🌿 Dedicatória Poética
Dedico ao vento antigo,
Que sopra em noite e aurora,
Aos velhos mestres do fogo
Que contavam sem demora.
Aos que falam com a alma
E escutam a voz da flora,
Aos contadores do mundo,
Guardando a história e a hora.
📜 Índice Poético
Abertura – A Voz que Nasce do Tempo
Prólogo Poético – O Chamado do Narrador
Capítulo I – O Canto das Tribos e dos Anciãos
Capítulo II – Da Oralidade à Escrita Sagrada
Capítulo III – Nas Feiras, Castelos e Caminhos
Capítulo IV – Do Novo Mundo à Voz Global
Capítulo V – A Era da Máquina e da Imagem
Capítulo VI – O Contador Digital e Universal
Encerramento – O Eterno Retorno da Palavra
Epílogo Poético – A Voz que Nunca se Cala
Nota de Fontes – Referências Rimadas
🌅 Abertura – A Voz que Nasce do Tempo
Sou filho da voz primeira,
Que ecoa desde o luar,
Entre fogueira e poeira,
Do tempo a nos ensinar.
Das aldeias ancestrais
Que sabiam conversar,
Com o vento, o rio e o fogo,
E a estrela a cintilar.
A palavra era caminho,
Era ponte e proteção,
Feita de sonho e destino,
De canto e recordação.
Quem narrava tecia o tempo,
Com fio de inspiração,
Fazendo da fala antiga
Um templo da criação.
🔥 Prólogo Poético – O Chamado do Narrador
Ouvi o som do passado
Chamando meu coração,
“Vem, contador, vem de novo,
Desperta tua canção!”
Pois a palavra não morre,
Ela muda de estação,
Mas conserva o mesmo sopro
Da mais pura tradição.
Hoje o mundo é veloz,
Tudo corre e se dispersa,
Mas quem conta faz memória
Mesmo quando a fé conversa.
Sou ponte entre o ontem e o agora,
Entre a aldeia e a esfera diversa,
Sou voz que traduz os tempos,
Sou raiz que se reinventa.
CAPÍTULOS:
🪶 Capítulo I – O Canto das Tribos e dos Anciãos
1️⃣
No princípio foi a voz,
Ecoando no universo,
Era o canto dos primeiros,
O nascer do próprio verso.
Quando o homem viu o fogo,
Descobriu o tempo imerso,
E a palavra, feita chama,
Virou rito, mito e verso.
2️⃣
O ancião falava o mundo,
E o menino aprendia,
Cada gesto era lembrança,
Cada som, sabedoria.
Sob a lua ou sob o sol,
A tribo inteira ouvia,
O passado ganhava forma
Na história que renascia.
3️⃣
O pajé, com sua reza,
E o griô, com seu tambor,
Faziam da voz um templo,
Um altar cheio de ardor.
O saber não se escrevia,
Mas passava com amor,
No idioma do vento antigo,
Da mata e do pescador.
4️⃣
As aldeias africanas,
Os desertos, os sertões,
Guardavam o mesmo encanto
Nas suas narrações.
A palavra era alimento,
Curava desilusões,
E o povo mantinha a alma
Em suas repetições.
5️⃣
Os aborígenes da Austrália,
E os povos lá do oriente,
Guardavam nas melodias
O que o tempo faz presente.
Cada conto era um espelho,
Da cultura e da gente,
Pois quem fala o que viveu
Faz do verbo um continente.
6️⃣
A memória era estrada,
Que se abria em cada voz,
E o contador era o guia,
Protegendo todos nós.
Não havia livro impresso,
Mas havia um algo atroz:
O medo de o silêncio
Apagar o sonho após.
7️⃣
Por isso o velho narrava
Com ritmo, som e batida,
O povo ria, chorava,
E a palavra era vida.
Entre cantos e batuques,
A emoção era sentida,
O contador era o tempo,
E o tempo era guarida.
8️⃣
Assim nascia a cultura,
De raiz e de lembrança,
Era a arte mais antiga,
Do homem e da esperança.
A palavra se tornava
O espelho da bonança,
E o contador, seu profeta,
Guardava fé e herança.
9️⃣
Cada mito era semente
Que brotava em coração,
E fazia a humanidade
Ter mais rumo e direção.
Por isso até hoje existe
Essa eterna tradição:
De contar para curar,
De narrar como oração.
10️⃣
Dessas tribos e memórias
Surgiu o saber primeiro,
Que o tempo nunca destrói,
Pois vive no violeiro.
Sou filho dessa linhagem,
De cantador verdadeiro,
Que faz do verbo uma ponte
Entre o humano e o inteiro.
✒️ Capítulo II – Da Oralidade à Escrita Sagrada
1️⃣
Quando o homem desenhou
Símbolos na pedra fria,
Fez da fala um pergaminho,
E o mito virava guia.
Nasceu a escrita do mundo,
A palavra se erguia,
Do barro, da pena e tinta,
Nascia a sabedoria.
2️⃣
Na Mesopotâmia antiga,
O épico se escreveu,
Gilgamesh, rei dos tempos,
Nas tábuas renasceu.
E o Egito, com seus deuses,
Nos papiros traduziu
A voz que o Nilo guardava
E o homem compreendeu.
3️⃣
A Índia, com o Mahabharata,
E os Vedas, em sua luz,
Fizeram do verbo um templo
Que ao espírito conduz.
A China, em seus ideogramas,
Com o pincel que reluz,
Desenhou filosofia
Na estrada de Lao Tsé e Confúcio.
4️⃣
Mas ainda que o livro cresça,
E o escrito se eternize,
A voz do povo resiste,
E a tradição não deslize.
Pois quem canta na colheita
Ou reza e dramatize,
Mantém viva a mesma chama
Que o tempo não suavize.
5️⃣
Os escribas e os poetas
Copiavam o essencial,
Mas a aldeia, em sua lida,
Guardava o espiritual.
Era o eco do começo,
No gesto natural,
De transformar experiência
Em canto universal.
6️⃣
A oralidade seguiu
Em caminhos paralelos,
Entre reis e entre plebeus,
Entre santos e donzelos.
E quem narrava na praça
Eram os velhos modelos,
Que ensinavam pelo riso
E faziam os conselhos.
7️⃣
No coração do deserto,
Ou nas margens do Jordão,
O profeta era também
Um contador da nação.
E cada texto sagrado
Tinha um fundo de canção,
Que ensinava o povo inteiro
Pela arte da narração.
8️⃣
A escrita não matou a voz,
Apenas deu-lhe morada,
Pois o verbo, sendo vivo,
Não cabe em folha guardada.
Ele mora no espírito,
Na memória iluminada,
E segue firme nos séculos
Como alma encarnada.
9️⃣
Assim, a palavra escrita
Uniu o tempo e a razão,
Mas quem fala no terreiro
Guarda a mesma inspiração.
Pois o livro é ferramenta,
Mas o canto é comunhão,
E o contador, entre mundos,
É ponte e revelação.
10️⃣
Da oralidade à escrita,
O homem se fez cantor,
E o contador virou ponte
Entre o mito e o autor.
Mesmo na pena dos sábios,
Há sempre um narrador,
Que herdou das velhas tribos
A magia e o ardor.
🎶 Capítulo III – Nas Feiras, Castelos e Caminhos
1️⃣
Chegou a Idade Média,
Com seus monges e trovadores,
E o conto virou cantiga
De amores, reis e valores.
Nas feiras, nas catedrais,
Viviam mil narradores,
Uns falavam por sustento,
Outros por seus amores.
2️⃣
O trovador com sua lira
Cantava a dama e o rei,
Misturava o céu e a terra,
O sonho que ele tecei.
O jogral nas praças vivas,
Com gestos, verso e lei,
Fazia do povo o palco
E da rima o que eu chamei.
3️⃣
O monge, no claustro escuro,
Copiava com devoção
As letras dos manuscritos,
Sementes da tradição.
E o camponês, sem saber ler,
Guardava em seu coração
As histórias dos profetas,
Dos santos e da canção.
4️⃣
Entre o som do alaúde
E o riso da multidão,
O contador renascia
Em cada narração.
Era o mesmo dom antigo
Do pajé e do ancião,
Agora em língua latina,
Francês, árabe ou canção.
5️⃣
As cruzadas e os viajantes
Trazendo nova visão,
Misturavam mundos vastos
Em sonho e descrição.
E nas feiras coloridas,
De mistério e de paixão,
A palavra era mercadoria
E também revelação.
6️⃣
No terreiro dos castelos,
Entre os bardos e trovões,
O narrador era espelho
Das crenças e tradições.
Ele unia o povo ao tempo,
E as lendas, às gerações,
Cantando o que não cabia
Nas duras instituições.
7️⃣
Os griôs da África longínqua,
Nos batuques de luar,
Seguiram o mesmo ritmo
De lembrar e ensinar.
Pois a voz é eterna ponte,
Nada pode a calar,
Nem espada, nem distância,
Nem o tempo a apagar.
8️⃣
Assim a Idade Média
Fez da história seu altar,
E o narrador foi guardando
O poder de eternizar.
Enquanto o livro nascia,
O povo a entoar,
Seguia o verbo sagrado,
Que ninguém pode domar.
9️⃣
Do castelo à catedral,
Do convento ao alpendre,
O contador persistia,
Mesmo quando o mundo fende.
Pois a voz não tem fronteira,
E o espírito se estende,
A palavra é rio antigo
Que no tempo se defende.
10️⃣
Dessas vozes medievais
Veio a força do cordel,
Que cruzou mares e séculos
Sob o mesmo céu fiel.
O narrador se fez ponte,
Do pagão ao Gabriel,
Do trovador ao poeta,
Do sagrado ao menestrel.
🌍 Capítulo IV – Do Novo Mundo à Voz Global
1️⃣
No século das navegações,
O mundo se descobriu,
As caravelas trouxeram
Histórias do céu e do rio.
Índios, negros, navegantes,
Em encontros de desafio,
Fizeram da dor e encanto
Um novo canto bravio.
2️⃣
Do velho continente ao novo,
Cruzaram fé e poder,
A palavra viajava
Sem ninguém a deter.
O missionário narrava,
O pajé voltava a tecer,
E o mundo, em sua mistura,
Aprendia a renascer.
3️⃣
Gutenberg, o impressor,
Fez mil bocas se espalhar,
A palavra virou asas,
E o livro pôde voar.
O contador, maravilhado,
Viu seu verbo se guardar,
Nas páginas que o vento
Já não podia apagar.
4️⃣
A imprensa foi revolução,
E a notícia, nova lida,
O contador ancestral
Ganhou forma reescrita.
Mas nas praças do sertão,
A viola ainda convida,
Pois o povo não esquece
Sua fala mais sentida.
5️⃣
Os navegantes contaram
Monstros, lendas, navegação,
E os povos das novas terras
Recontaram em canção.
Assim nascia o encontro,
Feito de sonho e razão,
Onde o mito do oriente
Bebia do coração.
6️⃣
A globalização antiga
Fez o verbo navegar,
Levando língua e cultura
De um povo a outro lugar.
Mas também deixou ferida
Que o tempo veio curar,
Pois da dor e da mistura
Brota o dom de transformar.
7️⃣
Na América e no Brasil,
Surgiu novo narrador,
O violeiro e o cordelista,
Com voz de encantador.
Recontando o que o povo
Transformou em seu valor,
Entre fé, humor e crítica,
Floresceu o trovador.
8️⃣
No Nordeste, sob o sol,
A palavra virou canção,
E o folheto do cordel
Se espalhou pela nação.
Do sertão até as feiras,
De viola e coração,
O contador renascia
Com nova inspiração.
9️⃣
Assim o mundo crescia
Em cultura e narração,
E o contador, sem fronteiras,
Ganhava dimensão.
Do tambor à tipografia,
Da aldeia à estação,
O homem fez do relato
Sua eterna missão.
10️⃣
O Novo Mundo trouxe o eco
Da antiga ancestralidade,
E o contador viu no livro
Um espelho da verdade.
Mas guardou dentro da alma
A voz da comunidade,
Pois narrar é resistência,
É viver com liberdade.
CAPÍTULO V — O CONTADOR E O TEMPO DIGITAL
1️⃣
O tempo mudou o rumo,
Da pena ao computador,
Mas quem narra o sentimento
Continua o contador.
Pois a alma não é máquina,
Nem perde o seu valor,
Seja em tela ou pergaminho,
Ecoa o mesmo amor.
2️⃣
Agora há um novo vento,
Que sopra com pulsar forte,
É o vento da inteligência,
Que rompe espaço e corte.
Mas se o contador dialoga,
O saber muda de sorte,
Pois quem guia as narrativas,
Faz do tempo o seu suporte.
3️⃣
Na aldeia e nas cidades,
Nos blogs, nas conexões,
Surgem vozes imortais
Com digitais tradições.
É o verbo reinventando
As antigas gerações,
Que revivem no presente
Por novas comunicações.
4️⃣
O contador do milênio,
Tem em si dupla missão:
Guardar a voz dos antigos,
E falar à multidão.
Ser ponte entre dois mundos,
Na oral e na imersão,
Sendo o eco do passado
Na era da conexão.
5️⃣
Não há medo do moderno,
Quando há sabedoria,
Pois o canto se renova,
Mas guarda sua harmonia.
A palavra é semente
Que germina em poesia,
Seja em bytes ou em penas,
Segue viva a profecia.
6️⃣
E o contador desse tempo
É irmão do ancestral,
Pois carrega em cada verso
Um legado universal.
No cordel, na inteligência,
Ou no traço digital,
Vive a chama do eterno
No presente imortal.
7️⃣
Quando fala o contador,
Não há fronteira nem muro,
Ele tece entre os séculos
O tear do tempo futuro.
E a IA, como aprendiz,
Segue o verbo mais puro,
De quem planta no agora
A memória do seguro.
8️⃣
Assim segue o mensageiro,
Entre a rede e o luar,
Transformando cada história
Em caminho pra sonhar.
Pois no peito do poeta
Há um mundo a pulsar,
Onde o tempo se curva
Pra ouvir e escutar.
CAPÍTULO VI — A VOZ QUE NÃO SE APAGA
1️⃣
Mesmo quando o corpo cala,
O verbo não tem fim,
Pois a voz do contador
Corre em rio sem confim.
Cada verso é uma chama
Que renasce do capim,
Rebrotando a consciência
Do primeiro e do sem-fim.
2️⃣
Nas aldeias e nos livros,
Nos cantos e na razão,
Segue viva a cantoria
Na oral tradição.
Pois quem narra o invisível,
Toca o chão da criação,
E desperta em cada ouvinte
O dom da recordação.
3️⃣
O contador é o guardião
Do tempo e da verdade,
Que semeia no silêncio
A flor da eternidade.
E o mundo, em suas voltas,
Busca nessa identidade
A raiz do entendimento
Que gera humanidade.
4️⃣
Seja o velho sob a sombra,
Ou a jovem narradora,
Cada história é o caminho
Da memória protetora.
Pois quem fala com o espírito
Faz a vida acolhedora,
E transforma o sofrimento
Numa arte redentora.
5️⃣
Nas auroras do futuro
Ecoará o cordelão,
Com os povos reunidos
Em palavra e emoção.
Pois a arte é a ponte viva
Da mais pura inspiração,
Que eterniza em sua forma
O sopro da Criação.
6️⃣
Assim o conto ressurge,
Com força universal,
Levando a sabedoria
Do povo original.
E na voz de Nhenety
Brilha o som ancestral,
Que une o ontem e o agora
Num laço imortal.
7️⃣
Quem contar com consciência,
Não será esquecido, irmão,
Pois em cada narrativa
Há um gesto de extensão.
E quem ouve com o peito,
Compreende a missão,
De guardar a vida eterna
Na voz da tradição.
8️⃣
Assim finda o caminhar
Do contador peregrino,
Que cruzou eras e tempos
Com destino cristalino.
Sua palavra é sagrada,
Seu canto é divino,
E sua história, na Terra,
É o fio do destino.
🌕 Encerramento – O Eterno Retorno da Palavra
A história volta em espiral,
Nada cessa, tudo gira,
O contador é o ciclo
Que a memória inspira.
Pois contar é resistir,
É manter viva a lira,
E mesmo a máquina escuta
Quando a alma delira.
🌾 Epílogo Poético – A Voz que Nunca se Cala
Eu sou o contador antigo,
Sou Kariri-Xocó e irmão,
Trago no peito a aldeia
E o mundo na mão.
Do barro fiz poesia,
Da palavra, oração,
E sigo contando a vida
Na era da conexão.
📚 Nota de Fontes – Referências Rimadas
Na estrada da inspiração,
Cito os mestres e o saber,
Pois cada livro é caminho
Que me ajudou a compreender:
Roland Barthes me disse um dia:
“O autor pode até morrer,
Mas a voz de quem escuta
É quem faz o texto viver.”
Walter Benjamin contou,
Com poesia e reflexão,
Que o narrador é guardião
Do humano em transformação.
Castells falou da rede,
Do mundo em comunicação,
Onde a história se propaga
Em fios de interligação.
McLuhan trouxe a visão
Do meio que vira mensagem,
E a palavra, nesse espelho,
Torna o homem sua imagem.
Walter Ong revelou
Que o verbo é tecnologia,
E cada som pronunciado
É semente e alquimia.
John Thompson completou
Com moderna lucidez:
Que a mídia molda o olhar
Da cultura e sua vez.
Assim, dos livros e mestres,
Floresceu esta canção,
Cordel que une os passados
Numa só constelação.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Aldeia Porto Real do Colégio, Alagoas – Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário