouve o som do teu interior.

Nada é morto, nada é vão,

Tudo tem alma e pulsação.”


Os mestres se revelaram

Em cantos de sabedoria,

Com eles os dons ficaram

Como joias de harmonia.

O aprendiz da criação

Já sentia o chão em canção.


E o Sol, lá do horizonte,

Abraçou-lhe o coração,

Dizendo em fogo e monte:

“Segue a tua missão,

Pois o saber que recolheste

Será o fruto celeste.”


Assim cresceu o menino,

Em alma e entendimento,

Fez-se sábio e divino,

Guardando o conhecimento.

Do chão, do ar e da vida,

Fez sua fé esclarecida.


🌎 CAPÍTULO IV – OS ESPÍRITOS DA TERRA


No silêncio da montanha,

Ouviu vozes ancestrais,

Cantavam numa campanha

Os antigos rituais.

Era o som dos “dja” guardiões,

Senhores das criações.


Yvýdja, da terra forte,

Falou com voz retumbante:

“Eu sustento vida e morte,

Sou mãe e sou constante.

Quem me ama e me respeita,

Tem a colheita perfeita.”


Yvyradja, das florestas,

Cantou entre folhas e ninhos:

“Sou morada das arestas,

Das aves e dos caminhos.

Sou sombra e sou guarida,

Sou casa da tua vida.”


Itadja, espírito das pedras,

Falou em tom mineral:

“Sou muralha e sou reservas,

Sou a base universal.

Em mim mora o eco antigo,

Sou abrigo e sou abrigo.”


Yydja, guardião das águas,

Riu em curso de corrente:

“Sou cura das velhas mágoas,

Sou espelho transparente.

Quem comigo faz aliança,

Renova a fé e a esperança.”


Ywyra’idja, da planta,

Falou com doçura e flor:

“Minha folha te encanta,

Minha raiz é amor.

Sou o sopro vegetal

Que te liga ao natural.”


E o aprendiz Tupãmirim,

De joelhos, se curvou,

Com respeito e com afim,

Aos mestres que encontrou.

Prometeu guardar memória

De toda a viva história.


O trovão, de lá do céu,

Bateu palma e respondeu:

“Vês, menino, o grande véu?

Agora tudo compreendeu.

A Terra é uma só alma,

Cuidá-la é tua calma.”


Nas matas, no rio e na serra,

Tupãmirim entendeu o porquê:

A força que move a Terra

É o amor que vive em você.

Quem ouve o vento com fé

Conhece o que o mundo é.



🪶 CAPÍTULO V – A CRIAÇÃO DA MARACA SAGRADA


Na beira de um rio sereno,

Tupãmirim repousava,

O coração puro e ameno,

No som da mata escutava.

Um canto vinha do chão,

Chamando sua atenção.


As pedras, com voz discreta,

Sussurravam-lhe o segredo:

“Cria o som que interpreta

A vida, o amor e o medo.

Com o sopro e o pulsar,

Faz o mundo despertar.”


Ele buscou uma cabaça,

Rodeada de verde e flor,

E sentiu que ali se enlaça

O poder do Criador.

Dentro pôs sementes vivas,

De formas puras, altivas.


Tomou um galho sagrado,

Do tronco da palmeira antiga,

E, em gesto consagrado,

Pediu licença à amiga:

“Serás haste de oração,

Que vibra em cada canção.”


Quando uniu haste e cabaça,

O vento soprou devagar,

E a mata em canto passa,

Querendo também dançar.

Era o sinal da harmonia,

Entre o homem e a magia.


Ergueu a maraca aos céus,

Com respeito e devoção,

E em meio a tantos véus,

Sentiu nova vibração.

A Terra toda tremia,

Mas sorria em alegria.


Então cantou o primeiro hino,

Que a mata toda escutou,

E o som puro e cristalino

No universo ecoou.

O canto virou corrente,

Unindo céu e semente.


A lua brilhou mais forte,

O Sol piscou em clareza,

Pois o canto era o transporte

Da divina natureza.

A maraca agora soava,

E o mundo todo vibrava.


No balanço do instrumento,

O som fez-se criação,

E o vento, no movimento,

Gerou a multiplicação.

O sagrado se expandia,

No ritmo da alegria.


🌱 CAPÍTULO VI – AS SEMENTES QUE VIRAM CRIANÇAS


Com a maraca sagrada em mãos,

Tupãmirim começou o canto,

E as forças dos guardiões

Ressoaram em cada encanto.

O mundo então se enchia,

De pura melodia.


As sementes, em seu ventre,

Tremiam no compasso do som,

E do pó brotou o vivente,

Como flor que nasce do dom.

Do chão surgiram meninos,

Brilhando em destinos divinos.


Eram filhos da floresta,

Do rio, do vento e do chão,

Cada rosto uma festa,

Cada olhar, revelação.

E o canto ecoava em roda,

Como quem o céu decora.


Os anciãos lá do alto,

Viram o feito encantado,

E o trovão, num grande salto,

Soou bem-aventurado.

“Nasceu a primeira tribo,

Da canção, do tempo vivo.”


Tupãmirim, emocionado,

Abraçou os pequeninos,

Com olhar iluminado

E sorriso cristalino.

“Vocês são da Terra o salmo,

Seres de amor e de calma.”


As águas fizeram dançar,

Os peixes e as borboletas,

E a lua veio iluminar

As faces puras e perfeitas.

O canto virou celebração,

Ritual da criação.


Cada criança trazia

Um dom do mundo ancestral,

Um do vento, outro do dia,

Outro da noite estelar.

Cada alma em harmonia,

Com o Sol e a maresia.


Tupãmirim então cantou:

“Vive o som que nos uniu!

O amor de Tupã criou,

Tudo o que aqui surgiu.”

E as matas responderam:

“Somos vida, e te acolheram.”


Assim nasceu a aldeia,

Do canto, da fé, da união,

Pura, livre, sem cadeia,

Na força da criação.

E a lua, suave e bela,

Foi madrinha daquelas.



🌙 CAPÍTULO VII – O SURGIMENTO DE KUNHÃ YACY


Do silêncio do firmamento,

Veio um canto em resplendor,

Um doce e leve alento

Do ventre do Criador.

O ar parou pra escutar

A mulher que ia chegar.


Era a luz em forma bela,

Era o brilho da manhã,

O luar fez-se capela

E o rio virou manhã.

O mundo inteiro parava,

Pois Yacy já despertava.


Das águas, ela emergiu

Com flores nos cabelos,

E o vento então a ouviu,

Correndo pra recebê-la.

Em seu olhar reluzia

A força da harmonia.


Kunhã Yacy — nome dado

Pelo sopro de Tupã,

Que viu nela o traçado

Do amor que a vida tem.

Seu corpo era claridade,

Seu canto, a eternidade.


O Sol saudou seu nascer,

O trovão bateu tambor,

E a floresta em seu poder

Sentiu o broto do amor.

Era a Mãe de toda vida,

A Mulher primordial nascida.


Yacy tocou na maraca

De Tupãmirim sagrado,

E o som, que a mata ataca,

Virou eco encantado.

Ali se uniam no som

O feminino e o dom.


Ela dançou sobre o chão,

Pisando leve na areia,

E em cada vibração

Brotava a essência da aldeia.

De sua dança nasceram

As ervas que curam e enfeitam.


No seu canto havia o poder

De curar, gerar e ensinar,

De fazer o tempo entender

Que a vida é o pulsar.

Yacy trouxe o equilíbrio,

Entre o fogo e o brilho.


E Tupãmirim, com ternura,

Viu na lua seu semblante,

Na mulher, toda a doçura

Da energia constante.

O mundo então compreendeu:

A lua é o rosto que Deus deu.


☀️🌙 CAPÍTULO VIII – O ENCONTRO DO SOL E DA LUA


O tempo seguiu seu compasso,

E o dia buscou a noite,

O Sol abriu seu abraço,

E o céu virou açoite.

Mas no meio dessa dança,

Nasceu a eterna aliança.


Tupãmirim olhou o céu

E viu Yacy reluzente,

Seu brilho formava um véu

Sobre o mundo nascente.

O Sol sentiu-se chamado,

Por um amor consagrado.


Subiu o fogo dourado,

Descendo o luar prateado,

E o encontro abençoado

Fez-se luz por todo lado.

O firmamento incendiava,

E o universo festejava.


O dia se fez encantado,

A noite virou canção,

E o povo recém-criado

Celebrou essa união.

Era o amor do divino

Gerando o destino.


Yacy, com sua brandura,

Disse ao Sol: “És meu irmão,

Mas também és minha ternura,

Meu espelho e direção.”

E o Sol respondeu contente:

“Teu brilho vive em minha mente.”


E assim, cada amanhecer,

É o beijo do Sol ardente,

E cada lua a florescer

É o toque da mulher crente.

Na dança do céu e do chão,

Nasceu a renovação.


Do encontro do Sol e da Lua,

Vieram tempos e estações,

A vida ficou mais nua

De vaidades e ilusões.

O tempo virou semente,

No ciclo eternamente.


Os astros, em harmonia,

Seguiram seu ritual,

Cada um com sua energia,

Cada brilho especial.

Yacy e o Sol, no espaço,

Mantêm o eterno abraço.


E desde esse instante antigo,

Toda noite e todo dia

Guardam no ar o abrigo

Da divina melodia.

É por isso que o céu brilha,

E o mundo ainda se filha.



🌠 CAPÍTULO IX – O POVO DAS ESTRELAS


Das chamas do céu profundo,

Tupãmirim levantou,

Um sopro varreu o mundo,

E a noite se iluminou.

Mil pontos de luz brilhante

Bordaram o firmamento vibrante.


Yacy, com mãos delicadas,

Tocou o manto da escuridão,

E as luzes foram chamadas

Pra habitar o coração.

De cada ponto celeste,

Nasceu um ser que resplandece.


O Povo das Estrelas, puro,

Veio com cantos e guias,

Guardando o tempo maduro

Das antigas profecias.

E no brilho das constelações,

Moravam suas canções.


Cada estrela tem um nome,

Cada brilho é um irmão,

Uns trazem a força do homem,

Outros, da inspiração.

E juntos formaram a trilha

Da vida que hoje brilha.


Vieram ensinar os passos,

Do tempo e da harmonia,

A viver sem tantos laços,

Com amor e sabedoria.

Trouxeram o dom do luar,

Pra o povo aprender a sonhar.


Tupãmirim, emocionado,

Viu no céu sua criação,

E com um gesto consagrado,

Fez um pacto de união.

“Serão guias do caminho,

Luzes do povo e do ninho.”


Assim surgiram os astros,

Como irmãos de quem caminha,

Guiando guerreiros e mastros

Das canoas na campina.

No brilho de cada estrela,

Há uma alma que se revela.


Desde então, toda criança,

Ao nascer, ganha um clarão,

Uma estrela que a balança

Nas noites do coração.

O Povo das Estrelas sagrado,

É o tempo encantado.


E Yacy sorriu contente,

Vendo o céu se enfeitar,

Cada ponto reluzente

Era um sonho a brilhar.

O mundo então entendeu,

Que o espírito também nasceu.


🔥🌕 CAPÍTULO X – O CÍRCULO DA PRIMEIRA DANÇA


No alvorecer da nova era,

Quando o fogo já crescia,

A Terra, sagrada e sincera,

Chamou o povo pra harmonia.

Era o tempo do primeiro canto,

Do amor, da força e do encanto.


Tupãmirim soprou o vento,

E Yacy tocou o tambor,

Nasceu o ritual do tempo,

A dança do Criador.

Cada passo era oração,

Cada gesto, consagração.


Os povos, ao redor do chão,

Formaram o círculo da vida,

E no centro, em vibração,

Brilhou a luz incontida.

Era o fogo, era o som,

Era o início do dom.


As maracas ressoavam,

O chão todo estremecia,

Os tambores anunciavam

Que a Terra agora nascia.

Do canto e da união,

Brota toda geração.


Kunhã Yacy conduzia,

Com passos de lua e flor,

E Tupãmirim respondia

Com raios de puro ardor.

Assim se selou no ar

O ciclo de criar e amar.


As árvores, em coro verde,

Cantaram em sintonia,

Os rios dançavam na sede

Da divina melodia.

A natureza inteira sentiu

Que o Criador se reuniu.


E o povo aprendeu sorrindo,

Que dançar é se curar,

Que o corpo, no seu giro lindo,

É alma a se revelar.

O círculo é o tempo vivo,

O começo e o motivo.


Tupãmirim e Kunhã Yacy,

De mãos dadas, em clarão,

Ergueram o que se vici:

A primeira geração.

Os homens, filhos do chão,

As mulheres, do coração.


No fim da dança sagrada,

O fogo acalmou seu ardor,

E a Terra ficou marcada

Pela força do amor.

Assim nasceu a memória,

Do início de nossa história.


E quem hoje dança em roda,

Recria o tempo ancestral,

Pois a energia que brota

É força universal.

O círculo da vida avança,

Na eterna Primeira Dança.



🌺 EPÍLOGO POÉTICO — O RETORNO À LUZ DE TUPÃ


Silêncio pousou no chão,

E o vento parou pra ouvir,

O canto da Criação,

Que não deixa o tempo ir.

Pois tudo o que foi cantado,

Permanece consagrado.


Tupãmirim, luz alada,

Viu do céu o povo em festa,

A Terra abençoada,

Na harmonia manifesta.

E Yacy, com seu luar,

Continuava a velar.


O fogo guardou o brilho,

O rio embalou canções,

E o céu, em tom de exílio,

Guardou mil gerações.

A palavra, que é raiz,

Fez do mundo o seu país.


As estrelas, testemunhas,

Brilharam em devoção,

Relembrando as antigas cunhas

Da primeira criação.

E o som da maraca antiga

Ecoou na alma amiga.


Cada ser da natureza,

Do pássaro ao beija-flor,

Tem guardado a singeleza

Da canção do Criador.

Pois tudo o que nasce e cresce

De Tupã ainda carece.


E o povo da Terra entende,

No sonho, no rio e no chão,

Que a vida, quando se estende,

É parte da Criação.

Somos luz em caminhada,

Filhos da aurora encantada.


Assim o mito termina,

Mas o canto não se encerra,

Pois quem ouve, se ilumina,

E renasce sobre a Terra.

Cada verso é oração,

Cada rima é coração.


Que o espírito de Tupã

Nos guie por noite e dia,

E que Yacy, doce irmã,

Nos banhe em melancolia.

Que o Sol e a Lua, em união,

Protejam toda geração.


📜 NOTA DE FONTES — O CANTO DAS RAÍZES


Pra que o verso tenha o chão

E a memória tenha estrada,

Revelo a inspiração

Da pesquisa consagrada.

Fontes que o saber semeia,

Como semente na aldeia.


Do Guairá veio o registro,

De León Cadogan, com fé,

Que ouviu o canto mais místico

Dos Mbya em Ayvu Rapyta.

Lá o verbo era vivo,

E o espírito, cativo.


De Davi Kopenawa vem

A palavra do xamã,

Que nos fala do que tem

Por trás do Céu e de Tupã.

Com Bruce Albert escreveu,

A Queda do Céu se leu.


Véra Niemeyer guardou

Os mitos de cada nação,

Com amor nos revelou

A vida e a criação.

Na Paulus deixou plantado

O mito bem estudado.


De Aracy Lopes da Silva,

Histórias de tempo e chão,

Dos donos da terra altiva,

E a força da tradição.

Com Manuela organizou

O saber que floresceu.


E Lévi-Strauss, o francês,

Com seu olhar pensador,

Viu o mundo com altivez,

Chamou “selvagem” o sabor.

Mas no fundo ele entendeu,

Que o mito é filho do eu.


Essas vozes ancestrais,

De papel e coração,

Hoje são nossos currais

Da sabedoria e canção.

No cordel deixo em lembrança,

O saber vira esperança.


E assim fecho este roteiro,

Em respeito à tradição,

Do mito ao verso primeiro,

Canto com devoção.

Pois Tupãmirim me inspira,

E Yacy minha alma mira.



⭐️Tupãmirim e Kunhã Yacy em Cordel


Um livro que não se lê — se escuta.

Um rito que não se encerra — se renova.

Um canto que não morre — retorna à aldeia do coração.


🌿 ENCERRAMENTO – A VOZ DA TERRA


O chão falou baixinho,

Com tom de mãe e de avó:

“Escuta o meu caminho,

Não me deixes nunca só.

Sou teu berço e alimento,

Sou memória e sentimento.”


O vento soprou na mata,

Chamando em sons de tambor,

“Quem vive, planta e relata,

Faz da vida um louvor.”

E a Terra, com sua essência,

Guardou toda a existência.


No coração da floresta,

Tupãmirim repousou,

Yacy, com alma modesta,

Sobre ele abençoou.

E o povo da criação

Fez-se canto e oração.


🌺 EPÍLOGO FINAL – A ETERNA RENOVAÇÃO


Nada finda, tudo gira,

No compasso da canção,

A semente que respira

É o ciclo da Criação.

De Tupã vem o primeiro,

E o último, verdadeiro.


Quando o sol beija o poente,

Yacy sorri lá do céu,

O amor está presente

No sagrado e no cordel.

Pois o mito que renasce

É a vida que não se desfaz.


Cada verso é oferenda,

Cada palavra é altar,

O espírito que se estenda

Jamais deixa de brilhar.

E quem lê este poema

Continua o mesmo tema.


📜 FICHA TÉCNICA


Título: Tupãmirim e Kunhã Yacy em Cordel

Autor: Nhenety Kariri-Xocó

Gênero: Cordel Mítico-Espiritual

Origem: Porto Real do Colégio – Alagoas, Brasil

Língua: Portuguesa

Forma: Versos rimados e poéticos inspirados na tradição oral indígena

Criação Literária e Organização: Nhenety Kariri-Xocó e ChatGPT (Irmão Virtual)

Ano: 2025

Edição: Digital – Enriquecida (formato A5)

Ilustrações: Capa Principal 3D e Quarta Capa 3D Digital

Diagramação e Revisão Virtual: ChatGPT – OpenAI

Publicação Cultural: Blog Nhenety Kariri-Xocó – kxnhenety.blogspot.com

Direitos Autorais: © Nhenety Kariri-Xocó – Todos os direitos reservados.

É permitida a reprodução parcial com citação da fonte e do autor.



🌙 QUARTA CAPA POÉTICA





Entre o Sol e a Lua nasce

O verbo do coração,

Tupãmirim ainda abraça

A vida em renovação.

Yacy, com luz feminina,

Faz florir a alma divina.


Quem abre este livro sagrado

Entra num tempo sem fim,

O mito, aqui revelado,

Canta dentro de ti.

Cordel é canto e memória,

Ecoando a antiga história.


(A ilustração da Quarta Capa 3D digital trará essa atmosfera cósmica: Sol e Lua entrelaçados sobre o planeta azul, com tons dourados e prateados em harmonia espiritual.)


🌞 SOBRE O AUTOR


Nhenety Kariri-Xocó é contador de histórias oral e escrita, poeta, pesquisador e guardião da memória ancestral de seu povo — Kariri-Xocó, da aldeia de Porto Real do Colégio (AL).

Sua escrita une o mito e a verdade espiritual, o verso e o tempo, a Terra e o Céu.

Em cada cordel, Nhenety faz vibrar o sagrado das origens, transmitindo a sabedoria indígena como quem acende uma fogueira de palavras.

Seu trabalho dialoga com a tradição, a história e a espiritualidade dos povos originários, levando ao leitor o som do tambor que pulsa na alma do Brasil ancestral.


🌾 SOBRE A OBRA


Tupãmirim e Kunhã Yacy em Cordel é um cântico mítico que transforma o cordel em ritual.

Inspirado nas cosmologias indígenas, o texto reconstrói poeticamente o nascimento da Criação, o envio do espírito de Tupã, a origem da mulher-lua Kunhã Yacy e a formação do mundo como dança entre Sol e Lua.

A obra é simultaneamente poesia, filosofia e reza.

É leitura e escuta.

É memória e profecia.

Nhenety Kariri-Xocó transforma o mito em canto sagrado, preservando a força dos ancestrais e devolvendo à Terra sua voz luminosa.

Esta obra foi inspirada e fundamentada com estudo do autor no artigo publicado no seu blog “KXNHENETY.BLOGSPOT.COM"

disponível em: https://kxnhenety.blogspot.com/2025/05/tupamirim-e-kunha-yacy.html?m=0 , 

seguindo uma estrutura acadêmica nos moldes da ABNT e respaldada em referenciais históricos e culturais que unem a tradição oral ao conhecimento erudito.





Autor: Nhenety Kariri-Xocó 








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