CAPÍTULO IX — O Fim das Aldeias e o Nascimento da Resistência
Com isso aldeias do Brasil
Tão esquecidas no Império,
Os índios buscando abrigo,
Pois o negócio estava sério;
Muitos deles foram embora,
Outros mortos no cemitério.
Porém, baixo São Francisco,
Colégio era mais favorável;
No meio à floresta do Ouricuri,
O lugar era mais confortável,
Essa mata que ficou intacta
Do ser explorador insaciável.
No passado, nessas aldeias
Onde havia rituais ancestrais,
Tanto em Alagoas e Sergipe,
Com festas tradicionais,
Quanto na Bahia e Pernambuco,
Que cultuavam seus ancestrais.
Em Porto Real do Colégio
Uma rua virou aldeamento;
Morava Pajé Manoel Paulo,
Recebia com acolhimento;
Xocó chegaram de São Pedro
Em 1882, naquele tormento.
Chegando várias etnias
Das missões sanfranciscanas,
Como Pacatuba e São Pedro,
Nessa província sergipana;
Outros vinham de Águas Belas,
Boa parte pernambucana.
O povo chamava o rio Opará,
Nome vindo da designação,
Com o indígena de Colégio,
Portanto, da miscigenação,
Entre etnias Kariri e Xocó,
Representando unificação.
Significando vários povos,
De tradições tão vivas,
Que, para não as perderem,
Buscaram alternativas;
Na vida harmônica e de paz,
Mantiveram-se coletivas.
CAPÍTULO X — A Vila, O Intendente do Espírito do Povo
Dia 7 de julho de 1876,
A povoação foi elevada;
Vila Porto Real do Colégio,
De Penedo emancipada,
Com sede administrativa,
Portanto, bem estruturada.
Francisco Xavier Ourives,
Sendo o primeiro intendente,
De Porto Real do Colégio,
Um chefe independente;
Instalada sede no distrito,
O povo estava contente.
Criada escola e delegacia,
Com Câmara Municipal,
Boa sede defronte à Igreja,
Numa praça principal;
Bem próximo ao antigo prédio
Do Colégio colonial.
O segundo intendente um nativo,
Índio da comunidade,
Alferes Firmino José dos Santos,
Homem de grande lealdade;
Na legislatura de 1880,
Mostrou força e dignidade.
Segundo tradição indígena,
Alferes Firmino era ritual,
Sempre montado a cavalo,
Com porte cerimonial;
Participava das cerimônias
Com respeito ancestral.
Esse índio, baluarte firme,
Defendeu sua comunidade,
Território sagrado e alma,
Contra a falsa civilidade;
Na intendência acolhia
Os seus com humanidade.
Após sua morte, tudo mudou,
Muitas terras se perdeu,
Somente o Ouricuri ficou,
E o silêncio se estendeu;
Morando em rua estreita,
O indígena padeceu.
Rua dos Caboclos chamaram,
Com nome de discriminação,
A aldeia saiu do centro,
Perdeu-se na civilização;
Fixou-se na periferia,
Pela força da opressão.
CAPÍTULO XI — O Territorio e o Sonho Adormecido
Em 1914 veio o engenheiro
Do governo estadual,
Chamado Roberto Reis,
Em missão institucional;
Estudou o território antigo,
De importância ancestral.
Criou-se o Centro Agrícola,
Por ordem federal,
Para colonizar as terras
Da antiga missão local;
Mas era chão de memória,
Um domínio espiritual.
Com Roberto Pereira Reis,
Projeto de colonização,
Documentando ao governo
Limites da demarcação,
Do território indígena
Fez extenso relatório à nação.
Antigo chão sagrado e vivo,
Que o engenheiro registrou,
Media cerca de seis mil hectares,
Do Colégio até São Brás marcou;
As “Duas Léguas de Terras”
Do invasor ele anotou.
CAPÍTULO XII — As Terras Tomadas e o Grito Silencioso
Da notícia sobre as terras
Seriam loteadas e vendidas,
O João Baca Ferreira falou
A autoridades conhecidas;
As assinaturas da aldeia,
Jamais seriam atendidas.
Firmo de Castro, em 1915,
Intendente que não gostava,
Alerta o caboclo João Baca:
“Deixa o povo, como estava!”
Mas o índio organizava,
E por isso o homem ameaçava.
S.P.I., o órgão dos índios,
Atuava em todo o Brasil,
Fundando postos distantes,
Contra o grileiro sutil;
Que invadia o chão sagrado,
Com disfarce tão febril.
Os Carnijós de Águas Belas,
Primeiros índios conhecidos,
No estado de Pernambuco,
Depois de serem feridos,
Na década de vinte enfim
Foram pelo governo reconhecidos.
No dia 21 de abril de 1923,
Criou-se o Serviço do Algodão,
Em Porto Real do Colégio,
Para a “boa produção”;
Mas por trás do algodoeiro,
Iniciava-se a expropriação.
Criado o Centro Agrícola,
Chamado de Sementeira,
Em outubro de 1924,
Tomou a terra inteira;
Fazenda Federal no Colégio,
Com a cerca traiçoeira.
Na antiga terra indígena,
Inalienáveis e sagradas,
Cerca de seis mil hectares
Foram logo arrematadas;
No papel, terras vendidas,
Mas na alma, enlutadas.
No próprio Centro Agrícola,
Conhecido por Sementeira,
Ficaram 495 hectares,
De terra fértil e verdadeira;
Com lagoas e riachos,
E uma mata inteira.
Para os índios de Colégio,
Restou rua e ritual,
Muitos voltaram à mata,
Ao abrigo natural;
Construíram novas casas,
No território ancestral.
Outros na Rua dos Índios,
Da São Vicente conhecida,
Mesmo com dor e pobreza,
Sentiam-se agradecidos;
Pois o Ouricuri Sagrado
Dava força à sua vida.
CAPÍTULO XIII — O Pajé Suíra e a Luz do Ouricuri
Francisco Queiroz Suíra,
Da origem com vocação,
Em 1928, aos dezesseis,
Assumiu a tradição;
Dirigindo o Ouricuri Santo,
Com firme convicção.
Com choupanas de palha,
À beira do São Francisco,
Junto à Rua dos Caboclos,
Viviam tempos de risco;
Um período conturbado,
Que exigia ser arisco.
Neste espaço de memória,
Não se deve esquecer:
Aqui morou Inocêncio Pires,
Homem sábio do saber;
E a rua de Gabriel e Matildes,
Lugar digno de enaltecer.
As terras que eram suas,
Agora eram de aluguel,
O índio servia aos fazendeiros,
Trabalho duro e cruel;
Ganhava apenas migalhas,
Sob o mando do coronel.
CAPÍTULO XIV — A Descoberta e a Expressão Cultural
No dia 4 de abril de 1935,
Mudou toda a situação,
O cientista Carlos Estevão
Iniciou identificação;
Achou os índios em Colégio,
Fez logo sua catalogação.
Segundo suas pesquisas,
Nas ruas observadas,
Identificou as etnias,
Por Maria Tomázia narradas;
E os nomes dos Kariri-Xocó
Foram enfim registradas.
Padre Alfredo Damaso,
Do Bom Conselho e compaixão,
Defendia índios e pobres,
Com fé e devoção;
Assim como em Águas Belas,
Livrava o povo do chicotão.
Os Kariris de Porto Colégio
Saíram do isolamento,
Com o Pajé Suíra à frente,
Buscando reconhecimento;
Falou com Basílio e Sarapó,
Com espírito e consentimento.
Na Rua dos Caboclos havia
Um antigo juazeiro,
Perto do chalé de Gabriel,
Índio rico e companheiro;
Atendia todos com bondade,
Era o líder verdadeiro.
Com sua morte, o terreno
Logo foi ocupado,
Capitão Zezé fez fábrica,
De arroz bem despolpado;
Mas a rua se transformava,
E o povo, preocupado.
“Pra livrar das amarguras,
Vamos gente aparecer!
Com índios desta cidade,
A cultura vamos tecer;
Nas festas, nas danças,
Até o dia amanhecer.”
Em Porto Real do Colégio,
No esplendor cultural,
A Chegança dos indígenas
Tornou-se essencial;
Com o mestre Cacique Jonas,
Símbolo multicultural.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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