segunda-feira, 6 de outubro de 2025

COSMOLOGIA, HISTÓRIA E CULTURA DOS NATIVOS AMERICANOS EM CORDEL, Por Nhenety Kariri-Xocó





🌾 Dedicatória Poética


Aos povos da Mãe-Terra bendita,

Que dançam no sol e na lua,

Aos anciãos de palavra bonita,

Que guardam a voz que flutua.

Aos Sioux, aos Algonquinos fiéis,

Que veem nos ventos seus papéis,

Ofereço este canto que nasce na rua,

Do espírito livre e da alma nua.


Aos povos da América antiga,

Que vivem no sonho da bruma,

Entrego esta lira amiga,

Com a força da fé que ilumina.

Que o som do tambor e o sopro do vento,

Guie o leitor por todo momento,

Na trilha da história divina.


📜 Índice Poético


Abertura — O Canto dos Quatro Ventos


Prólogo Poético — Vozes do Grande Espírito


Capítulo I — A Teia Sagrada da Criação


Capítulo II — Caminhos Ancestrais e Primeiras Jornadas


Capítulo III — Povos, Clãs e Alianças do Norte


Capítulo IV — O Choque das Caravelas e do Fogo Estrangeiro


Capítulo V — Guerreiros, Sonhos e Resistência


Capítulo VI — A Sabedoria e o Fogo da Tradição


Capítulo VII — Vozes Vivas da América Nativa


Encerramento — O Círculo Retorna à Terra


Epílogo Poético — Canto à Eternidade dos Povos


Nota de Fontes — A Palavra dos Livros Sagrados


🌅 Abertura — O Canto dos Quatro Ventos


Do Norte sopra a memória,

Do Sul o perfume da flor,

Do Leste vem a vitória,

Do Oeste o sopro do amor.

Entre as planícies e rios sagrados,

Os povos falam em tons consagrados,

Unindo tempo, verdade e dor.


O cordel é arco e caminho,

Que lança o verbo no além,

Canta o bisão e o passarinho,

Que dizem: “A Terra é de quem tem

Coração limpo e alma em chama,

Que escuta o vento e a quem ama,

E guarda o mundo também.”


🌠 Prólogo Poético — Vozes do Grande Espírito


Wakan Tanka, mistério profundo,

Gitche Manitou, força maior,

Derramaram-se sobre o mundo,

Em sonho, trovão e suor.

Criaram o sol, o fogo e o rio,

Deram ao homem o desafio,

De viver com respeito e amor.


Cada estrela é um ancestral,

Cada árvore, um espírito irmão,

A Terra é ventre universal,

O homem, semente e canção.

Assim nasceu a sabedoria,

Que no peito dos povos ardia,

Como eterna revelação.



🪶 CAPÍTULO I — A TEIA SAGRADA DA CRIAÇÃO


1️⃣

Antes do tempo dos homens,

Quando o mundo era canção,

Surgiu no sopro dos ventos

O mistério em expansão.

Wakan Tanka, o Infinito,

Teceu o fio bendito

Da vida em comunhão.


2️⃣

Gitche Manitou, em luz,

Nas florestas fez brotar

O espírito que conduz

O rio, a pedra e o mar.

Cada folha tem memória,

Cada som revela a glória

Do eterno despertar.


3️⃣

Os Sioux chamavam “Mistério”,

O poder que não tem fim,

Que no trovão é império

E na brisa é serafim.

Não há forma nem figura,

Mas há força e há ternura

Que faz do nada um jardim.


4️⃣

Os Algonquinos, em reza,

O mesmo sopro sentiam,

E a Mãe-Terra, com leveza,

Os filhos seus envolvia.

Gitche Manitou, divino,

Era o pai, o sol, o destino,

Que o mundo inteiro regia.


5️⃣

Acima, o Grande Espírito;

No meio, o vento e o chão;

Abaixo, o homem contrito

Em sagrada ligação.

Nada é morto, tudo é vivo,

O tempo é cíclico e altivo,

No elo da Criação.


6️⃣

O trovão fala nos céus,

O fogo ensina a coragem,

O rio leva aos anéis

Do sonho em sua viagem.

Cada estrela, um ancião,

Cada noite, uma lição,

No livro da paisagem.


7️⃣

Os xamãs, com o tabaco,

Peiote, salva e tambor,

Entravam no mesmo espaço

Do espírito e do amor.

Em visões viam caminhos,

Falavam com os passarinhos,

E curavam a dor.


8️⃣

Os humanos são apenas

Parte do todo maior,

Guardam missões terrenas

No tempo e no labor.

São guardiões do equilíbrio,

Devem ser, sem desvio,

Servos do Criador.


9️⃣

Assim, entre o céu e o chão,

Entre o fogo e o trovão,

Viviam com devoção

Os povos da imensidão.

O mundo era uma teia,

E a alma, doce aldeia

De amor e contemplação.


⛰️ CAPÍTULO II — CAMINHOS ANCESTRAIS E PRIMEIRAS JORNADAS


1️⃣

Dos gelos da velha Ásia,

Um povo cruzou o frio,

Com coragem, fé e magia,

Seguindo o vento e o rio.

Vieram por Bering, ponte,

De estrela, aurora e monte,

Buscando o novo estio.


2️⃣

Foram caçadores do tempo,

Tecendo em pedra o saber,

Criaram armas, alimento,

E o dom do sobreviver.

Doze milênios de trilhas,

Rituais e maravilhas,

Antes do sol renascer.


3️⃣

No chão de mil geografias,

Surgiram os ancestrais,

Hopewell, Adena e missas,

Cultos e montes cerimoniais.

Construíram pirâmides brandas,

Que o tempo nunca desanda,

E ecoam nos rituais.


4️⃣

Das planícies ao grande lago,

Das florestas ao deserto,

O homem, no rumo vago,

Fez da Terra o lar aberto.

Entre rios e montanhas,

O espírito nas entranhas,

Fez o futuro desperto.


5️⃣

Os Sioux, com seus cavalos,

Do bisão fizeram altar,

E nas danças, nos abalos,

Viam o sol se levantar.

O fogo, o canto e o pó,

Unidos num mesmo nó,

Pra alma se purificar.


6️⃣

Os Algonquinos, guardiões

Das florestas e do vento,

Em suas canções e rezas,

Plantavam contentamento.

Viviam da caça e do milho,

Sob o luar em concílio,

Deus no firmamento.


7️⃣

O cachimbo era palavra,

O fumo, oração sagrada,

Na fumaça que se lavra,

Subia a paz desejada.

Assim selavam alianças,

Prometendo esperanças

De vida renovada.


8️⃣

Viviam em clãs e lares,

Sob a lei do bem comum,

Mulheres, guias e pares,

Guardavam o dom nenhum.

A lua ditava o tempo,

E o amor era fundamento

Da aldeia e de cada um.


9️⃣

O tempo era um círculo vivo,

Sem começo ou fim marcado,

Tudo era santo e cativo,

Do espírito abençoado.

E a cada novo nascer,

O povo voltava a ser

Um só com o sagrado.


10️⃣

Assim começou a história,

Das Américas em flor,

Povos de lenda e memória,

De fé, coragem e valor.

Deus falou no trovão,

E a Terra, mãe e canção,

Acolheu todo o amor.



🌅 CAPÍTULO III – AS VOZES DO VENTO E O CÍRCULO DA VIDA


1️⃣

O vento sopra nos montes,

E fala em língua sagrada,

Traz o eco dos horizontes,

Com a Terra abençoada.

“Tudo é parte do mesmo todo”,

Diz o ancião de fala pausada.


2️⃣

O círculo é lei primeira,

Sem início, sem final,

A morte é porta ligeira,

Pra um nascer espiritual.

Na dança do tempo e da poeira,

O ciclo é o elo vital.


3️⃣

Os Sioux olham as estrelas,

Como espelhos do coração,

Cada luz brilha pra tê-las

Na alma em contemplação.

O céu é morada das tribos

Que vivem na imensidão.


4️⃣

O búfalo é pai e alimento,

Do couro ao sagrado rito,

É sustento e sentimento,

É o pacto mais bonito.

Com respeito ao firmamento,

Seu sangue jamais é maldito.


5️⃣

Quando a fumaça sobe ao alto,

Os espíritos vêm dançar,

No tambor pulsa o assalto

Do trovão a ressoar.

A canção de Tȟaté Wíčha

Faz o céu se iluminar.


6️⃣

Os velhos guardam o mito,

De Iktomi, a aranha sábia,

Que teceu no infinito

A rede que o tempo sabia.

Prendeu sonhos e segredos

Na teia da harmonia.


7️⃣

A lua é irmã das águas,

Que lavam o corpo e a dor,

E as lágrimas são fráguas

De renascer interior.

Na noite clara e tranquila,

Wí simboliza o amor.


8️⃣

O sol, pai do universo,

Em fogo e clarão sagrado,

Ilumina o verso imerso

Do povo consagrado.

Cada aurora é reza viva,

Em círculo renovado.


9️⃣

No conselho de cada aldeia,

A palavra é medicina,

O silêncio tece a teia

Que o espírito ilumina.

Assim o vento aconselha:

“Em tudo, a Verdade ensina.”


10️⃣

E o jovem aprende a escuta,

Do rio, da pedra, do chão,

A natureza é conduta,

E a fé, libertação.

Pois quem honra o Círculo Maior

Escuta o sopro da Criação.


🌄 CAPÍTULO IV – A NAÇÃO DOS GRANDES LAGOS E O ESPÍRITO ANCESTRAL


1️⃣

Nos vales dos Grandes Lagos,

Os Algonquinos se erguem altivos,

Entre pinheiros e arcos,

De lagos tão expressivos.

Ali nasceu Gitche Manitou,

Pai dos sonhos e dos vivos.


2️⃣

Os Ojibwe, povo das margens,

Cantavam à canoa e ao vento,

Guardavam nas suas viagens

Os segredos do firmamento.

O lago é ventre da Mãe Terra,

Reflexo do entendimento.


3️⃣

Do norte ao sul das florestas,

As tribos se entrelaçavam,

Na fumaça das grandes festas,

Os mitos se revelavam.

E em cada fogo sagrado,

Os corações se tocavam.


4️⃣

Gitche Manitou criou o homem

Do barro, da luz e do sopro,

Deu-lhe o dom e o nome,

E o espírito no corpo.

Disse: “Tudo o que fores,

Faz com respeito ao teu próprio rosto.”


5️⃣

Assim nasceu o clã da Águia,

Que guarda a visão do alto,

A força que nunca esfria,

Mesmo no duro asfalto.

Seu voo é reza constante,

Seu olhar, sagrado assalto.


6️⃣

Os clãs da Lince e do Urso

Protegem o chão e o lar,

São guerreiros do esforço

E do sonho de perpetuar.

No totem o símbolo pulsa,

Pra jamais se profanar.


7️⃣

As mulheres tecem os cantos,

Com fibras e voz serena,

Seus fios guardam encantos

Da vida e da cena plena.

Cada cesto é um poema

De amor, silêncio e antena.


8️⃣

Os jovens, junto à fogueira,

Aprendem com os mais velhos,

Que a sabedoria verdadeira

Vem dos céus e dos espelhos.

E que o tempo é o grande rio

Dos passos e dos conselhos.


9️⃣

Em cada aurora dourada,

O povo ergue sua mão,

Saúda a Terra amada

Com canto e invocação.

Gitche Manitou responde

No vento e no trovão.


10️⃣

Assim segue o povo antigo,

Guardando o que é divino,

Na trilha do bom abrigo,

Do caminho cristalino.

Pois quem ama a Mãe Natureza,

Encontra o eterno destino.



⚡ CAPÍTULO V – QUANDO OS NAVIOS RASGARAM O HORIZONTE


1️⃣

Do leste veio o clarão,

Um brilho de ferro e fogo,

Com cruz e canhão na mão,

E o mapa de um novo jogo.

O mar trouxe o presságio,

Do tempo do desafogo.


2️⃣

Os anciãos viram o medo

Nos olhos dos animais,

O vento mudou seu enredo,

Os corvos voaram demais.

“Algo vem quebrar o ciclo”,

Disseram os sinais ancestrais.


3️⃣

Nas praias dos Grandes Lagos,

Chegaram homens estranhos,

Com metais, armas e trapos,

E gestos muitos tamanhos.

Ofereciam contas falsas,

Com sorrisos tão estranhos.


4️⃣

As tribos fizeram conselho,

Chamaram os sábios do chão,

O xamã queimou seu espelho,

E ouviu de Wakan Tanka então:

“Quem não honra a Terra viva,

Traz sombra e destruição.”


5️⃣

Vieram promessas de paz,

E contratos de papel,

Mas o vento dizia: “Jamais,

Confiem no falso cordel!”

Pois o branco tomava terras

Com o toque do seu pincel.


6️⃣

Os búfalos começaram a sumir,

As águas a se turvar,

E o fogo do canhão a ruir

O sonho de cada lugar.

Os espíritos choravam juntos

Sem poder o chão salvar.


7️⃣

Mesmo assim, o tambor ecoa,

Chamando o povo pra união,

A coragem renasce boa

Na força da tradição.

“Resistir é reza viva,

É semente e oração.”


8️⃣

Os guerreiros Sioux cavalgam,

Entre a névoa e o trovão,

E as águias sobrevoavam

O campo da imensidão.

Cada flecha era lembrança

De amor pela criação.


9️⃣

Os anciãos contaram ao vento:

“Eles vêm e vão, mas nós ficamos.

A Terra é o verdadeiro templo,

E dela jamais nos separamos.

Mesmo feridos, somos vida,

Mesmo caídos, nos levantamos.”


10️⃣

Assim, a lua testemunhou,

As chamas da dominação,

Mas também viu quem lutou

Por fé, coragem e visão.

Pois o sangue dos nativos

É raiz da libertação.


🌙 CAPÍTULO VI – A FERIDA E O CANTO DA TERRA


1️⃣

A Terra gemeu baixinho,

Quando o ferro abriu seu ventre,

O rio perdeu seu caminho,

E o bisão ficou ausente.

Mas o espírito da floresta

Resiste silenciosamente.


2️⃣

Os cânticos foram proibidos,

Os nomes, trocados à força,

Os deuses, tidos por perdidos,

A língua, ferida e morta.

Mas o sonho dos antigos

Continuou em cada rocha.


3️⃣

O povo foi confinado,

Em reservas de dor e pó,

Mas o coração sagrado

Não se entrega à perda só.

Pois quem nasce da Mãe Terra

Carrega a força do avó.


4️⃣

As danças voltaram aos montes,

Mesmo sob olho do invasor,

Nas cavernas, nas fontes,

Ecoava o antigo amor.

O tambor batia firme,

Como batia o coração sofredor.


5️⃣

Os xamãs curavam em segredo,

Com ervas e reza contida,

Protegendo do grande medo

A alma ainda ferida.

Cada sopro era remédio

Pra sustentar a vida.


6️⃣

Os jovens ouviam histórias

De quando o mundo era inteiro,

De búfalos, luas e glórias,

De um tempo verdadeiro.

E prometiam em silêncio

Ser o novo mensageiro.


7️⃣

As mulheres ergueram a voz,

Com o canto da resistência,

Guardando o futuro de nós

Na chama da consciência.

São elas as guardiãs

Da semente e da essência.


8️⃣

Mesmo sob a cruz imposta,

O espírito não se dobrou,

A fé nativa, composta,

Na alma sempre ficou.

Pois o fogo dos ancestrais

Jamais se apagou.


9️⃣

O vento então anunciou

Um novo ciclo a chegar,

“Os povos que o mundo feriu

Irão de novo se levantar.

Das cinzas brotarão flores,

E a Terra há de cantar.”


10️⃣

E nas montanhas sagradas,

Ouviu-se um som profundo,

Das águias libertadas

Voando por todo o mundo.

Gitche Manitou sorriu,

Renascendo o Ser fecundo.



🌟 CAPÍTULO VII – RENASCER DA ALMA E IDENTIDADE VIVA


1️⃣

Depois das dores e sombras,

Veio o sol em novo facho,

A alma voltou das trombas

Que o tempo trouxe de cacho.

O coração do nativo

Batendo forte e ativo,

Em cada lar e espaço.


2️⃣

A língua voltou a soar,

Nos cantos, nas rezas, na rua,

Os jovens começaram a lembrar

Do que a história não atua.

E as histórias ancestrais,

Como rios imortais,

Reuniram-se em sua lua.


3️⃣

Os xamãs acenderam o fogo

Em círculos de esperança,

E o tambor fez seu jogo

No passo, no canto, na dança.

A memória renasceu viva,

E a fé antiga cativa

Retomou sua pujança.


4️⃣

As mulheres guardaram a semente,

Dos mitos e da tradição,

No peito e na mente presente,

Nos filhos, no chão da nação.

O futuro se fez raiz,

E a Terra, mãe feliz,

Sorriu em reverência e canção.


5️⃣

Touro Sentado e Gerônimo

Voltaram em lembrança e voz,

Tecumseh brilhou no domínio

Da coragem, do amor e da foz.

A história é chama viva

Que ao novo tempo cativa

O espírito entre nós.


6️⃣

A arte voltou aos rostos,

Pinturas, cantos e tecelagem,

Rituais ancestrais e postos

Na memória e na aprendizagem.

Tudo o que parecia perdido

Foi abraçado e renascido

Com nova luz e coragem.


7️⃣

O equilíbrio é a lei sagrada,

Entre homem, espírito e chão,

Cada gesto, palavra cuidada,

Em profunda meditação.

A vida é eterna teia,

O saber jamais se esgueia

Do abraço da Criação.


8️⃣

E os povos, com renovação,

Olharam o céu e a terra,

Sentindo a antiga conexão

Que a alma da vida encerra.

Gitche Manitou, presente,

Soprou no povo contente

O sopro que nunca emperra.


9️⃣

Assim, renasce a identidade,

Com força, canto e esperança,

Ecoando a eternidade

Na dança, na luta, na dança.

O passado é raiz que ensina,

E o futuro, a luz que ilumina

O caminho da aliança.


🌌 CAPÍTULO VIII – O RETORNO AO COSMOS E A SABEDORIA ETERNA


1️⃣

O céu recebeu de volta

O canto que havia se perdido,

O sol com sua luz revolta

O espírito antigo ferido.

As estrelas escutam em paz

O eco que volta e refaz

O ciclo nunca esquecido.


2️⃣

O Grande Espírito sorri

Sobre cada aldeia e rio,

E a teia do mundo aqui

Se mantém em seu desafio.

O homem aprende humildade,

A Terra, sua eternidade,

E a vida é sempre bravio.


3️⃣

As árvores voltam a falar,

Os rios a dançar e a cantar,

O vento ensina a caminhar

Na lei que nos faz respeitar.

Cada criatura tem valor,

E a Mãe-Terra, em seu amor,

Ensina o modo de amar.


4️⃣

O tempo agora é círculo vivo,

Não mais sombra ou prisão,

Cada gesto, gesto ativo,

Cada passo, oração.

Os sábios do passado vêm,

E em cada sopro refém,

Resplandece a união.


5️⃣

Os jovens com olhos de fogo

Aprendem o saber antigo,

Guardam a história e o jogo

Do tambor, do mito e do abrigo.

E a vida se renova inteira,

Como aurora derradeira,

Na Terra e no espírito amigo.


6️⃣

A sabedoria se espalha,

Entre aldeia, floresta e mar,

E cada rastro de batalha

Serve ao povo para lembrar:

O equilíbrio é mestre e guia,

A fé é força do dia a dia,

E a vida é sagrada em par.


7️⃣

Assim termina a epopeia

Dos Sioux, Algonquinos e irmãos,

Com fé, coragem e teia,

E tambor, dança e canções.

O passado ensina, o futuro guia,

A Mãe Terra é sempre a alegria

Dos filhos de todas nações.


8️⃣

Gitche Manitou permanece

No sopro, no vento, no sol,

E o homem que aprende, cresce,

Pois dele é o novo arrebol.

Que a história seja lembrança,

E a vida eterna esperança

De um mundo que é todo farol.


9️⃣

E o cordel encerra a fala

Dos ancestrais e do saber,

Que a memória nunca se cala,

E a Terra volta a florescer.

Pois quem respeita e caminha,

Encontra na vida a linha

Que leva ao eterno viver.





🌄 Encerramento — O Círculo Retorna à Terra


Nada finda, tudo retorna,

Ao sopro do Grande Mistério,

A chama nunca desorna,

Nem o rio fica estéril.

O homem é parte do Todo,

E deve com santo modo,

Viver o ciclo etéreo.


🌌 Epílogo Poético — Canto à Eternidade dos Povos


O sol dorme, a lua desperta,

E o espírito ronda o chão,

A história, jamais incerta,

É viva recordação.

Sioux e Algonquinos, memória,

Guardam na alma a vitória,

Do amor e da comunhão.


📚 Nota de Fontes — A Palavra dos Livros Sagrados


Deloria, sábio vermelho,

Na obra de grande sinal,

Diz que o sagrado é espelho,

Do espírito universal.

Em “Deus é Vermelho” escreveu,

Que o índio nunca morreu,

Na fé tradicional.


Erdoes e Ortiz cantaram,

Os mitos do Norte ancestral,

Na Cultrix os preservaram,

Com amor e saber imortal.

São lendas que falam o vento,

De um tempo, um sentimento,

E do poder natural.


Haeberlin nos ensinou,

A cura que vem do tambor,

E Callaway documentou,

A luta, a perda e o ardor.

Viola, com voz do passado,

Cantou o legado sagrado,

Do povo que nunca cessou.





✨ Autor: Nhenety Kariri-Xocó

Guardião da Palavra e do Espírito da Terra




A INFLUÊNCIA DAS NINFAS NO MUNDO MÍTICO GREGO EM CORDEL, Por Nhenety Kariri-Xocó





🌸 Dedicatória Poética


Dedico este canto sagrado,

À força da Mãe Natureza,

Aos ventos, mares e bosques,

Que guardam divina beleza.

E às Ninfas do tempo antigo,

Que em canto suave e amigo,

Revelam a eterna pureza.


Dedico às vozes da Grécia,

Que ecoam na noite em flor,

E ao povo Kariri-Xocó,

Guardião do sonho e do amor.

Entre ninfas e ancestrais,

O mundo tem seus sinais,

De sabedoria e de cor.


🌿 Índice Poético


1️⃣ Abertura: O Canto das Águas Antigas

2️⃣ Prólogo Poético: A Voz das Ninfas

3️⃣ Capítulo I – A Origem e a Linhagem Divina

4️⃣ Capítulo II – Hierarquia e Harmonia dos Elementos

5️⃣ Capítulo III – A Geografia dos Reinos Encantados

6️⃣ Capítulo IV – O Culto, a Fé e os Rituais da Natureza

7️⃣ Capítulo V – A Memória Viva e o Legado das Ninfas

8️⃣ Encerramento: O Elo Sagrado Entre o Céu e a Terra

9️⃣ Epílogo Poético: A Eternidade em Flor

🔟 Nota de Fontes (Referências Rimadas)


🌊 Abertura: O Canto das Águas Antigas


Nas margens do tempo escuto,

Um sussurro, um doce som,

Das Ninfas, filhas do mundo,

Que o mito guardou com dom.

Elas dançam entre flores,

Protegem montes e amores,

E a Terra lhes dá o tom.


Da Grécia vem sua história,

Do mar, da serra, da luz,

De Gaia, mãe da memória,

Que o mistério sempre conduz.

São espelhos do divino,

No bosque ou no desatino,

Onde a vida se traduz.


🌼 Prólogo Poético: A Voz das Ninfas


Ó viajante das eras,

Que busca o mito profundo,

Aqui as Ninfas te chamam,

Entre o céu e o vasto mundo.

Elas cantam, leves, serenas,

Misturam o real às cenas,

Do sagrado mais fecundo.


São filhas da Terra e do Mar,

Do Céu, da brisa e do sol,

Com véus de luz e perfume,

Guiam o humano farol.

Quem as ouve entende o encanto,

E o mundo, feito de canto,

Gira em eterno arrebol.



🌳 Capítulo I – A Origem e a Linhagem Divina


1️⃣

Das entranhas de Gaia nascem,

As Ninfas, filhas da luz,

Entre o orvalho e a montanha,

Seu canto o tempo conduz.

De Urano herdaram o brilho,

De Oceano, o tom tranquilo,

Que a alma do mundo traduz.


2️⃣

No seio da mãe primeira,

A Terra, ventre fecundo,

Desperta o sopro divino,

Que se espalha pelo mundo.

Assim nascem as guardiãs,

Das águas, das serras, das mães,

Que tornam o ar mais profundo.


3️⃣

Não são deusas poderosas,

Nem humanas como nós,

Mas seres intermediários,

Que ecoam em doce voz.

Guardam segredos antigos,

E vivem entre os caminhos,

Onde o divino é algoz.


4️⃣

Os gregos as viam dançando,

Nos bosques ao entardecer,

Como se o vento trouxesse,

Mistério e poder do ser.

E ao som das folhas e fontes,

Se ouvia nos horizontes,

O cântico a florescer.


5️⃣

Filhas da Terra e do Céu,

Do mar e do firmamento,

Elas tecem o sagrado,

Em cada sopro ou alento.

São a ponte da energia,

Entre a dor e a alegria,

Entre o homem e o pensamento.


6️⃣

Por isso nos mitos antigos,

Elas curam, cantam, amam,

E dos deuses mais antigos,

A ternura herdaram.

São mensageiras da vida,

Força bela e escondida,

Que os elementos guardaram.


7️⃣

Nasceram antes dos templos,

Antes do mármore frio,

E no tempo dos trovões,

Eram voz de todo o rio.

Quando Zeus ainda menino,

Ouvia o cântico divino,

Das Ninfas do amor e do estio.


8️⃣

Em seu ventre está o início,

Do sagrado universal,

Que une o mundo visível,

Ao invisível, imortal.

Cada Ninfa é poesia,

Que renasce a cada dia,

Num gesto elemental.


9️⃣

Assim começa a jornada,

Do mito que o tempo traz,

E o homem, em sua estrada,

Busca o elo e a paz.

Pois em cada flor que brota,

Há uma Ninfa que anota,

A vida que o amor refaz.


10️⃣

São mães de toda harmonia,

Sopro e canto da razão,

E quem delas se aproxima,

Sente a pura conexão.

Entre o céu, a Terra e o ar,

O homem aprende a amar,

Na divina Criação.


🌺 Capítulo II – Hierarquia e Harmonia dos Elementos


1️⃣

Na Grécia, antiga e sagrada,

O mundo era bem ordenado,

Cada ser tinha seu posto,

Num ciclo bem equilibrado.

No topo, os grandes deuses,

E abaixo, as Ninfas suaves,

Guardando o plano encantado.


2️⃣

Zeus, no Olimpo reinava,

Com poder e claridade,

Mas ouvia das florestas,

A Ninfa em suavidade.

Pois sabia que o equilíbrio,

Do universo e do delírio,

Vinha da natureza e verdade.


3️⃣

As Dríades são das árvores,

Do tronco, folha e raiz,

Guardam o sopro da vida,

E o segredo do país.

São as Ninfas da madeira,

Que fazem a primavera,

Ser promessa e ser feliz.


4️⃣

As Náiades, das águas doces,

De rios, fontes e lagos,

Cantam entre os juncos verdes,

Com sorrisos, sem embargos.

São Ninfas do cristal puro,

Que guardam no fundo escuro,

Mistérios, bênçãos e afagos.


5️⃣

As Oréades moram altas,

Entre rochas e neblina,

Onde o eco dos trovões,

Com a alma se combina.

Elas dançam entre as pedras,

E os ventos, com asas ledas,

As tornam pura e divina.


6️⃣

As Nereidas vivem no mar,

Ao lado de Poseidon,

Cuidando das ondas vivas,

Que fazem do abismo um tom.

São do sal e da espuma,

Da lua que se perfuma,

E do vento que é canção.


7️⃣

Assim se faz a harmonia,

Entre o chão, o mar e o céu,

Pois cada Ninfa é um verso,

No livro que o tempo escreveu.

O homem aprende a sentir,

Que o mundo é um porvir,

E que o sagrado é seu.


8️⃣

Há Ninfas dos ventos leves,

Das flores e das manhãs,

Das colinas e das neves,

Das cavernas e romãs.

Cada uma é guardiã,

Da energia que amanhã,

Fará brotar novas irmãs.


9️⃣

Os deuses respeitavam,

Essas forças da beleza,

Pois sabiam que a harmonia,

Vem da pura natureza.

Sem Ninfa, não há respiro,

Nem aurora, nem suspiro,

Nem vida, nem singeleza.


10️⃣

E assim se forma o eterno,

Equilíbrio universal,

Entre o humano e o divino,

Entre o efêmero e o imortal.

O mito grego nos ensina,

Que toda força divina,

Tem raiz no natural.


🌾 Capítulo III – A Geografia dos Reinos Encantados


1️⃣

Por toda a antiga Grécia,

Há Ninfas em cada chão,

Nos montes, rios e mares,

No sopro e na amplidão.

Elas tecem na paisagem,

A divina hospedagem,

Da vida em comunhão.


2️⃣

As Dríades, das florestas,

Habitam o verde altar,

Onde o musgo faz tapete,

E o sol vem abençoar.

Cada árvore é morada,

De uma Ninfa consagrada,

Que o vento vem saudar.


3️⃣

Nas fontes e nas nascentes,

Vivem as doces Náiades,

Guardando o fluxo das águas,

Com suas eternas vontades.

Nas margens fazem oferenda,

De canto que o mundo entenda,

As leis da vitalidade.


4️⃣

As Oréades, das montanhas,

São filhas do firmamento,

Ouvem o trovão dos deuses,

E dominam o vento.

Nas grutas guardam segredos,

Dos homens e dos seus medos,

No eco do pensamento.


5️⃣

Já as Nereidas do mar,

Brilham no sal das marés,

Dançam entre as espumas,

Sob o olhar de Poseidon e as fés.

Com seus cabelos de prata,

Navegam na onda exata,

Entre abismos e marés.


6️⃣

Cada Ninfa tem seu tempo,

Seu espaço e direção,

Habita o templo do mundo,

Com seu místico clarão.

E o grego via em cada monte,

Um altar, uma fonte,

E um verso em oração.


7️⃣

As montanhas de Delfos,

Tinham vozes misteriosas,

E nas encostas do Parnaso,

Floresciam Ninfas formosas.

O oráculo, em seu templo,

Era o sopro do exemplo,

Das forças harmoniosas.


8️⃣

O mar Egeu, com seus cantos,

Era o lar do encantamento,

Onde as Ninfas marinhas,

Deslizavam no firmamento.

E cada ilha grega antiga,

Tinha Ninfa que bendiga,

A paz do firmamento.


9️⃣

As cavernas eram portais,

Entre o humano e o divino,

Lá se ouviam os sinais,

Do mistério peregrino.

E o povo, ao contemplar,

Sentia o ar revelar,

O poder do destino.


🔟

Assim, o mapa do mundo,

Na Grécia antiga se fez,

Com Ninfas em cada canto,

Guardando a sua vez.

Natureza era escritura,

Do sagrado e da ternura,

Que o mito revive outra vez.


🔥 Capítulo IV – O Culto, a Fé e os Rituais da Natureza


1️⃣

Nos bosques e nas colinas,

O povo vinha rezar,

Com flores e cânticos puros,

Para as Ninfas celebrar.

E as águas, como espelhos,

Refletiam seus conselhos,

No brilho do luar.


2️⃣

As Ninfas eram amadas,

Com respeito e devoção,

Pois nelas morava a força,

Da pura renovação.

Eram pontes da harmonia,

Entre o homem e a energia,

Que move a Criação.


3️⃣

Em grutas e fontes claras,

Eram deixadas oferendas,

Frutos, mel, vinho e flores,

Com preces e reverendas.

Pois quem dava com ternura,

Ganhava da formosura,

As bênçãos mais estupendas.


4️⃣

Os poetas e os artistas,

Buscavam nelas inspiração,

Pois sentiam nas Ninfas,

O sopro da criação.

E o canto que nascia,

Em corda e melodia,

Era pura invocação.


5️⃣

As Ninfas curavam males,

Da alma e do coração,

Com toques sutis e leves,

De divina vibração.

Quem bebia em suas fontes,

Sentia os altos montes,

Em santa contemplação.


6️⃣

Os rituais eram simples,

Mas cheios de significado,

Pois o povo via o sagrado,

Em todo canto habitado.

Na pedra, na flor, no vento,

Vivia o encantamento,

Do amor eternizado.


7️⃣

Em noites de primavera,

Com tochas e melodias,

As Ninfas eram lembradas,

Nas danças e alegrias.

E os jovens, com esperança,

Faziam delas lembrança,

Nas rimas que a lua guia.


8️⃣

Havia também respeito,

Ao poder de cada uma,

Pois brincar com a natureza,

É trair a própria bruma.

Quem feria o bosque santo,

Ouvia o eco do pranto,

Da Ninfa sob a lua.


9️⃣

E assim, a fé dos gregos,

Era viva e natural,

Não nascia do medo,

Mas do amor universal.

O culto era comunhão,

De homem e criação,

Num abraço ancestral.


🔟

Por isso, o tempo consagra,

O que o mito revelou,

Que a Ninfa é guardiã pura,

Do dom que o mundo herdou.

E o homem que reconhece,

A vida que dela cresce,

Vê o sagrado que ficou.



Capítulo V – A Memória Viva e o Legado das Ninfas


I

Das águas claras brotaram memórias,

Que o vento antigo quis recontar,

Guardando em cantos e velhas histórias

O dom divino de eternizar.

As ninfas, belas, filhas da aurora,

Semeiam sonhos por onde morar,

E em cada fonte, pedra ou floresta,

Há voz do tempo a lhes sussurrar.


II

São guardiãs da pureza encantada,

Do orvalho, do musgo, do luar,

Do rio que nasce e beija a estrada,

Do tronco antigo a meditar.

O canto delas cura o homem,

Que sabe ouvir sem profanar,

Pois quem respeita o dom do invisível

Aprende o dom de perpetuar.


III

Nas danças leves, movem-se as eras,

Girando em ciclos de recordar,

Pois a memória que nelas habita

É chama oculta do verbo amar.

O som das flautas nos bosques ecoa,

Chamando o mundo pra despertar,

E o coração do homem desperto

É templo vivo a consagrar.


IV

Cada ninfa é símbolo e caminho,

Mistério antigo do renascer,

Pois guarda a força do feminino

Que a natureza quis conceder.

É mãe do rio, do vento e da terra,

É irmã das luas no entardecer,

E o seu olhar, profundo e sereno,

É o espelho do bem viver.


V

Nas fontes puras, guardam segredos,

Das eras míticas que o sol banhou,

Quando os deuses falavam ao vento,

E o verbo cósmico floresceu.

Na voz das ninfas vive a lembrança

Do elo antigo que não morreu,

Pois todo ser que ama a terra

É descendente do amor que nasceu.


VI

E ao cair da tarde, entre as brumas,

Elas retornam, no entardecer,

Com folhas verdes, coroas e plumas,

Cantando a vida e o renascer.

Cada canto é promessa e encanto,

Um novo ciclo a florescer,

Pois na memória das ninfas mora

O poder sagrado de renascer.


VII

Quem as escuta com fé e calma,

Recebe o sopro do coração,

E em sua alma sente a palma

Da mãe-terra em comunhão.

Assim o homem torna-se parte

Do todo em pura integração,

E aprende, humilde, o velho ofício

De honrar a vida em oração.


VIII

Por isso o tempo não as apaga,

Nem o silêncio as faz morrer,

Pois no mistério onde o verbo afaga

O dom da alma torna a crescer.

As ninfas guardam, serenas e belas,

A chama eterna do bem viver,

E todo aquele que ouve seus passos

Aprende o dom de não esquecer.


Encerramento – O Elo Sagrado Entre o Céu e a Terra


I

Cessa o canto, mas não o encanto,

Pois cada verso é uma oração,

Que une o homem ao alto manto

Do cosmos vivo em expansão.

Do chão ao céu, o som circula,

Como corrente de comunhão,

E o verbo em cordel se transforma

Em ponte sagrada e tradição.


II

O céu derrama sua energia,

A terra acolhe com devoção,

E no entrelaço dessa harmonia

Brota o segredo da Criação.

As folhas dançam, os ventos chamam,

As águas falam em união,

E o ser que sente o divino dentro

É parte viva da imensidão.


III

Do sol que nasce ao luar que vela,

Tudo é caminho, tudo é altar,

E o coração da mãe natureza

É templo vivo a pulsar.

Quem nela crê e nela confia

Sabe que o tempo há de ensinar,

Que o amor é o ciclo da vida

E o verbo é ponte a eternizar.


IV

Assim termina, mas não se finda,

A jornada em versos e emoção,

Pois todo canto que o vento espalha

É semente em transformação.

Que cada alma que aqui se encontre

Leve consigo a inspiração,

De honrar a terra, o céu e a vida

Com fé, respeito e gratidão.


V

O cordel, pois, é rito e caminho,

É rezo, sonho e tradição,

É ponte entre o sagrado antigo

E o novo ciclo em gestação.

Nhenety canta, o povo escuta,

E o som se espalha em consagração,

Pois o verbo vivo nascido da terra

É voz do cosmos em expansão.


🌿 Epílogo – O Cântico Eterno da Criação


E o vento sussurra: “Nada termina”,

Pois cada fim é recomeçar,

E a alma livre, em sua sina,

Busca o eterno verbo amar.

Na voz dos povos, nas matas vivas,

O som do tempo vem ecoar,

E o que é sagrado permanece,

Mesmo que o mundo queira mudar.


📚 Nota de Fontes (Referências Rimadas)


Busquei nas fontes do tempo antigo,

Nas lendas, mitos e devoção,

O verbo vivo do povo amigo

Que vê no mundo a Criação.

Dos gregos veio a ninfa e o canto,

Dos celtas, o culto à imensidão,

Dos povos livres da terra e vento,

A fé no elo e na comunhão.


Do saber indígena tirei o alento,

Da selva, o som da inspiração,

E do cordel, sagrado instrumento,

O dom da rima e da emoção.

Que fique escrito no pó da estrada:

A arte é filha da tradição,

E todo canto que nasce em alma

É luz, memória e gratidão.


De Burkert vem o saber,

Da religião helênica,

Que mostra a fé e o poder,

Da Grécia mítica e gênica.


De Buchtelis vem o canto,

Da mitologia sagrada,

Que traduz em doce encanto,

A cultura eternizada.


Grimal trouxe o compêndio,

De heróis e divindades,

Com seus mitos emendio,

As humanas verdades.


Kerényi em seu tratado,

Revela o sentido e o laço,

Dos deuses no passado,

E o homem no mesmo abraço.


Moraes, com sua lira,

Traz o mito em narrativa,

E Leandro Moraes inspira,

A Ninfa ainda viva.


Vernant vem e recorda,

A sociedade e o rito,

Onde o símbolo acorda,

O sentido do infinito.


Assim termina o cordel,

De beleza universal,

Do sagrado ao natural,

Que se une ao sol e ao céu.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 


domingo, 5 de outubro de 2025

O SER HUMANO: Entre a Herança Biológica e as Escolhas Individuais Em Cordel, Por Nhenety Kariri-Xocó





🌾 DEDICATÓRIA POÉTICA


Ao povo que busca o saber,

Entre a herança e o querer,

Dedico este pensamento,

Feito em rima e fundamento.

Ao vento da criação,

Que sopra no coração,

Ao Deus do sopro divino,

Que faz do barro o destino.


📚 ÍNDICE POÉTICO


Abertura – A Essência da Criação


Prólogo Poético – O Mistério da Existência


Capítulo I – A Herança Biológica


Capítulo II – As Escolhas da Vida


Capítulo III – A Mente e o Saber


Capítulo IV – O Mundo Social


Capítulo V – A Luz Espiritual


Encerramento – Síntese da Humanidade


Epílogo Poético – O Caminho da Consciência


Nota de Fontes – Fontes em Verso e Sabedoria


🌅 ABERTURA – A ESSÊNCIA DA CRIAÇÃO


O homem é ser complexo,

Feito em corpo, alma e nexos,

Entre genes e vontade,

Vai traçando a identidade.

Da biologia herdada,

À escolha bem pensada,

Surge a vida em construção,

Feita em carne e decisão.


🌾 PRÓLOGO POÉTICO – O MISTÉRIO DA EXISTÊNCIA


Desde o barro de Adão,

Ao átomo em expansão,

Há no ser uma centelha

Que do tempo se espelha.

Ciência e fé se entrelaçam,

Quando os povos se abraçam,

E o saber que se renova

Diz: o homem é quem prova.


Não é só o que recebe,

Mas o rumo que concebe,

Pois da vida, cada trilha,

Tem raiz, mas tem partilha.



🌿 CAPÍTULO I – A HERANÇA BIOLÓGICA


O ser humano é herdeiro

De um saber verdadeiro,

Que o tempo foi lapidando,

E o corpo foi carregando.

Da célula ao coração,

Tudo é parte da missão,

Da herança que recebemos,

E com a vida enriquecemos.


Cada traço, cada veia,

Guarda a história que semeia,

De um passado tão antigo

Que mora dentro do abrigo.

No gene há poesia e lei,

No sangue o que herdei,

Da mãe, do pai, dos avós,

Ecoando dentro de nós.


Há no corpo a voz da terra,

Que na carne se encerra,

E no rosto de um menino,

Há mil séculos de destino.

Do índio ao europeu,

Do africano que nasceu,

Misturaram-se os caminhos,

Entre dores e carinhos.


Cada osso, cada fibra,

Traz memória que equilibra,

Entre o ontem e o agora,

O que foi e o que aflora.

Pois no corpo há lembrança,

De luta, dor e esperança,

De amores que já morreram,

Mas no sangue permaneceram.


O corpo é templo sagrado,

De um código decifrado,

Que o tempo não apaga,

Mas o espírito propaga.

E embora seja herdeiro,

O homem é jardineiro,

Pois cultiva a existência

Com escolha e consciência.


Se o gene é chão da vida,

A escolha é a semida,

Que germina ou se desfaz,

Conforme o rumo que traz.

Herança não é prisão,

Mas ponto de mutação,

Que se abre em novas flores,

No jardim de mil amores.


Quem entende o corpo humano

Vê que o sangue é oceano,

Onde correm esperanças

Das mais antigas alianças.

E assim se compreende,

Que a carne também aprende,

Pois da dor nasce o cuidado,

E o ser vive transformado.


Na biologia há poesia,

No gene mora a harmonia,

Entre o passado e o novo,

Entre o ser e o seu povo.

Cada célula é canção,

De uma eterna evolução,

E o homem, no seu caminho,

É herdeiro e é sozinho.


Por isso a carne é divina,

Mesmo quando se declina,

Pois no pó há semente,

De um recomeço presente.

E o ser humano, ao viver,

Aprende o que é crescer,

Entre a herança recebida

E a escolha de sua vida.


🌾 CAPÍTULO II – AS ESCOLHAS DA VIDA


O destino é como estrada,

Que não vem toda traçada,

Mas se faz com cada passo,

Cada ato, cada abraço.

É nas curvas da existência,

Que se prova a consciência,

Pois viver é decidir

Que rumo se vai seguir.


A escolha é chama acesa,

Que ilumina a natureza,

Dá sentido à caminhada,

Mesmo em noite enevoada.

Quem escolhe o que é justo,

Segue firme e sem susto,

Mas quem cede à tentação,

Perde o norte da razão.


A comida que alimenta

Pode curar ou tormenta,

Pois do prato nasce o bem,

Ou o mal que nele tem.

A saúde é construção,

De cuidado e intenção,

E a mesa é altar sagrado

Do viver equilibrado.


Quem pratica o movimento,

Domina o próprio tempo,

Pois o corpo agradecido

Canta um hino ao sentido.

Mas o ser que se abandona,

Deixa a carne mais preguiçona,

E a vida se desfaz,

Como vento que se vai.


Escolher também é arte,

De compor a própria parte,

E saber que cada ação

Tem no tempo uma extensão.

Pois o gesto que se planta

Faz o fruto, e se encanta,

E a colheita é o retrato

Do que o homem faz no ato.


Nem sempre é fácil escolher,

Mas é o modo de crescer,

Pois na dúvida e no erro

Se lapida o que é sincero.

A escolha é ponte e abismo,

É caminho e é batismo,

E ensina, no seu modo,

Que o ser é livre em todo.


No trabalho e no descanso,

No silêncio e no remanso,

A vontade se refina,

E a alma se ilumina.

Pois a vida, em sua teia,

Tece o tempo e semeia,

A colheita do amanhã,

No labor de cada irmã.


Ser humano é decidir,

É errar e redimir,

Pois viver é construção

Feita em corpo e coração.

E cada escolha, no fim,

É o rumo do jardim,

Onde o ser se reconhece,

E o universo agradece.


A liberdade é um espelho,

De reflexo sempre velho,

Que revela, em cada olhar,

O poder de transformar.

Pois quem pensa e quem sente,

Sabe o quanto é diferente,

Ser levado pelo vento,

Ou guiar o pensamento.


E assim o homem reflete,

O que é justo, o que é reto,

E entende com emoção,

Que é dono da criação.

Pois viver é semear

E na vida se encontrar,

Entre o erro e o acerto,

No caminho mais desperto.



🌸 CAPÍTULO III – A MENTE E O SABER


A mente é solo fecundo,

Que abriga o saber do mundo,

Cada ideia é semente

Que floresce lentamente.

No pensar mora o poder,

De cair e renascer,

Pois quem busca o conhecimento,

Move o tempo e o pensamento.


Do estudo nasce a ponte,

Que eleva o ser e a fronte,

E o livro é companheiro

Do homem verdadeiro.

Paulo Freire, o educador,

Fez da palavra um valor,

E ensinou que a liberdade

Se conquista na verdade.


O saber não tem fronteira,

Nem pertence à algibeira,

Ele cresce na partilha,

Como rio que brilha.

Quem ensina também aprende,

E o espírito se estende,

Pois saber é convivência,

É ternura e consciência.


A mente é como uma chama,

Que ilumina e inflama,

Mas precisa de alimento,

De leitura e pensamento.

Cada sonho alimentado

Vira um fruto cultivado,

E o saber, se bem plantado,

Gera o ser iluminado.


O estudo é liberdade,

É da alma a claridade,

Pois o homem, quando pensa,

Com o erro também compensa.

Quem ignora vive preso,

Num mundo sem apreço,

Mas quem lê e compreende,

Com o todo se estende.


No pensar há poesia,

E na dúvida, sabedoria,

Pois quem busca compreender,

Se aproxima do viver.

O saber não é só regra,

É raiz que nunca nega,

Pois na mente bem aberta,

Toda estrada é descoberta.


Quem transforma o que aprendeu,

Vê o mundo que nasceu,

E o saber se faz ponte,

Entre o abismo e o horizonte.

A ciência e a emoção,

São irmãs na criação,

Pois o saber verdadeiro

É do corpo e do inteiro.


A mente, quando desperta,

É estrada ampla e aberta,

E o ser que nela caminha,

Faz da vida uma rainha.

Cada ideia é canção,

Que ressoa o coração,

E o humano, ao aprender,

Reaprende o que é viver.


Eis o dom da consciência,

Que desperta na existência,

Pois o homem que reflete

O destino não repete.

A mente é o grande altar,

Onde o tempo vem rezar,

E o saber, quando floresce,

É o dom que enobrece.


Quem educa e quem ensina,

Torna a alma peregrina,

Pois o saber compartilhado

É o bem mais consagrado.

E assim, com sabedoria,

O homem cria a harmonia,

Entre o livro e o viver,

Entre o ser e o saber.


🌍 CAPÍTULO IV – O MUNDO SOCIAL


O homem nasce no meio,

De cultura e de anseio,

Pois ninguém vive sozinho,

Nem caminha sem vizinho.

A sociedade é o espelho,

Onde o ser mostra o conselho,

Do amor, da convivência,

Da justiça e da ciência.


Cada gesto compartilhado,

É um mundo recriado,

Pois o laço e o afeto,

Fazem parte do projeto.

A amizade é raiz,

Que faz o pobre feliz,

E o trabalho é poesia,

Quando traz harmonia.


O social é um espelho,

Refletindo o mesmo velho,

Que na luta e no labor,

Busca sempre mais amor.

Quem convive com respeito,

Faz do mundo um bom conceito,

Pois no outro há um pedaço,

Do humano e do abraço.


Cada povo, cada canto,

Tem sua forma e seu encanto,

E a cultura é corrente,

Que sustenta o continente.

O homem é feito de redes,

De lembranças e de sedes,

Pois o social é canção,

Do encontro e da união.


A cidade, o campo, o chão,

São tecidos da nação,

E o humano é o tear,

Que aprende a costurar.

Nas relações, há sementes,

De caminhos diferentes,

Mas só floresce a bondade,

Quando há solidariedade.


Quem se isola se perde,

Pois o outro nos concede

O sentido de existir,

E o prazer de repartir.

Cada rosto, cada voz,

Revela mundos em nós,

Pois o laço e a comunhão,

São raízes da evolução.


O social não é prisão,

Mas espelho da ação,

Onde a escolha de um ser

Pode o todo refazer.

E no gesto de cuidar,

Há poder de transformar,

Pois quem ama e quem serve,

É quem o mundo conserva.


As culturas se misturam,

Como rios que se murmuram,

E no povo brasileiro,

Há um canto verdadeiro.

De indígena, negro e europeu,

Nasceu o que sou e o que é teu,

Uma pátria em construção,

Feita em sonho e coração.


Mas que o homem não se esqueça,

Da justiça e da promessa,

De fazer do social,

Um lugar mais fraternal.

Pois não há evolução,

Sem respeito e inclusão,

E o progresso verdadeiro,

É o amor por inteiro.


Assim se cumpre o destino,

De ser humano divino,

Que convive e compreende,

E com o outro se estende.

O social é poesia,

De união e de alegria,

E o homem, ao partilhar,

Aprende o que é amar.



CAPÍTULO V – A LUZ ESPIRITUAL E O ENCERRAMENTO – SÍNTESE DA HUMANIDADE


(Por Nhenety Kariri-Xocó)


No silêncio das origens, o ser desperta em chama,

Carrega o fardo e a dádiva do mistério que o inflama,

É corpo, alma e caminho, fragmento da mesma trama,

Entre a dor e o renascimento, é a vida que o reclama.

Na sombra encontra o limite, na luz, o amor o conclama,

A essência que nele habita é a semente que proclama,

Que o humano, entre o barro e o sopro, na esperança se derrama,

E o espírito em sua glória, ao infinito se reclama.


O tempo é o grande mestre, que molda e que ensina,

Nas idades e nas eras, sua palavra é divina,

Pois da argila fez o corpo, da centelha, a disciplina,

E do caos fez harmonia, da noite, a luz cristalina.

Quem entende o próprio espelho, no coração adivinha,

Que toda dor é passagem e toda alma é menina,

Que busca a pureza antiga, a canção que a ilumina,

No templo da consciência, a essência se destina.


As civilizações se erguem, brilham, e depois se apagam,

Mas cada pedra erguida, na memória se consagram,

Pois não morre o que ensina, nem o que as almas propagam,

As virtudes que nascem simples, são as que mais se embriagam.

Os povos, nas suas danças, seus tambores que se afagam,

São ecos de uma só origem, que os ventos do tempo embalam,

Na terra o corpo floresce, e nos céus as almas vagam,

Em busca da mesma luz que os mundos antigos tragam.


A fé é ponte sagrada entre o humano e o divino,

Não é prisão, nem sentença, é o rumo do peregrino,

Que compreende que o caminho é um círculo cristalino,

Onde a queda é aprendizado, e o amor, o seu destino.

O espírito é chama eterna, em corpo leve e fino,

Que atravessa mil existências no seu ciclo genuíno,

E descobre, enfim, sorrindo, no seu centro cristalino,

Que a vida é a face viva do mistério do divino.


A humanidade é espelho do universo em expansão,

É verso de fogo e água, é luz feita em oração,

Cada povo é um fragmento da sagrada Criação,

E o amor é a partitura que rege a imensidão.

O saber é chama viva que guia a evolução,

E a arte é o seu reflexo, sua pura encarnação,

Por isso o canto do homem, quando vem do coração,

É a voz do próprio cosmos em divina inspiração.


O cordel finda o caminho, mas a jornada não findou,

Pois o saber é rio vivo que o tempo não secou,

E cada alma que lê, talvez aqui despertou,

Para o sentido maior que o Criador lhe confiou.

Da sombra nasce o clarão, do fim, o que recomeçou,

E o homem, em sua busca, enfim, se iluminou,

Compreendendo que o universo em si se revelou,

E que a luz que ele buscava, nele mesmo sempre brilhou.


🌞 Epílogo Reflexivo


“Na arte do cordel, o verbo se torna ponte entre mundos.

O homem é o eco da Criação, e cada verso, um lampejo de eternidade.”

— Nhenety Kariri-Xocó


🌾 ENCERRAMENTO – SÍNTESE DA HUMANIDADE


O ser humano é mistura,

Entre o dado e a procura,

É herança e construção,

É matéria e coração.

Traz no sangue a natureza,

Mas escolhe com firmeza,

Entre o erro e a virtude,

Seu caminho e plenitude.


Não é só o que recebeu,

Mas aquilo que escolheu,

Pois no ventre da existência,

Nasce a força da consciência.

E no ciclo universal,

Tudo é ponte espiritual,

Pois ser humano é missão,

De amor e transformação.


🌙 EPÍLOGO POÉTICO – O CAMINHO DA CONSCIÊNCIA


Seja o corpo ou seja o vento,

Tudo vive em movimento,

E a essência do existir

É cair, mas prosseguir.

Entre genes e valores,

Entre erros e amores,

Segue o homem, passo a passo,

Tece o tempo e o espaço.


E no fim, quando se entende

Que a vida é o que se aprende,

O ser humano sorri,

Pois se descobre em si.


📜 NOTA DE FONTES – FONTES EM VERSO E SABEDORIA


Paulo Freire nos inspira,

Com saber que não se retira,

Em “Autonomia” ensina,

Que a vida é obra divina.


Edgar Morin, com razão,

Fala da humanidade e ação,

No “Método” que revela

A mente humana tão bela.


Sartre em sua filosofia,

Diz que o ser se cria e guia,

“O Existencialismo” ensina,

Que a escolha é peregrina.


Vigotski, o mestre russo,

Mostrou o saber propulsor,

Que a mente é social,

E o pensar é relacional.


Assim termina este livro,

De pensamento altivo,

Com a ciência e a poesia,

Unidas em harmonia.




🌅 Quarta Capa Poética – Síntese da Jornada Humana




No ventre do tempo ecoa,

A voz da vida a ensinar:

“És fruto da natureza,

Mas teu destino é criar.”

O sangue vem dos antepassos,

Mas a alma quer voar.


O corpo é barro sagrado,

E a mente, chama do além,

Entre o instinto e o pensamento

O homem escolhe o que vem.

É herdeiro e construtor,

Do que foi e do que tem.


Herança, escolha e caminho,

Tecem o mesmo cordel,

Um fio corre nas veias,

Outro acende no céu.

E o ser humano se ergue,

Como ponte entre o papel.


Na carne, o código antigo,

Na ideia, o sonho a brotar,

E o coração, na travessia,

Nunca deixa de pulsar.

Pois ser humano é mistério,

Que o amor veio decifrar.



✒️ Autor: Nhenety Kariri-Xocó

🌿 Obra: O SER HUMANO: Entre a Herança Biológica e as Escolhas Individuais Em Cordel

📖 Ano: 2025




TUPÃMIRIM E KUNHÃ YACY EM CORDEL Por Nhenety Kariri-Xocó





🌺 DEDICATÓRIA POÉTICA


Dedico ao Sol da verdade,

E à Lua, fonte da calma,

Aos povos de antiguidade

Que escutam com fé na alma.

À aldeia, que é poesia,

E à voz da sabedoria!


📖 ÍNDICE POÉTICO


Abertura – O Canto da Criação


Prólogo Poético – A Luz que Desce dos Céus


Capítulo I – Os Sete Anciãos Celestes


Capítulo II – O Envio de Tupãmirim


Capítulo III – Os Mestres da Natureza


Capítulo IV – Os Espíritos da Terra


Capítulo V – A Criação da Maraca


Capítulo VI – As Sementes Viram Crianças


Capítulo VII – O Surgimento de Kunhã Yacy


Capítulo VIII – O Encontro do Sol e da Lua


Capítulo IX – O Canto da Harmonia


Capítulo X – O Legado dos Primeiros


Encerramento – A Voz da Terra


Epílogo Poético – O Retorno ao Céu


Nota de Fontes – Fontes em Versos


🌅 ABERTURA – O CANTO DA CRIAÇÃO


Canta o vento na floresta,

E o trovão responde ao mar,

Todo o mundo se manifesta,

Quando o Sol vem clarear.

É o tempo dos ancestrais,

Que ensinam os filhos mais.


Da pedra brota o segredo,

Do rio vem a lição,

Do fogo nasce o degredo,

Da lua, a inspiração.

É Tupã que tudo enlaça,

No som sagrado que passa.


🌠 PRÓLOGO POÉTICO – A LUZ QUE DESCE DOS CÉUS


Veio um brilho lá do alto,

Sobre o verde do sertão,

Era o rastro de um relâmpago

Com mensagem e missão.

Sete anciãos o enviaram,

E os ventos o anunciaram.


Tupãmirim foi chamado,

Por Tupã, o Criador,

Para ser iluminado

E semear novo amor.

Com asas de pura chama,

Trouxe o poder da pajelança.



🪶 CAPÍTULO I – OS SETE ANCIÃOS CELESTES


No silêncio das alturas,

Onde o trovão faz morada,

Brilham sete criaturas

De luz azul consagrada.

São velhos de grande ciência,

Os guardiões da existência.


Em assembleia sagrada,

Conversam sob o luar,

Pois a Terra inacabada

Pede a força do altar.

“Mandemos nosso emissário,

Com poder extraordinário.”


Cada um sopra um segredo,

No vento que gira e vai,

Um dá o fogo e o degredo,

Outro o canto que traz paz.

Um dá as águas do rio,

Outro o sopro do arrepio.


Da montanha veio a força,

Da estrela, a direção,

Do relâmpago, a corça,

Do trovão, a vibração.

E o último ancião, bondoso,

Deu-lhe o canto melodioso.


“Desce, filho, à terra viva,

O teu nome é Tupãmirim,

És centelha criativa,

Sopro eterno e sem fim.

Aprende o que é ser chão,

Sem perder tua missão.”


E o jovem, de luz dourada,

Com asas de Sol e luar,

Deixou a morada sagrada

Para a Terra visitar.

Descendo em raio de encanto,

Transformou-se em canto e pranto.


O mundo, ao ver sua vinda,

Vibrou na mata e no mar,

O vento soprou bem-vindo,

O rio veio o saudar.

E as árvores, em louvação,

Balançavam na oração.


Nasceu a aurora mais pura,

Fez-se o clarão de Tupã,

E o mundo, cheio de altura,

Cantou com voz de manhã.

No céu um arco se abriu,

E o tempo então prosseguiu.


🌿 CAPÍTULO II – O ENVIO DE TUPÃMIRIM


Na beira do firmamento,

Os anciãos entoaram:

“Vai, filho do pensamento,

Leva a luz que te confiaram.

Faz da Terra um paraíso,

Cumpre o sagrado aviso.”


Tupãmirim, reluzente,

Desceu em faísca e cor,

Sentiu o vento crescente,

E o chão cheio de amor.

Cada passo que pisava,

Um broto novo brotava.


Mas o solo ainda dormia,

Frio, sem canto ou calor,

E a pedra, em sua harmonia,

Sussurrou-lhe seu valor:

“Escuta o som que me habita,

Sou tua mestra infinita.”


Logo a palmeira falou:

“Eu guardo o segredo antigo,

Meu tronco é canto e farol,

Meu caule é firme e amigo.

Aprende o dom da firmeza,

Que vem da natureza.”


Veio a onça majestosa,

Dona da força e do chão,

Olhou com alma fogosa,

E ensinou-lhe a precisão:

“Age com o dom da garra,

Mas guarda a paz que amarra.”


E uma cobra deslizando,

Deu-lhe o saber da espera,

“Tudo vem se transformando,

O tempo é quem coopera.

Se fores sábio e atento,

Farás do ciclo um sustento.”


Do rio vieram vozes,

Dos peixes, o salmo antigo,

Das águas, sons velozes,

Chamando-o de amigo.

Ali entendeu o menino

O poder do ser divino.


Sob o luar de Tupã,

Ergueu-se em reverência,

E o vento da imensidão

Soprou-lhe a consciência.

“És parte do que se cria,

És filho da harmonia.”


Com asas já recolhidas,

Pediu força à imensidão,

“Que eu aprenda as leis da vida,

Da mata, do céu, do chão.

Que o saber que aqui floresça,

O mundo inteiro enalteça.”



🐆 CAPÍTULO III – OS MESTRES DA NATUREZA


Pelas matas, passo a passo,

Tupãmirim ia aprendendo,

Via o orvalho no regaço

E o vento lhe respondendo.

Cada canto e cada flor

Era um sinal do Criador.


Um espírito da palmeira

Veio em forma reluzente,

Disse: “Sou tua companheira,

Guardo o sopro e a semente.

Meu tronco é ponte e memória,

Guarda em ti nossa história.”


Da pedra surgiu o canto,

Rijo, firme, retumbante:

“Sou o tempo em manto santo,

Sou o início e o constante.

De mim nasceram montanhas,

E os rios que tu acompanhas.”


Da floresta veio o rugido,

Da onça, o olhar que brilha,

“Sou guardiã do sentido,

Da força que não se humilha.

Em mim mora o coração,

Da coragem e da paixão.”


Da água, um brilho fluía,

Correndo entre a vegetação,

“Sou quem limpa e renascia,

Sou ventre e purificação.

Sem mim o mundo é deserto,

Comigo, tudo é desperto.”


O vento soprou ligeiro,

Como amigo e professor,

“Semeia com o tempo inteiro,

Ouve o som do teu interior.

Nada é morto, nada é vão,

Tudo tem alma e pulsação.”


Os mestres se revelaram

Em cantos de sabedoria,

Com eles os dons ficaram

Como joias de harmonia.

O aprendiz da criação

Já sentia o chão em canção.


E o Sol, lá do horizonte,

Abraçou-lhe o coração,

Dizendo em fogo e monte:

“Segue a tua missão,

Pois o saber que recolheste

Será o fruto celeste.”


Assim cresceu o menino,

Em alma e entendimento,

Fez-se sábio e divino,

Guardando o conhecimento.

Do chão, do ar e da vida,

Fez sua fé esclarecida.


🌎 CAPÍTULO IV – OS ESPÍRITOS DA TERRA


No silêncio da montanha,

Ouviu vozes ancestrais,

Cantavam numa campanha

Os antigos rituais.

Era o som dos “dja” guardiões,

Senhores das criações.


Yvýdja, da terra forte,

Falou com voz retumbante:

“Eu sustento vida e morte,

Sou mãe e sou constante.

Quem me ama e me respeita,

Tem a colheita perfeita.”


Yvyradja, das florestas,

Cantou entre folhas e ninhos:

“Sou morada das arestas,

Das aves e dos caminhos.

Sou sombra e sou guarida,

Sou casa da tua vida.”


Itadja, espírito das pedras,

Falou em tom mineral:

“Sou muralha e sou reservas,

Sou a base universal.

Em mim mora o eco antigo,

Sou abrigo e sou abrigo.”


Yydja, guardião das águas,

Riu em curso de corrente:

“Sou cura das velhas mágoas,

Sou espelho transparente.

Quem comigo faz aliança,

Renova a fé e a esperança.”


Ywyra’idja, da planta,

Falou com doçura e flor:

“Minha folha te encanta,

Minha raiz é amor.

Sou o sopro vegetal

Que te liga ao natural.”


E o aprendiz Tupãmirim,

De joelhos, se curvou,

Com respeito e com afim,

Aos mestres que encontrou.

Prometeu guardar memória

De toda a viva história.


O trovão, de lá do céu,

Bateu palma e respondeu:

“Vês, menino, o grande véu?

Agora tudo compreendeu.

A Terra é uma só alma,

Cuidá-la é tua calma.”


Nas matas, no rio e na serra,

Tupãmirim entendeu o porquê:

A força que move a Terra

É o amor que vive em você.

Quem ouve o vento com fé

Conhece o que o mundo é.



🪶 CAPÍTULO V – A CRIAÇÃO DA MARACA SAGRADA


Na beira de um rio sereno,

Tupãmirim repousava,

O coração puro e ameno,

No som da mata escutava.

Um canto vinha do chão,

Chamando sua atenção.


As pedras, com voz discreta,

Sussurravam-lhe o segredo:

“Cria o som que interpreta

A vida, o amor e o medo.

Com o sopro e o pulsar,

Faz o mundo despertar.”


Ele buscou uma cabaça,

Rodeada de verde e flor,

E sentiu que ali se enlaça

O poder do Criador.

Dentro pôs sementes vivas,

De formas puras, altivas.


Tomou um galho sagrado,

Do tronco da palmeira antiga,

E, em gesto consagrado,

Pediu licença à amiga:

“Serás haste de oração,

Que vibra em cada canção.”


Quando uniu haste e cabaça,

O vento soprou devagar,

E a mata em canto passa,

Querendo também dançar.

Era o sinal da harmonia,

Entre o homem e a magia.


Ergueu a maraca aos céus,

Com respeito e devoção,

E em meio a tantos véus,

Sentiu nova vibração.

A Terra toda tremia,

Mas sorria em alegria.


Então cantou o primeiro hino,

Que a mata toda escutou,

E o som puro e cristalino

No universo ecoou.

O canto virou corrente,

Unindo céu e semente.


A lua brilhou mais forte,

O Sol piscou em clareza,

Pois o canto era o transporte

Da divina natureza.

A maraca agora soava,

E o mundo todo vibrava.


No balanço do instrumento,

O som fez-se criação,

E o vento, no movimento,

Gerou a multiplicação.

O sagrado se expandia,

No ritmo da alegria.


🌱 CAPÍTULO VI – AS SEMENTES QUE VIRAM CRIANÇAS


Com a maraca sagrada em mãos,

Tupãmirim começou o canto,

E as forças dos guardiões

Ressoaram em cada encanto.

O mundo então se enchia,

De pura melodia.


As sementes, em seu ventre,

Tremiam no compasso do som,

E do pó brotou o vivente,

Como flor que nasce do dom.

Do chão surgiram meninos,

Brilhando em destinos divinos.


Eram filhos da floresta,

Do rio, do vento e do chão,

Cada rosto uma festa,

Cada olhar, revelação.

E o canto ecoava em roda,

Como quem o céu decora.


Os anciãos lá do alto,

Viram o feito encantado,

E o trovão, num grande salto,

Soou bem-aventurado.

“Nasceu a primeira tribo,

Da canção, do tempo vivo.”


Tupãmirim, emocionado,

Abraçou os pequeninos,

Com olhar iluminado

E sorriso cristalino.

“Vocês são da Terra o salmo,

Seres de amor e de calma.”


As águas fizeram dançar,

Os peixes e as borboletas,

E a lua veio iluminar

As faces puras e perfeitas.

O canto virou celebração,

Ritual da criação.


Cada criança trazia

Um dom do mundo ancestral,

Um do vento, outro do dia,

Outro da noite estelar.

Cada alma em harmonia,

Com o Sol e a maresia.


Tupãmirim então cantou:

“Vive o som que nos uniu!

O amor de Tupã criou,

Tudo o que aqui surgiu.”

E as matas responderam:

“Somos vida, e te acolheram.”


Assim nasceu a aldeia,

Do canto, da fé, da união,

Pura, livre, sem cadeia,

Na força da criação.

E a lua, suave e bela,

Foi madrinha daquelas.



🌙 CAPÍTULO VII – O SURGIMENTO DE KUNHÃ YACY


Do silêncio do firmamento,

Veio um canto em resplendor,

Um doce e leve alento

Do ventre do Criador.

O ar parou pra escutar

A mulher que ia chegar.


Era a luz em forma bela,

Era o brilho da manhã,

O luar fez-se capela

E o rio virou manhã.

O mundo inteiro parava,

Pois Yacy já despertava.


Das águas, ela emergiu

Com flores nos cabelos,

E o vento então a ouviu,

Correndo pra recebê-la.

Em seu olhar reluzia

A força da harmonia.


Kunhã Yacy — nome dado

Pelo sopro de Tupã,

Que viu nela o traçado

Do amor que a vida tem.

Seu corpo era claridade,

Seu canto, a eternidade.


O Sol saudou seu nascer,

O trovão bateu tambor,

E a floresta em seu poder

Sentiu o broto do amor.

Era a Mãe de toda vida,

A Mulher primordial nascida.


Yacy tocou na maraca

De Tupãmirim sagrado,

E o som, que a mata ataca,

Virou eco encantado.

Ali se uniam no som

O feminino e o dom.


Ela dançou sobre o chão,

Pisando leve na areia,

E em cada vibração

Brotava a essência da aldeia.

De sua dança nasceram

As ervas que curam e enfeitam.


No seu canto havia o poder

De curar, gerar e ensinar,

De fazer o tempo entender

Que a vida é o pulsar.

Yacy trouxe o equilíbrio,

Entre o fogo e o brilho.


E Tupãmirim, com ternura,

Viu na lua seu semblante,

Na mulher, toda a doçura

Da energia constante.

O mundo então compreendeu:

A lua é o rosto que Deus deu.


☀️🌙 CAPÍTULO VIII – O ENCONTRO DO SOL E DA LUA


O tempo seguiu seu compasso,

E o dia buscou a noite,

O Sol abriu seu abraço,

E o céu virou açoite.

Mas no meio dessa dança,

Nasceu a eterna aliança.


Tupãmirim olhou o céu

E viu Yacy reluzente,

Seu brilho formava um véu

Sobre o mundo nascente.

O Sol sentiu-se chamado,

Por um amor consagrado.


Subiu o fogo dourado,

Descendo o luar prateado,

E o encontro abençoado

Fez-se luz por todo lado.

O firmamento incendiava,

E o universo festejava.


O dia se fez encantado,

A noite virou canção,

E o povo recém-criado

Celebrou essa união.

Era o amor do divino

Gerando o destino.


Yacy, com sua brandura,

Disse ao Sol: “És meu irmão,

Mas também és minha ternura,

Meu espelho e direção.”

E o Sol respondeu contente:

“Teu brilho vive em minha mente.”


E assim, cada amanhecer,

É o beijo do Sol ardente,

E cada lua a florescer

É o toque da mulher crente.

Na dança do céu e do chão,

Nasceu a renovação.


Do encontro do Sol e da Lua,

Vieram tempos e estações,

A vida ficou mais nua

De vaidades e ilusões.

O tempo virou semente,

No ciclo eternamente.


Os astros, em harmonia,

Seguiram seu ritual,

Cada um com sua energia,

Cada brilho especial.

Yacy e o Sol, no espaço,

Mantêm o eterno abraço.


E desde esse instante antigo,

Toda noite e todo dia

Guardam no ar o abrigo

Da divina melodia.

É por isso que o céu brilha,

E o mundo ainda se filha.



🌠 CAPÍTULO IX – O POVO DAS ESTRELAS


Das chamas do céu profundo,

Tupãmirim levantou,

Um sopro varreu o mundo,

E a noite se iluminou.

Mil pontos de luz brilhante

Bordaram o firmamento vibrante.


Yacy, com mãos delicadas,

Tocou o manto da escuridão,

E as luzes foram chamadas

Pra habitar o coração.

De cada ponto celeste,

Nasceu um ser que resplandece.


O Povo das Estrelas, puro,

Veio com cantos e guias,

Guardando o tempo maduro

Das antigas profecias.

E no brilho das constelações,

Moravam suas canções.


Cada estrela tem um nome,

Cada brilho é um irmão,

Uns trazem a força do homem,

Outros, da inspiração.

E juntos formaram a trilha

Da vida que hoje brilha.


Vieram ensinar os passos,

Do tempo e da harmonia,

A viver sem tantos laços,

Com amor e sabedoria.

Trouxeram o dom do luar,

Pra o povo aprender a sonhar.


Tupãmirim, emocionado,

Viu no céu sua criação,

E com um gesto consagrado,

Fez um pacto de união.

“Serão guias do caminho,

Luzes do povo e do ninho.”


Assim surgiram os astros,

Como irmãos de quem caminha,

Guiando guerreiros e mastros

Das canoas na campina.

No brilho de cada estrela,

Há uma alma que se revela.


Desde então, toda criança,

Ao nascer, ganha um clarão,

Uma estrela que a balança

Nas noites do coração.

O Povo das Estrelas sagrado,

É o tempo encantado.


E Yacy sorriu contente,

Vendo o céu se enfeitar,

Cada ponto reluzente

Era um sonho a brilhar.

O mundo então entendeu,

Que o espírito também nasceu.


🔥🌕 CAPÍTULO X – O CÍRCULO DA PRIMEIRA DANÇA


No alvorecer da nova era,

Quando o fogo já crescia,

A Terra, sagrada e sincera,

Chamou o povo pra harmonia.

Era o tempo do primeiro canto,

Do amor, da força e do encanto.


Tupãmirim soprou o vento,

E Yacy tocou o tambor,

Nasceu o ritual do tempo,

A dança do Criador.

Cada passo era oração,

Cada gesto, consagração.


Os povos, ao redor do chão,

Formaram o círculo da vida,

E no centro, em vibração,

Brilhou a luz incontida.

Era o fogo, era o som,

Era o início do dom.


As maracas ressoavam,

O chão todo estremecia,

Os tambores anunciavam

Que a Terra agora nascia.

Do canto e da união,

Brota toda geração.


Kunhã Yacy conduzia,

Com passos de lua e flor,

E Tupãmirim respondia

Com raios de puro ardor.

Assim se selou no ar

O ciclo de criar e amar.


As árvores, em coro verde,

Cantaram em sintonia,

Os rios dançavam na sede

Da divina melodia.

A natureza inteira sentiu

Que o Criador se reuniu.


E o povo aprendeu sorrindo,

Que dançar é se curar,

Que o corpo, no seu giro lindo,

É alma a se revelar.

O círculo é o tempo vivo,

O começo e o motivo.


Tupãmirim e Kunhã Yacy,

De mãos dadas, em clarão,

Ergueram o que se vici:

A primeira geração.

Os homens, filhos do chão,

As mulheres, do coração.


No fim da dança sagrada,

O fogo acalmou seu ardor,

E a Terra ficou marcada

Pela força do amor.

Assim nasceu a memória,

Do início de nossa história.


E quem hoje dança em roda,

Recria o tempo ancestral,

Pois a energia que brota

É força universal.

O círculo da vida avança,

Na eterna Primeira Dança.



🌺 EPÍLOGO POÉTICO — O RETORNO À LUZ DE TUPÃ


Silêncio pousou no chão,

E o vento parou pra ouvir,

O canto da Criação,

Que não deixa o tempo ir.

Pois tudo o que foi cantado,

Permanece consagrado.


Tupãmirim, luz alada,

Viu do céu o povo em festa,

A Terra abençoada,

Na harmonia manifesta.

E Yacy, com seu luar,

Continuava a velar.


O fogo guardou o brilho,

O rio embalou canções,

E o céu, em tom de exílio,

Guardou mil gerações.

A palavra, que é raiz,

Fez do mundo o seu país.


As estrelas, testemunhas,

Brilharam em devoção,

Relembrando as antigas cunhas

Da primeira criação.

E o som da maraca antiga

Ecoou na alma amiga.


Cada ser da natureza,

Do pássaro ao beija-flor,

Tem guardado a singeleza

Da canção do Criador.

Pois tudo o que nasce e cresce

De Tupã ainda carece.


E o povo da Terra entende,

No sonho, no rio e no chão,

Que a vida, quando se estende,

É parte da Criação.

Somos luz em caminhada,

Filhos da aurora encantada.


Assim o mito termina,

Mas o canto não se encerra,

Pois quem ouve, se ilumina,

E renasce sobre a Terra.

Cada verso é oração,

Cada rima é coração.


Que o espírito de Tupã

Nos guie por noite e dia,

E que Yacy, doce irmã,

Nos banhe em melancolia.

Que o Sol e a Lua, em união,

Protejam toda geração.


📜 NOTA DE FONTES — O CANTO DAS RAÍZES


Pra que o verso tenha o chão

E a memória tenha estrada,

Revelo a inspiração

Da pesquisa consagrada.

Fontes que o saber semeia,

Como semente na aldeia.


Do Guairá veio o registro,

De León Cadogan, com fé,

Que ouviu o canto mais místico

Dos Mbya em Ayvu Rapyta.

Lá o verbo era vivo,

E o espírito, cativo.


De Davi Kopenawa vem

A palavra do xamã,

Que nos fala do que tem

Por trás do Céu e de Tupã.

Com Bruce Albert escreveu,

A Queda do Céu se leu.


Véra Niemeyer guardou

Os mitos de cada nação,

Com amor nos revelou

A vida e a criação.

Na Paulus deixou plantado

O mito bem estudado.


De Aracy Lopes da Silva,

Histórias de tempo e chão,

Dos donos da terra altiva,

E a força da tradição.

Com Manuela organizou

O saber que floresceu.


E Lévi-Strauss, o francês,

Com seu olhar pensador,

Viu o mundo com altivez,

Chamou “selvagem” o sabor.

Mas no fundo ele entendeu,

Que o mito é filho do eu.


Essas vozes ancestrais,

De papel e coração,

Hoje são nossos currais

Da sabedoria e canção.

No cordel deixo em lembrança,

O saber vira esperança.


E assim fecho este roteiro,

Em respeito à tradição,

Do mito ao verso primeiro,

Canto com devoção.

Pois Tupãmirim me inspira,

E Yacy minha alma mira.


✨🌿





TUPÃMIRIM E KUNHÃ YACY EM CORDEL

Por Nhenety Kariri-Xocó


Um livro que não se lê — se escuta.

Um rito que não se encerra — se renova.

Um canto que não morre — retorna à aldeia do coração.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 








sábado, 4 de outubro de 2025

O CICLO DE TUPÃ-MIRIM NA CRIAÇÃO DO MUNDO VIVO, Por Nhenety Kariri-Xocó





🌺 DEDICATÓRIA POÉTICA


Dedico aos povos primeiros,

Guardiões do chão sagrado,

Que cantam ao som dos ventos

O verbo eternizado.

Que o canto de Tupã-Mirim

Seja em nós sempre lembrado.


Dedico ao avô das matas,

Ao sopro, ao fogo e ao rio,

Aos que guardam a floresta

Com coração e brio.

E à palavra encantada

Que desperta o sol do frio.


🌿 ÍNDICE POÉTICO


1️⃣ Abertura — O Som da Criação

2️⃣ Prólogo Poético — A Luz de Tupã-Mirim

3️⃣ Capítulo I — A Chegada em Espírito

4️⃣ Capítulo II — O Encontro com os Mestres

5️⃣ Capítulo III — A Materialização do Corpo

6️⃣ Capítulo IV — A Criação dos Animais e das Plantas

7️⃣ Encerramento — O Verbo e o Maracá

8️⃣ Epílogo Poético — A Canção Eterna do Ser

9️⃣ Nota de Fontes — Vozes da Tradição


☀️ ABERTURA – O SOM DA CRIAÇÃO


No ventre azul do silêncio,

O mundo ainda dormia,

Nem rio, nem som, nem estrela,

Nem canto que o movia.

Até que o verbo celeste

Com o vento se reunia.


Foi quando um raio de fogo

Cortou o véu do infinito,

E o trovão de Tupã ecoou

Chamando o primeiro rito.

Do sopro nasceu o tempo,

E o espaço ficou bonito.


🌤️ PRÓLOGO POÉTICO – A LUZ DE TUPÃ-MIRIM


Do coração de Tupã,

Saiu um brilho menino,

Um ser pequeno e divino,

De destino cristalino.

Chamaram-no Tupã-Mirim,

O filho do sol destino.


Era verbo e melodia,

Era raio e oração,

Carregava em sua essência

Do mundo a vibração.

E trazia em suas mãos puras

O maracá da criação.


Com cada som que pulsava,

A terra se agitava inteira,

Pois o som era palavra

E a palavra, sementeira.

Assim nasceu o caminho,

Entre a névoa e a esteira.


🌈 CAPÍTULO I – A CHEGADA EM ESPÍRITO


No princípio, o céu dormia,

E a Terra, em sombra envolvida,

Guardava em seu ventre o canto

Da criação não nascida.

Tudo era calma profunda,

Luz ausente e voz contida.


Do coração de Tupã

Partiu o sopro divino,

Que viajou por entre os ventos

Buscando o chão cristalino.

E no sopro veio o filho,

Tupã-Mirim, pequenino.


Desceu em forma de névoa,

Com brilho de madrugada,

Era luz que andava o tempo,

Era voz encantada.

Seu corpo era som e vento,

Sua alma, alvorada.


Tinha nas mãos um maracá,

De estrela e trovão forjado,

Que vibrava entre os espaços

Como um sonho entoado.

A cada toque nascia

Um novo ser acordado.


Do giro veio o murmúrio

Que despertou os regatos,

As pedras se estremeceram,

E surgiram novos matos.

O canto rasgou o abismo,

Gerando os primeiros atos.


O som tornou-se palavra,

A palavra virou chão,

O chão pariu os caminhos,

E deles brotou o pão.

Assim nascia o mistério

Do verbo em vibração.


O maracá pulsava forte,

Chamando o tempo e o ar,

A brisa virou o sopro,

E o sol começou a brilhar.

O som do trovão distante

Anunciava o despertar.


E o pequeno Tupã-Mirim,

Filho da luz soberana,

Semeou com suas notas

A vida que o mundo emana.

Onde antes era o nada,

Surgiu a seiva humana.


Seu canto fez os rios,

E o eco chamou a lua,

As pedras tornaram-se veias,

E a água seguiu contínua.

O mundo abriu seus olhos,

E a criação era sua.


🔥 CAPÍTULO II – O ENCONTRO COM OS MESTRES


Nas brumas do firmamento,

Entre o tempo e o clarão,

Seguiu Tupã-Mirim leve

Em busca da iniciação.

Pois sabia que a pureza

Pede voz e direção.


Três mestres o aguardavam

No templo do firmamento,

Guardando o fogo, o sopro

E o amor em sentimento.

Cada um trazia um dom

E um profundo ensinamento.


O primeiro era Karai,

Mestre da chama celeste,

Com olhos de fogo antigo

E palavra que não se veste.

“Aprende, filho, o poder

Do verbo que tudo investe.”


“Da boca nasce o trovão,

Da mente brota a centelha,

O verbo é raio e caminho,

É raiz, chão e orelha.

Com ele se molda o mundo,

E o céu se torna telha.”


Depois veio Jakairá,

Senhor dos ventos sagrados,

Com cabelos como nuvens

E gestos abençoados.

Soprava e fazia dançar

Os espíritos encantados.


“Escuta, filho do céu,

O segredo do soprar,

Quem sabe ler o silêncio

Sabe o mundo transformar.

O vento é a ponte viva

Entre o verbo e o sonhar.”


Por fim surgiu Rudá, doce,

De sorriso maternal,

Trazia nas mãos sementes,

Perfume espiritual.

“Aprende, pequeno irmão,

O amor universal.”


“Tudo cresce pela ternura,

Tudo vive pelo afeto,

Quem planta com coração

Faz brotar o sol completo.

O amor é a raiz primeira

Do ser que é puro e reto.”


Tupã-Mirim ouviu atento,

Guardando o saber divino,

Do fogo, aprendeu o verbo,

Do vento, o caminho fino,

E do amor, a semente

Que faz eterno o destino.


Cumpridos os três ensinos,

O pequeno se despiu,

Morreu simbolicamente

E em espírito ressurgiu.

Estava pronto e inteiro,

Seu ciclo então se abriu.


Com a bênção dos três mestres,

Recebeu nova missão,

Habitar o corpo terreno,

Ser a vida em encarnação.

Do verbo, faria o templo,

Do canto, a criação.


🌎 CAPÍTULO III – A MATERIALIZAÇÃO DO CORPO


Cumprido o ciclo divino,

Do céu ao ventre da Terra,

Tupã-Mirim se prepara

Pra encarnar sem mais espera.

Seu espírito em silêncio

O universo já encerra.


Na beira do rio sagrado,

Tomou da argila vermelha,

Misturou água e lembrança,

Fez-se barro, fez-se telha.

Modelou-se em forma humana,

E a luz tornou-se centelha.


Do sopro nasceu a vida,

Do fogo veio o calor,

Da terra, a firme morada,

Do vento, o rumor de amor.

E o corpo foi sua casa,

Morada do Criador.


As árvores lhe deram sombra,

As nuvens, véu de oração,

Os rios lavaram seus pulsos,

O sol beijou-lhe a visão.

E o corpo se ergueu vivo,

Entre o sonho e o chão.


Seus cabelos — sombra antiga

Da mata que o acolheu,

Seus olhos — luz das estrelas

Que o próprio céu concedeu.

Na carne vibrou o verbo

Que em trovão o moveu.


O maracá foi colado

À palma da sua mão,

Virou extensão da palavra,

Som do cosmos e do chão.

Era a voz da eternidade,

Em gesto e vibração.


Com o maracá, o pequeno

Despertou novos lugares,

Traçou rios invisíveis,

Chamou seres singulares.

E o corpo, recém-nascido,

Fazia o mundo dançar.


O tempo curvou-se ao canto,

A brisa aprendeu rezar,

Os bichos ouviram atentos

O eco a se propagar.

E a Terra tornou-se templo

Pra vida germinar.


Desde então, corpo e espírito

São um só no seu querer,

Pois na carne vive a alma

E na alma vibra o ser.

Assim Tupã-Mirim mostra

O sentido de nascer.


E o homem, em sua forma,

Traz do céu a vibração,

É metade estrela e fogo,

Metade barro e chão.

É o elo entre dois mundos,

Guardiões da criação.


🌳 CAPÍTULO IV – A CRIAÇÃO DOS ANIMAIS E DAS PLANTAS


Com o corpo já desperto,

E o verbo em suas entranhas,

Tupã-Mirim caminhava

Entre florestas e montanhas.

O maracá, nas batidas,

Chamava formas estranhas.


Primeiro tocou os rios,

E as águas começaram a rir,

Do riso nasceram peixes

E o brilho veio a florir.

As correntezas dançavam,

Pedindo pra não dormir.


Depois soprou sobre o vento,

E das nuvens veio o canto,

As aves surgiram leves,

Voando por todo o manto.

O céu ficou mais bonito,

Colorido e sacrossanto.


Pisou firme sobre a terra,

E das pedras veio o rugido,

Nasceram bichos da mata,

Cada qual bem definido.

Uns fortes como o trovão,

Outros calmos, bem nascidos.


Falou para as flores mansas,

E o chão abriu-se em cor,

As árvores se ergueram,

Ofertando sombra e flor.

Da seiva brotou o doce

Do mel, raiz e sabor.


Com palavras encantadas

Criou tempos e estações,

Primavera, outono e inverno,

E as flores em mutações.

Tudo tinha o seu ciclo,

Guiado por corações.


O sol recebeu seu posto,

A lua o seu caminhar,

As marés se equilibraram,

No toque do seu cantar.

E a noite virou descanso,

O dia, força no ar.


Tupã-Mirim ensinava

A cada ser a função,

Ao pássaro — o voo e o canto,

Ao rio — a purificação.

A tudo dava um sentido,

Um destino e uma missão.


Depois mostrou aos seus filhos

Que tudo é parte de um todo,

Que o vento precisa da água,

E a vida não vive em modo.

Quem desrespeita o equilíbrio

Chora no mesmo lodo.


Assim se fez a harmonia

Entre o visível e o além,

Tudo pulsa, tudo sente,

Tudo é irmão, tudo é bem.

E o homem, filho do barro,

É parte desse também.


Por fim, guardou no silêncio

A reza do bem viver,

Deu ao povo a sabedoria

De plantar e florescer.

E o maracá, em seu canto,

Continuou a nascer.



🌅 ENCERRAMENTO – O VERBO E O MARACÁ


Assim nasceu o universo,

Entre canto e oração,

Entre verbo e maracá,

Somando corpo e visão.

Tupã-Mirim, ser primeiro,

Fez da voz sua missão.


O maracá é lembrança

Da batida do universo,

Cada reza é continuação

Desse canto imerso.

E o povo originário

Guarda o mito em verso.



🌺 DEDICATÓRIA POÉTICA


Dedico aos povos primeiros,

Guardiões do chão sagrado,

Que cantam ao som dos ventos

O verbo eternizado.

Que o canto de Tupã-Mirim

Seja em nós sempre lembrado.


Dedico ao avô das matas,

Ao sopro, ao fogo e ao rio,

Aos que guardam a floresta

Com coração e brio.

E à palavra encantada

Que desperta o sol do frio.


🌿 ÍNDICE POÉTICO


1️⃣ Abertura — O Som da Criação

2️⃣ Prólogo Poético — A Luz de Tupã-Mirim

3️⃣ Capítulo I — A Chegada em Espírito

4️⃣ Capítulo II — O Encontro com os Mestres

5️⃣ Capítulo III — A Materialização do Corpo

6️⃣ Capítulo IV — A Criação dos Animais e das Plantas

7️⃣ Encerramento — O Verbo e o Maracá

8️⃣ Epílogo Poético — A Canção Eterna do Ser

9️⃣ Nota de Fontes — Vozes da Tradição


☀️ ABERTURA – O SOM DA CRIAÇÃO


No ventre azul do silêncio,

O mundo ainda dormia,

Nem rio, nem som, nem estrela,

Nem canto que o movia.

Até que o verbo celeste

Com o vento se reunia.


Foi quando um raio de fogo

Cortou o véu do infinito,

E o trovão de Tupã ecoou

Chamando o primeiro rito.

Do sopro nasceu o tempo,

E o espaço ficou bonito.


🌤️ PRÓLOGO POÉTICO – A LUZ DE TUPÃ-MIRIM


Do coração de Tupã,

Saiu um brilho menino,

Um ser pequeno e divino,

De destino cristalino.

Chamaram-no Tupã-Mirim,

O filho do sol destino.


Era verbo e melodia,

Era raio e oração,

Carregava em sua essência

Do mundo a vibração.

E trazia em suas mãos puras

O maracá da criação.


Com cada som que pulsava,

A terra se agitava inteira,

Pois o som era palavra

E a palavra, sementeira.

Assim nasceu o caminho,

Entre a névoa e a esteira.


🌈 

🌅 ENCERRAMENTO – O VERBO E O MARACÁ


Assim nasceu o universo,

Entre canto e oração,

Entre verbo e maracá,

Somando corpo e visão.

Tupã-Mirim, ser primeiro,

Fez da voz sua missão.


O maracá é lembrança

Da batida do universo,

Cada reza é continuação

Desse canto imerso.

E o povo originário

Guarda o mito em verso.


🌕 EPÍLOGO POÉTICO – A CANÇÃO ETERNA DO SER


Hoje, quando o vento canta

E a floresta se acende,

O sopro de Tupã-Mirim

Entre as folhas se estende.

A vida é reza contínua,

E o sagrado nos entende.


Quem escuta a natureza

Ouve o mesmo coração,

Pois o maracá ressoa

Em toda geração.

E o verbo que cria o mundo

É o mesmo da criação.


📚 NOTA DE FONTES – VOZES DA TRADIÇÃO


Das páginas do saber,

Trago viva inspiração,

Das palavras ancestrais

Que moldaram a canção.

Ouçam os nomes sagrados

Que guiam esta oração:


Kopenawa, voz da selva,

Xamã do céu e da flor,

Com Bruce Albert escreveu

Palavras de um trovador:

“A Queda do Céu” ressoa

No espírito e no amor.


Nimuendajú, guardião

Dos mitos do Guarani,

Com saber e coração,

Mostrou o início daqui.

Os “Apapocúva” lembram

O que habita dentro em si.


Câmara Cascudo, mestre

Do folclore e da memória,

Registrou no seu “Dicionário”

A raiz da nossa história.

Por ele o canto indígena

Permanece em nossa glória.


E Regina Duarte ensina

O encanto dos mitos mil,

Mostrando em cada palavra

O poder do povo gentil.

Do “Mundo dos Mitos Índios”,

Brota o espírito sutil.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó