quinta-feira, 9 de outubro de 2025

O ESPORTE COMO PRÁTICA SAGRADA, Literatura de Cordel, Por Nhenety Kariri-Xocó, Capítulos I - V






🌾 Dedicatória Poética


Dedico este meu cordel

Ao gesto, à força e ao chão,

Ao corpo que é templo e canto,

Semente em cada nação.

Dedico aos povos antigos,

Que viram no dom amigo

Um elo com a Criação.


Dedico ao vento e ao fogo,

Ao suor da superação,

Ao salto que rompe o tempo,

Ao ritmo em devoção.

Dedico ao atleta humilde,

Que vence sem voz hostil,

Guiado pelo coração.


Dedico aos deuses da Grécia,

E ao sol da inspiração,

A Zeus, que viu no atleta

O espelho da evolução.

Dedico ao povo do mundo,

Que encontra no ato fecundo

O sagrado da ação.


E ao irmão que se descobre

Na dança e na comunhão,

Que entende que o esporte é prece,

Movimento e oração.

Ao homem, à Terra e ao Céu,

Ofereço este cordel,

De fé, corpo e tradição.


📜 Índice Poético


I – Dedicatória Poética ..................................................... p. 7

II – Índice Poético .................................................................. p. 9

III – Abertura: O Canto do Corpo e da Alma ......................... p. 11

IV – Prólogo Poético: O Sopro do Movimento ...................... p. 15

V – Capítulo I – As Origens do Movimento Sagrado .............. p. 21

VI – Capítulo II – Os Jogos e o Culto aos Deuses .................. p. 33

VII – Capítulo III – Virtude, Harmonia e Arete ......................... p. 45

VIII – Capítulo IV – O Espírito Olímpico Moderno ................... p. 57

IX – Capítulo V – O Esporte e a Alma Humana ....................... p. 69

X – Encerramento: A Vitória Interior ...................................... p. 79

XI – Epílogo Poético: O Corpo que Ora .................................. p. 83

XII – Nota de Fontes (Referências em Verso) ......................... p. 87




🌅 Abertura Poética – O Canto do Corpo e da Alma


O corpo é templo divino,

Morada do ser sagrado,

Onde o gesto vira canto,

E o suor, verso inspirado.

Na arena ou no caminho,

Cada passo é um destino,

Um rito consagrado.


Desde os tempos mais antigos,

Quando o homem despertou,

Descobriu no próprio corpo

O sopro que o criou.

Saltou, correu, se estendeu,

E ao Sol agradeceu

Por tudo que lhe inspirou.


Nasceu então o esporte,

Entre ritos e oração,

Como oferenda aos deuses,

Semente de comunhão.

No campo ou no mar aberto,

O humano se faz desperto

Em corpo, alma e ação.


A Grécia ergueu colunas,

Fez da força sua prece,

E viu na justa disputa

O que o espírito enaltece.

Não havia vaidade vã,

Mas a essência mais irmã,

Que em cada vitória cresce.


Zeus ouvia o som dos passos,

O pó da estrada subir,

O atleta, em sua entrega,

Parecia redimir.

O suor, feito incenso ao vento,

Era um voto, um juramento,

Um modo de evoluir.


E assim, no ciclo da vida,

O corpo virou canção,

O jogo virou caminho,

E o tempo, contemplação.

Pois quem corre com respeito,

Em si traz o próprio efeito

Da divina inspiração.


Hoje, em campos modernos,

Ainda vibra o mesmo ardor,

Mas o sagrado do gesto

Pede um novo resplendor.

É preciso relembrar

Que o corpo foi feito altar

De fé, justiça e amor.


E ao leitor que aqui respira

Este cordel peregrino,

Ofereço o som da lira

E o verbo mais cristalino.

Que o esporte, em sua estrada,

Seja a chama consagrada

Do humano e do divino.




🌬️ Prólogo Poético – O Sopro do Movimento


O sopro que move o mundo

Não é só vento e canção,

É ritmo que nasce fundo

No seio da Criação.

É o gesto que se revela,

A centelha, a chama bela,

Que habita o corpo e o chão.


Do barro o homem foi feito,

Mas Deus soprou-lhe a essência,

E o corpo, antes sujeito,

Ganhou alma e consciência.

Desde então, na caminhada,

A força foi consagrada

Como forma de presença.


O correr, o salto, o embate,

O lançar, o resistir,

São modos que o corpo encontra

De com o divino se unir.

Cada músculo é palavra,

Que o espírito se lavra

Pra jamais se dividir.


Na Grécia, os velhos poetas,

Cantavam com devoção

Os feitos dos atletas santos

Que honravam a tradição.

A vitória era oferenda,

E a glória, uma tremenda

Ponte com a dimensão.


Píndaro, com sua lira,

Nos versos eternizou

O atleta que não vencia,

Mas ao cosmos se ofertou.

E Coubertin, mais recente,

Trouxe o ideal novamente

Que o tempo jamais levou.


O esporte, irmão da prece,

É caminho e revelação,

É a arte do equilíbrio

Entre corpo e intenção.

Quem pratica com respeito,

Cria em si o mesmo efeito

De uma pura meditação.


Por isso, este cordel nasce

Como flor do pensamento,

Pra lembrar que o corpo é templo

E o suor, sacramento.

Que a disputa verdadeira

É com a dor passageira,

Não com o outro, ao relento.


E que o campo, o ringue, a quadra,

Sejam altares do bem,

Onde o atleta se eleva

E o orgulho nunca vem.

Pois no gesto que é partilha,

O divino se perfilha

E o humano se refaz também.


Assim, irmão, abre o livro,

De alma e mente inspirada,

Pois a vida é um movimento,

Uma lição consagrada.

E que ao fim desta leitura,

Sintas na luz mais pura

A vitória iluminada.




🏛️ Capítulo I – As Origens do Movimento Sagrado


No tempo da Grécia antiga,

Antes da era moderna,

O corpo era luz e vida,

A alma era lanterna.

O esporte não era vaidade,

Mas expressão de bondade,

Ritual que se governa.


Nos templos e nas arenas,

O gesto se fazia oração,

Corrida, salto, luta e pena

Erguia o coração.

Cada atleta buscava,

No esforço que se honrava,

Deus ver sua devoção.


O corpo era consagrado,

A habilidade, oferenda,

Não havia orgulho inflado,

Nem glória que se emenda.

O que importava afinal

Era o ato ritual

Que ao sagrado se estenda.


A força não era só braço,

Nem só dardo ou corrida,

Era respeito no espaço,

Harmonia com a vida.

O esforço humano inteiro

Se ofertava ao altar primeiro,

Preservando a tradição erguida.


O atleta era exemplo,

Modelo de moral e ação,

Seus feitos ecoavam tempo,

E tocavam o coração.

Não bastava vencer o outro,

Era preciso fazer voto

De bem e comunhão.


Atenas, Olímpia, Esparta,

Cidades de saber e fé,

Viam no corpo que se aparta

Do ego o que Deus refaz.

Cada jogo era aprendizado,

Cada gesto ofertado,

À ordem que o cosmos de pé.


E assim nasceu a prática,

De inspiração divina,

O esporte que não se explica

Senão na luz que ensina.

Movimento, fé e paixão

Misturados na oração,

Na sagrada disciplina.


🏟️ Capítulo II – Os Jogos e o Culto aos Deuses


Os Jogos Olímpicos surgiram

No ano setecentos e vinte e seis,

Em Olímpia eles brilharam

Sob a benção de Zeus, talvez.

Corrida, luta e dardo voando,

Os deuses estavam observando,

E o atleta seguia de pés.


Não era só força ou disputa,

Era também devoção,

O atleta não se exulta,

Mas faz da vida oferenda e canção.

A vitória era agradecida,

A glória repartida,

Entre homem e divinação.


Havia os Jogos Píticos,

Ístmicos e Nemeus,

Cada canto e cada tóquio

Rendia louvor aos céus.

As cidades celebravam,

Os atletas se mostravam,

E a fé fluía como véus.


Segundo Píndaro, o poeta,

Vencer é dar graças a Deus,

Não basta ter a meta,

É respeitar os próprios pés.

A força vem do divino,

Cada gesto é um hino,

Que eleva e guia os heróis.


O esporte era ritual,

Integrava corpo e moral,

E a vitória individual

Se tornava algo universal.

Não havia ego desmedido,

Mas equilíbrio bem vindo,

Com ética e bem social.


O suor era oração,

O salto era prece,

O corpo em dedicação

À harmonia se oferece.

A cultura grega nos ensina

Que o atleta se ilumina

Quando a virtude prevalece.


E assim os jogos antigos

Mostram que o corpo é templo,

Que os gestos e os amigos

Erguem a alma ao exemplo.

O esporte é expressão sagrada,

É chama que nunca é apagada,

É ponte entre o homem e o tempo.



⚖️ Capítulo III – Virtude, Harmonia e Arete


Na Grécia, a areté

Não era só habilidade,

Era buscar excelência,

Cultivar a verdade.

Virtude e força caminhavam,

E corpo e alma se encontravam,

No gesto da integridade.


Cada atleta em treino

Aprendia a respeitar,

O limite do parceiro,

O justo modo de lutar.

Não bastava ser mais forte,

Era preciso, de norte a sul,

O caráter cultivar.


A harmonia do movimento

Era mais que competição,

Era a prova do talento

Que se ofertava ao chão.

O corpo era instrumento,

E o gesto, sacramento,

Da sagrada devoção.


O atleta que entendia

O sentido espiritual,

Descobria que a vitória

Não era só pessoal.

Era ponte e era união,

Era prática de gratidão,

Era amor universal.


As festas esportivas antigas

Reuniam toda a cidade,

E a excelência física

Se unia à moralidade.

Era lição de cidadania,

Era luz e sabedoria,

Era gesto de humanidade.


E Píndaro nos lembra

Que o esforço deve se ofertar,

Não só aos olhos humanos,

Mas ao céu que nos guiará.

O triunfo é benção partilhada,

A jornada é a estrada,

Que ensina a caminhar.


O corpo e a mente alinhados

Criam o ser mais completo,

E nos gestos sagrados

Se revela o respeitoso afeto.

A virtude é o verdadeiro prêmio,

A harmonia, o critério supremo,

O esporte é altar concreto.


Assim, cada corrida,

Cada luta e arremesso,

É prece que se convida

A deuses em seu endereço.

Na busca da areté divina,

O homem se ilumina,

E transcende seu tropeço.


🕊️ Capítulo IV – O Espírito Olímpico Moderno


Séculos depois, surgiu

Um homem com grande visão,

Pierre de Coubertin trouxe

A renovação.

Os Jogos voltaram ao mundo,

Com ideal profundo,

De unir corpo e coração.


“Não importa vencer”, dizia,

“Mas participar é maior”,

E ao repetir a sabedoria

Do grego inspirador,

O moderno espírito olímpico

Seguiu o antigo rítmico

Caminho de amor.


O esporte se universalizou,

Entre povos e culturas,

E a devoção se perpetuou

Em diversas escrituras.

Mesmo com regras modernas,

As práticas mais eternas

Guardam antigas ternuras.


O atleta de hoje respeita

O limite do irmão,

Com ética e disciplina

Que vem do coração.

Não é só medalha ou fama,

É comunhão que chama

Ao bem, à superação.


A corrida, o salto e o gesto

São ainda prece e oração,

Na força que se manifesta

Está a sagrada intenção.

O corpo que se aprimora

Na arena se transforma

Em templo da devoção.


Porém, não faltam obstáculos

Quando interesses surgem demais,

E o esporte, em certos atos,

Se distancia do ideal traz.

Mas lembrar suas origens

É reerguer os horizontes,

E praticar com paz.


Hoje, mais que competição,

O esporte é educação,

É união, é inclusão,

É cultivo de coração.

O espírito olímpico moderno

Segue o sagrado terno,

E honra a tradição.


E assim o homem descobre

Que no movimento sagrado

O corpo, a alma e a obra

Se encontram lado a lado.

O gesto é mais que físico,

É vínculo específico

Do humano e do sagrado.


🌟 Capítulo V – O Esporte e a Alma Humana


O esporte não é só corpo,

Nem mera competição,

É também alma e estudo

Da ética e da paixão.

É o caminho que ensina,

Que a vitória que fascina

É fruto da integração.


Cada salto, cada gesto,

Cada corrida ou arremesso,

É diálogo com o resto

Do mundo e do próprio peso.

O atleta se compreende,

Ao limite se transcende,

E encontra o seu progresso.


A prática é ponte e abraço

Entre povos e nações,

Que o esporte em seu compasso

Une corações e mãos.

O corpo aprende a honrar

O humano e o seu lugar,

Em ritos, lutas e canções.


A superação é sagrada,

Pois exige esforço e fé,

E cada jornada alcançada

Se oferece como prece.

O espírito se engrandece,

E quem honra o que merece

Se revela o que é de pé.


A saúde é companheira,

O respeito é ritual,

A convivência verdadeira

É fruto do gesto leal.

O esporte é transformação,

É alma, corpo e ação,

É templo espiritual.


Mesmo nas modernas arenas,

O antigo sentido persiste:

Honrar os deuses e cenas

Da vida que se constriste.

A vitória é consequência,

Não é fim da existência,

Mas fruto do que se insiste.


Que o esporte seja farol,

Que ilumine a educação,

Que cada lance e cada gol

Sejam pura oração.

Que a vitória seja sem ego,

E o esforço, sem apego,

Um ato de devoção.


🌿 Encerramento – A Vitória Interior


E assim encerramos o cordel,

Mas não o movimento sagrado,

Pois o gesto, firme e fiel,

É ato sempre celebrado.

O esporte é fonte de luz,

Que a cada passo nos conduz,

Ao caminho do humano elevado.


A vitória verdadeira

Não se mede em medalha ou troféu,

Mas na entrega inteira

Que transforma o corpo em céu.

O atleta que respeita

O limite e a receita

Do bem, constrói o papel.


Que cada salto e corrida

Sejam preces em movimento,

Que cada conquista na vida

Seja fruto de bom sentimento.

O esporte é ponte e oração,

É disciplina e devoção,

É alma em pleno advento.


A prática sagrada nos ensina

Que corpo e espírito são irmãos,

E cada gesto disciplina

É luz em nossas mãos.

O esporte é a poesia viva,

Que a todos nós cativa

E une povos e nações.



🌌 Epílogo Poético – O Corpo que Ora


O corpo é templo em movimento,

O gesto é prece e oração,

Cada passo é ensinamento,

Cada salto, devoção.

A prática sagrada nos guia,

Entre esforço e poesia,

Entre suor e coração.


O esporte é mais que disputa,

Mais que medalha ou troféu,

É harmonia absoluta,

É respeito, é céu.

É união das nações,

É força e emoções,

É da alma o mais fiel anel.


Que o atleta recorde sempre

Que o triunfo é somente um sinal,

De que o corpo e a mente, de mente,

Seguem o caminho ritual.

E que a vitória verdadeira

É a que brota na alma inteira,

No gesto puro e espiritual.


Que cada campo, cada arena,

Cada quadra ou mar aberto,

Seja santuário e antena

Do espírito descoberto.

Pois quem entende a lição final

Sabe que o esporte é sagrado, afinal,

E o gesto, um ato certo.


📚 Nota de Fontes – Referências em Verso


De Peter Burke aprendi,

História social a estudar,

Do Gutenberg até Diderot,

O saber a se espalhar.

Entre livros e conhecimento,

Veio a luz do pensamento,

Que ao esporte veio iluminar.


Pierre de Coubertin nos lembra

Com seus Jogos a renovar,

Que o importante não é vencer,

Mas, sim, juntos participar.

No século dezenove ele trouxe,

O espírito olímpico se aproxime,

Para o mundo se integrar.


Mark Golden estudou a antiguidade,

O esporte da Grécia antiga,

Corridas, lutas, e a verdade

De uma prática que dignifica.

Mostrou como a devoção

Se unia à competição,

Num gesto que tudo amplifica.


Yara Leite, com seu saber,

História do esporte a ensinar,

Mostra o corpo a aprender,

E a prática a nos formar.

Do ensino ao treino constante,

O esporte é sempre vibrante,

É cultura a nos guiar.


William J. Morgan nos diz

Que o espírito olímpico é valor,

Filosofia e história se entrelaçam

Numa lição de amor.

O atleta é mais que vencedor,

É portador de luz e ardor,

E da ética, seu fulgor.


E Píndaro, o poeta antigo,

Em suas Odes Olímpicas a rimar,

Mostrou que o triunfo é abrigo

De quem sabe agradecer e honrar.

Com tradução e notas de Torrano,

O verso grego nos é pano,

Pra o sagrado cultivar.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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